Variabilidade genética, demografia, história populacional e comportamento em populações de Sapajus libidinosus

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Cantele, Camila
Orientador(a): Bortolini, Maria Cátira
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/212078
Resumo: Macacos-prego da espécie Sapajus libidinosus são amplamente conhecidos pelo uso regular de ferramentas nos biomas brasileiros do Cerrado e da Caatinga. Os principais relatos de uso de ferramentas por S. libidinosus provêm do Parque Nacional Serra da Capivara (SCNP), Piauí, Brasil. Dados arqueológicos mostram que eles utilizam ferramentas para acessar recursos alimentícios há ~3.000 anos, o que denota continuidade no tempo, indicando a existência de uma cultura autóctone adaptativa estável. Além disso, S. libidinosus que vivem em cativeiro e em ambientes semilivres, como os do Parque Ecológico do Tietê (TEP), também são conhecidos por usarem ferramentas. Neste trabalho, sequenciamos o gene mitocondrial CYTB de S. libidinosus (N = 40) e de outras espécies para identificar a relação filogenética de S. libidinosus com outros macacos da parvordem Platyrrhini (macacos do Novo Mundo, ou NWMs, do inglês New World Monkeys). Além disso, identificamos a variabilidade genética desta espécie em relação à região codificadora de genes do sistema oxitocinérgico, modulador particularmente de comportamentos complexos e fisiológicos relacionados a reprodução. Nós relatamos pela primeira vez a variante de OXT para outras 20 espécies de NWMs, buscando avançar o conhecimento sobre a extensão da variabilidade desse importante sistema em primatas. A análise do CYTB revelou que os indivíduos de S. libidinosus do SCNP e TEP aparecem na árvore filogenética na posição esperada em relação a outros primatas, mais próximos de Sapajus flavius. Para a população de S. libidinosus do SCNP, as análises Median Joining Network e Bayesian Skyline Plot, e os testes D de Tajima e Fs de Fu indicam uma relativamente recente expansão demográfica (<10.000 anos atrás); enquanto para a população do TEP foi observado um leve declínio no tamanho efetivo da população, com nenhuma indicação de reversão em épocas mais recentes condizentes com a criação do Parque, de acordo com a análise de Bayesian Skyline Plot. Dados do CYTB no TEP não indicaram híbridos com outras espécies do gênero Sapajus, porém, devido à natureza da herança mitocondrial, esse fenômeno não pode ser descartado quando há cruzamentos assimétricos. Devido ao fato de que o desenvolvimento da cultura no SCNP coincide com o intervalo de tempo em que o clima semiárido na Caatinga se estabeleceu (6.000-2.000 mil anos), bem como com a expansão populacional, mediado pelas fêmeas, sugerimos que esses eventos possam estar relacionados, embora a exata razão do gatilho seletivo, que levou a 9 inovação e ao estabelecimento da cultura, ainda seja controversa. A espécie S. libidinosus apresenta a variante funcional Pro8OXT, que está associada ao cuidado parental masculino direto, bem como a monogamia social nos NWMs. Os machos de S. libidinosus não cuidam diretamente da prole, mas são reconhecidamente tolerantes com os infantes que se aproximam, o que favorece o aprendizado social e a transmissão cultural do uso de ferramentas ao longo das gerações. Quanto aos receptores, merece destaque que na posição 62 de AVPR1b (importante mediador no controle da agressividade, ansiedade e estresse) há variabilidade interespecífica e intraespecífica, indicando polimorfismo populacional pelo menos na população de S. libidinosus do SCNP. Sapajus libidinosus apresenta também uma deleção dos aminoácidos 245 a 248, característica do clado Platyrrhini, mas somente estudos adicionais poderão indicar se as variações encontr Sapajus libidinosus apresenta também uma deleção dos aminoácidos 245 a 248, característica do clado Platyrrhini, mas somente estudos adicionais poderão indicar se as variações encontradas no receptor AVPR1b são funcionais e adaptativas. Nossos dados, embora preliminares, fornecem o primeiro relato da variabilidade genética e história demográfica das populações de S. libidinosus do Parque Nacional Serra da Capivara e do Parque Ecológico do Tietê, revelando aspectos até então desconhecidos dessa espécie, fascinante também por sua cultura.