Doença cardiovascular em pacientes transplantados renais: associação com fatores da coagulação e seus polimorfismos genéticos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 1999
Autor(a) principal: Keitel, Elizete
Orientador(a): Fuchs, Flávio Danni
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/164173
Resumo: As doenças decorrentes da aterosclerose apresentam uma prevalência mais elevada entre pacientes submetidos a transplante de órgãos sólidos comparativamente à população em geral. Os motivos para esta discrepância podem estar na maior exposição dos pacientes transplantados a fatores de risco cardiovascular. Recentemente identificou-se a participação de fatores da coagulação na patogênese da aterosclerose, tanto em estudos populacionais quanto em pacientes transplantados. No presente estudo aferiram-se diversos fatores da coagulação e a exposição a fatores de risco convencionais para doença cardiovascular em um grupo de 270 pacientes transplantados renais comparativamente a um grupo de indivíduos saudáveis. Adicionalmente, compararam-se pacientes transplantados renais com e sem o diagnóstico de doença cardiovascular quanto a exposição a características ambientais e genéticas relacionadas aos fatores da coagulação e fatores de risco clássicos para doença cardiovascular. As variáveis estudadas foram: idade, sexo, tabagismo, história familiar de doença cardiovascular, índice de massa corporal, pressão arterial sistólica e diastólica, esquema imunossupressor, glicemia, colesterol total, triglicerídios, fibrinogênio, interleucina-6 (IL-6), inibidor do ativador do plasminogênio tipo 1 (PAI- 1 ), fator VIl coagulante (FVIIc), polimorfismos genéticos do fator VIl c (Arg/Gin 353), alfa (TIA 312) e beta (G/A-445 ) fibrinogênio, PAI-1 (4G/5G), IL-6 (intron-4). O grupo de 270 pacientes transplantados renais foi similar ao grupo de 31 indivíduos saudáveis em relação à idade, sexo e índice de massa corporal. Entre os pacientes transplantados a proporção de tabagistas foi menor (15,9% vs 38,7%) e pressão arterial mais elevada (146/84 vs 133/71 mmHg). Os níveis de colesterol total, triglicerídios, fibrinogênio, interleucina 6, fator VIl coagulante e dímero-D foram mais elevados nos pacientes transplantados comparativamente aos indivíduos saudáveis. Sessenta e três (23,3%) pacientes transplantados tinham o diagnóstico de doença cardiovascular, sendo que 22 já apresentavam doença previamente ao transplante. Estes pacientes eram mais idosos e apresentavam maior freqüência de história familiar positiva para doença cardiovascular e tabagismo comparativamente aos pacientes transplantados sem doença cardiovascular. Não houve diferença entre os 2 grupos em relação a sexo, índice de massa corporal e pressão arterial. Os esquemas de medicações imunossupressoras foram similares nos 2 grupos. Os pacientes com doença cardiovascular apresentaram níveis significativamente mais elevados de fibrinogênio [415 (230-1050) mg/dl vs 360 (211-650) mg/dl P<0,001], interleucina-6 [2,4 (0,26-25) pg/ml vs 2,0 (0,19-23,9) P=0,017], glicose [6 ,6+-2,7 mmoi/L vs 5,9+-1 ,3 mmoVL P=0,007), triglicerídios [1 ,8(0,7-7,5) mmoi/L vs 1,5 (0,4- 12,3) mmoi/L P=0,023] e mais baixos de albumina (40,5+3,3 g/L vs 42,5+3,6 g/L P<0,001). Os níveis de fator Vllc [97(29,8-214)% vs 96 (40,7-226) %; P=0,31], PAI- 1 [9 ,9(2,0-34,6) AU/ml vs 9,0{0,8-50) AU/ml; P=0,248] e colesterol total [6 ,0(4,0- 11 ,0) mmoi/L vs 5,9 (2,9-10,2) mmoi/L P=0,454) foram similares. A freqüência dos alelos raros dos polimorfismos genéticos dos genes do beta fibrinogênio (A/G -445), alfa fibrinogênio (A/T 312), IL-6 (intron-4 A/G), fator Vllc (Arg/Gin-353) e PAI-1 (4G/5G) foram similares entre os pacientes transplantados renais com e sem doença cardiovascular. A interação do a leio A-445 do beta fibrinogênio e tabagismo associou-se com maior prevalência de doença cardiovascular nos pacientes transplantados renais. Em análise de covariância observou-se associação dos níveis de fibrinogênio com a idade, níveis de IL-6 e ciclosporinemia. Os níveis de fator Vllc associaram-se com os niveis de trigliceridios e colesterol e com o genótipo, sendo mais baixo nos portadores do alelo raro (Gin353). Os níveis de PAI-1 associaramse com os níveis de glicose e triglicerídios e com o genótipo, sendo mais elevado nos portadores do alelo 4G. Os nlveis de IL-6 associaram-se com ciclosporinemia. Em análise de regressão logística observou-se associação independente de doença cardiovascular com idade, história familiar positiva para doença cardiovascular, tabagismo e níveis séricos de fibrinogênio e albumina. Em conclusão, identificou-se alterações no sistema de coagulação de pacientes transplantados renais à longo prazo. A prevalência de doença cardiovascular associou-se com estas alterações e com fatores de riscos clássicos para doença cardiovascular, como idade, história familiar e tabagismo. Não detectou-se associação entre a freqüência dos diversos polimorfismos genéticos e prevalência de doença cardiovascular entre os pacientes transplantados. A associação entre a interação de tabagismo e presença do alelo raro (A-445) do beta-fibrinogênio com o diagnóstico de doença cardiovascular merece futura investigação.