From usa, with love : desenvolvimento, extensão rural e gênero

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Figueiró, Lucas Woltmann
Orientador(a): Radomsky, Guilherme Francisco Waterloo
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/183301
Resumo: Essa pesquisa consiste no estudo de marcadores sociais da diferença de gênero na história da Associação Rio-Grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER/RS-ASCAR). Semelhante ao modelo gestado nos Estados Unidos da América no início do século XX, a Associação reproduziu uma divisão social do trabalho definida com base na naturalização de características tidas como masculinas ou femininas: de um lado, a área agrícola ou agropecuária (“técnica”) que associava o homem a aspectos produtivos, de outro, a área de economia doméstica ou bem-estar social (“social”) que ligava a mulher a atividades domésticas-reprodutivas, incluindo seus/suas mediadores/as e assistidos/as. Pela pouca atenção que a literatura científica deu a esse esquema de gênero e, especialmente, à área “social”, passei a questionar: que espaços a mulher e a área “social” ocuparam ao longo da história da EMATER/RS-ASCAR e através de que meios e práticas representacionais a diferença de gênero ganhou significado? Que implicações isso trouxe à Associação? Buscando responder essas questões realizei análises documentais e entrevistas junto a quinze colaboradoras/es da Associação, material interpretado a luz de conceitos e problemas ligados a gênero e ao discurso do desenvolvimento. As análises sugerem que, em virtude da racionalidade biopolítica que justificou a abordagem dual do esquema de gênero, a área “social” ocupou um espaço secundário e complementar frente às ocupações produtivas. No que tange às representações, nos EUA e no Brasil inicialmente a mulher foi associada a esfera doméstica e naturalizada como responsável pela manutenção da saúde e da moral da família rural, devendo irradiar condutas e conhecimentos mais adequados segundo os paradigmas modernos ocidentais. A intervenção das mediadoras da área “social” deveria reforçar o cumprimento dessa função, o que seria obtido através de visitas individuais, organização de grupos de mulheres e na realização de palestras, seminários e demonstrações sobre temas relacionados à saúde, higiene, alimentação, vestuário e administração do lar, o que não impediu que, em alguns casos, fossem promovidos valores críticos e emancipatórios. Com as críticas que a extensão rural sofreu a partir década de 1980 e, em especial, a dúvida sobre a certificação que garantia as prerrogativas e benefícios da ASCAR como entidade beneficente de assistência social em 1992, o campo de atuação da área “social” e as proposições à mulher rural foram compelidas a mudar. Buscando se adequar aos preceitos da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), a partir de 2002 os discursos do trabalho voltado à mulher rural gradualmente foram reorientados para a busca de sua inclusão social e produtiva, articulando temas chave como violência intrafamiliar, agência política e dimensão produtiva, transbordando antigas representações que reduziam a mulher à função social de mãe e esposa. No entanto, em virtude de resistências de parte das assistidas e extensionistas, das incertezas sobre o papel a ser cumprido face a ampliação e complexificação do campo de trabalho “social” e da diversificação do quadro funcional em termos de gênero, formação e trajetória, a abordagem voltada à mulher rural passou a ser disputada. Isso revela um tempo híbrido do campo “social” onde velhas e novas necessidades e proposições que deram sentido à história da EMATER/RS-ASCAR se acumulam, gerando dúvidas sobre o tipo de mediação social a ser cumprida pelas/os extensionistas.