Preditores de dor aguda pós-operatória : relação entre estresse pré-operatório mensurado pela escala BRIEF-Measure Of Emotional Preoperative Stress(B-MEPS) e dor aguda pós-operatória

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Wolmeister, Anelise Schifino
Orientador(a): Stefani, Luciana Paula Cadore
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/189079
Resumo: Base teórica: Apesar do crescente conhecimento acerca dos mecanismos da dor e da variedade de opções terapêuticas disponíveis para sua prevenção e tratamento, seu manejo ainda é considerado subótimo, particularmente no pós-operatório. A dor aguda faz parte de uma cascata de reações fisiológicas e psicológicas protetoras e adaptativas a um insulto, e, a capacidade do indivíduo de lidar com esse insulto está intimamente relacionada as suas vulnerabilidades físicas, psíquicas e sociais. Dentre essas vulnerabilidades encontram-se características individuais como a magnitude da doença de base, aspectos emocionais, presença de dor crônica, integridade do sistema modulatório descendente da dor, neuromediadores, além do perfil genético. Portanto, aprofundar o conhecimento dos fatores associados a maneira como o paciente enfrenta o trauma cirúrgico pode melhorar o manejo imediato e a reabilitação a curto, médio e longo prazos. Visando otimizar o manejo perioperatório o grupo de pesquisa de Dor e Neuromodulação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre desenvolveu um instrumento para avaliação individualizada do stress emocional no pré-operatório, considerando que o mesmo ocorre quando há redução da capacidade regulatória e adaptativa (alostase) aos estressores externos Esse instrumento, denominado Brief Measure of Emotional Preoperative Stress (B-MEPS) foi construído compilando-se quatro escalas que mensuram a carga emocional negativa e aspectos psíquicos como ansiedade, depressão e expectativa de futuro usando-se a teoria da resposta ao item. Nossa hipótese é de que pacientes altamente estressados possuem maiores níveis de dor no pós-operatório. Objetivos: Primariamente, buscou-se avaliar se o estresse emocional no pré-operatório aferido pelo instrumento BMEPS, tem impacto na magnitude da dor aguda pós-operatória de cirurgias de médio e grande porte (urológicas, proctológicas, ortopédicas e ginecológicas) em uma coorte prospectiva. Secundariamente, realizou-se análise exploratória de fatores neurobiológicos relacionados ao paciente e ao procedimento, tendo o stress pré-operatório e a reabilitação pós operatória como desfechos. Métodos: Estudo de coorte prospectivo realizado com pacientes acima de 18 anos submetidos a procedimentos cirúrgicos de médio a grande porte no Hospital de Clínicas de Porto Alegre no período entre março 2017 e março 2018 No pré-operatório foram aplicados questionários demográficos, escala de sensibilização central, escala B-MEPS e realizados testes de sensibilidade a pressão, limiar a dor e integridade do sistema inibitório endógeno, além de serem dosados marcadores séricos proteína S100 Beta (S100) e Brain Derived Neurotrophic Factor (BDNF). A dor pós-operatória em repouso e movimento, e consumo de morfina em até 48 horas foram aferidos, assim como a escala de reabilitação QoR15. Utilizando um modelo de classes latentes, foi possível identificar pontos de corte para o desfecho stress pré-operatório e os pacientes foram divididos em dois grupos: baixo e intermediário stress e alto stress. Análise de medidas repetidas foi usada para avaliar o impacto do B-MEPS no desfecho dor ao movimento ao longo do tempo. Análise multivariada para identificar preditores de stress no pré-operatório, de consumo de morfina e reabilitação pós-operatória foram realizadas. Resultados: 150 pacientes foram incluídos na coorte. Encontramos 23 (15%) pacientes com alto estresse emocional no pré-operatório. Variáveis significativamente relacionadas ao estresse pré-operatório foram o diagnóstico psiquiátrico prévio e o resultado do Inventário de Sensibilização Central, que identifica pacientes com processos neuroplásticos disfuncionais, classicamente relacionados a dor crônica Respectivamente 42% e 52% dos pacientes apresentaram dor moderada-severa ao movimento em 24 e 48 horas. Análise com modelo misto de medidas repetidas mostrou um efeito significativo e sustentado do stress identificado pelo instrumento B-MEPS como preditor de dor ao movimento. História de dor crônica, câncer e baixo limiar de tolerância de dor experimental à pressão no pré-operatório também foram preditores independentes de dor no movimento no pós-operatório. Dor ao movimento moderada a severa foi o único preditor significativo negativo de reabilitação em 48 horas após a cirurgia. Conclusão: Esses resultados confirmam que um método de triagem do estado emocional pré-operatório breve e consistente pode detectar indivíduos propensos a experimentar dor pós-operatória moderada a severa. Para que esse achado se traduza em mudanças benéficas na assistência perioperatória, podem-se utilizar intervenções não farmacológicas como otimização do preparo, melhoria na comunicação e suporte ao paciente, além de intervenções farmacológicas pontuais conforme o nível de estresse emocional no pré-operatório.