Resumo: |
A dor neuropática (dor devido à lesão no tecido nervoso) é de difícil tratamento, e sabese que espécies reativas de oxigênio participam nessa condição dolorosa. A espécie Luehea divaricata, uma planta nativa do Brasil, conhecida popularmente como “açoitacavalo”, é usada por diferentes grupos étnicos para tratar diversas condições patológicas. Porém, desconhece-se seu efeito na dor neuropática. O presente estudo avaliou os efeitos da administração oral do extrato aquoso (EA) preparado de folhas de L. divaricata sobre nocicepção (medida pelos testes de von Frey e placa quente), índice funcional do nervo isquiático (IFI), e parâmetros de estresse oxidativo em medula espinal de ratos com dor neuropática induzida por lesão por constrição crônica (CCI) no nervo isquiático, um modelo de dor neuropática. Após aprovação pelo SISBIO (#543481) e comitê de ética no uso de animal da UFRGS (#31394), folhas de L. divaricata foram usadas para a preparação do EA. Inicialmente se determinou, no extrato, o conteúdo de fenóis totais, a atividade antioxidante, a presença de vitexina, a concentração de açúcares totais, sacarose, glicose, frutose, proteínas e triacilglicerídeos; e capacidade de inibição de dano oxidativo ao DNA supercoiled. Após, 72 ratos Wistar machos, adultos, foram divididos nos grupos experimentais controle (ratos sem intervenção cirúrgica), sham (ratos que tiveram o nervo isquiático direito exposto) e CCI (ratos que tiveram o nervo isquiático direito exposto e esse recebeu 4 amarraduras em seu tronco comum), os quais receberam, por gavage, os tratamentos: água para injeção (veículo) e EA, nas doses de 100, 300, 500 e 1000 mg/kg por 10 ou 35 dias; e gabapentina (50 mg/kg) e EA (500mg/kg)+gabapentina (30 mg/kg), por 10 dias. Os tratamentos tiveram início no dia da cirurgia, após recuperação da anestesia, e seguiu-se diariamente. O EA apresentou vitexina, marcador do gênero Luehea; conteúdo elevado de compostos fenólicos; atividade antioxidante e capacidade de inibir dano oxidativo ao DNA altas; predominância de sacarose; e baixa concentração de proteínas e triacilglicerídeos. A administração de EA aumentou significativamente os limiares de resposta aos testes de von Frey e placa quente e o IFI, reduzidos pela CCI. Os efeitos foram comparáveis ao da gabapentina e também encontrados após administração de EA+gabapentina. Em nervo isquiático, o EA preveniu acréscimo significativo nos valores de hidroperóxidos lipídicos, sem alterar significativamente a capacidade antioxidante total (TAC). Na medula espinal, o EA preveniu: aumento significativo na formação de ânion superóxido e nos valores de peróxido de hidrogênio e hidroperóxidos lipídicos; queda significativa nos tióis totais; e acréscimo significativo na TAC, alterações encontradas nos ratos CCI tratados com veículo. O EA não provocou alterações significativas no peso corporal e em valores de indicadores plasmáticos de função hepática (ALT, AST e bilirrubina) e renal (creatinina), e atividade de marcadores pró-oxidante e antioxidante no fígado. Assim, pela primeira vez se mostrou que o uso de EA de folhas de L. divaricata poderia ser uma alternativa para tratamento de dor neuropática induzida por CCI, e que alterações em parâmetros de estresse oxidativo são mecanismos pelos quais o extrato atua para induzir efeito antinociceptivo. |
---|