Variações intra e interespecíficas nas estratégias de forrageio de Sula spp. (Suliformes: Sulidae) no Oceano Atlântico tropical

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Souza, Júlia Jacoby de
Orientador(a): Nunes, Guilherme Tavares
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: eng
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/281688
Resumo: Oceanos tropicais são ambientes tipicamente oligotróficos, com recursos distribuídos de forma irregular no espaço e no tempo. Essa irregularidade na disponibilidade de presas faz com que adaptações em estratégias de forrageio e partição de nicho sejam essenciais para a sobrevivência de predadores, como as aves marinhas. Esse grupo tende a se reproduzir em colônias multiespecíficas e utiliza recursos no entorno da colônia, especialmente durante o período reprodutivo. A reprodução representa um momento intensa exploração de recursos para suprir demandas energéticas dos pais e do filhote. Assim, um comportamento de forrageio plástico permite que as aves marinhas se adaptem a variações espaço-temporais tanto em nível intra quanto interespecífico. Nesse contexto, o presente trabalho procurou caracterizar as estratégias de forrageio de aves marinhas do gênero Sula no arquipélago de Fernando de Noronha em níveis intra e interespecífico, utilizando dados de rastreamento remoto e isótopos estáveis de carbono (δ 13C) e nitrogênio (δ 15N) obtidos entre 2015 e 2022. Para o atobá-mascarado (Sula dactylatra, MB) foi observado um padrão interanual da área de forrageio a leste do arquipélago, potencialmente associado à interação de correntes com a topografia local, que gera um fluxo de correntes ascendentes nessa região. Entretanto, em 2022 a área de forrageio foi reduzida e concentrada próxima ao arquipélago em relação aos anos anteriores. Além disso, não houve sobreposição de nicho isotópico desse ano com os demais e a proporção de contribuição de presas para a dieta se alterou. Essa variação interanual pode ser consequência de fatores oceanográficos locais ou também de distribuição de predadores pelágicos com os quais aves marinhas se associam durante o forrageio. Esses resultados demonstram a plasticidade trófica de MB ao adaptar suas áreas de forrageio frente a variações interanuais em um ambiente tropical, evidenciando o potencial dessas aves como monitoras de variações de distribuição e composição de peixes epipelágicos. Posteriormente, foram testadas variações no nicho isotópico entre MB e o atobá-de-pé-vermelho (Sula sula, RFB) entre períodos reprodutivo e não-reprodutivo. Os valores de δ 13C e δ 15N de MB significativamente diferentes, sendo maiores para MB em relação a RFB, resultando em uma marcada partição de nicho entre as espécies ao longo de seus ciclos reprodutivo anuais. Adicionalmente, RFB variou amplitude de seu nicho de acordo com os períodos reprodutivos e não-reprodutivos de MB, que representam períodos de maior e menor intensidade de uso de recursos, respectivamente. Por fim, foram testadas variações sexuais nas estratégias de forrageio de MB tanto no período reprodutivo como não-reprodutivo, mas estas foram pouco significativas. A constante partição de nicho entre períodos e anos entre as espécies aparenta ter um papel essencial para a sua coexistência no arquipélago, além de sugerir que RFB ajusta seu período reprodutivo de acordo com o período não-reprodutivo de MB, quando a competição potencial por recursos é menos intensa. Mesmo sendo consideradas oásis em um ambiente oligotrófico, ilhas oceânicas impõem condições limitantes para espécies que dependem dos mesmos recursos e, portanto, são ótimos locais para ilustrar a partição de nicho entre espécies simpátricas. Isso revela informações sobre como essas espécies interagem no espaço e no tempo e como esses processos influenciam na manutenção da biodiversidade em regiões marinhas tropicais.