Feiras de Ciências como caminho para a formação de estudantes e professores : desafios, potencialidades e tendências nos documentos e na voz de professores orientadores

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Silva, Camila Brito Collares da
Orientador(a): Massoni, Neusa Teresinha
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/265625
Resumo: No Brasil as Feiras de Ciências ocorrem há décadas, e são eventos criados para incentivar a educação e a produção científica nas escolas, e a divulgação da ciência para além dos muros das escolas. Feiras buscam engajar jovens na autoria de trabalhos, exercitando o explicar científico e promovendo o gosto pela ciência, e até mesmo pela carreira científica. Apesar das potencialidades das Feiras de Ciências, não há muitos trabalhos acadêmicos sobre essa temática. Através de Revisão da Literatura dos últimos 24 anos sobre o tema, identificamos uma tendência de se pesquisar sobre a dinâmica do(s) dia(s) da Feira, de identificar as temáticas mais usuais, bem como o envolvimento e expectativas dos jovens para apresentar à comunidade, mas observamos que pouco esforço de pesquisa é dedicado ao processo de desenvolvimento e orientação dos projetos e, em especial, sobre as visões de ciência que são construídas por estudantes e professores da Educação Básica. Estudos realizados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos mostram que as Feiras de Ciências são importantes espaços de divulgação científica, pois são bastante visitados pela população, o que tende a aproximar a ciência da sociedade, aspecto este que tem ainda maior relevância no momento atual, de proliferação de negacionismos e “pós-verdades”. Assumimos nesta investigação que o processo de construção de Feiras de Ciências, que envolve diferentes etapas, como a organização por parte da escola; a orientação e desenvolvimento dos projetos, a preparação para a comunicação à comunidade e a avaliação dos trabalhos; tudo isso torna esses eventos espaços de construção e autoria de conhecimentos por parte dos estudantes, e de formação de professores, como também de difusão de concepções sobre a natureza da ciência. Nossa hipótese de pesquisa, reforçada pela Revisão de Literatura, é que há uma lacuna, uma quase ausência de preocupação com a construção e difusão de visões alinhadas às epistemologias contemporâneas, permitindo o enraizamento de visões inadequadas tanto de estudantes como de professores da Educação Básica. Pensando nisso, adotamos como referencial teórico-epistemológico as concepções de Humberto Maturana, principalmente pela valorização que pode e deve ser dada à autonomia e autoria do estudante ao desenvolver suas pesquisas e ao apresentar seus trabalhos nas Feiras de Ciências. Para responder às questões de pesquisa propostas em relação a todos esses pontos, realizamos uma pesquisa qualitativa contemplando as seguintes etapas: i) uma revisão da literatura sobre Feiras de Ciências no Brasil, que corroborou a lacuna já mencionada, consentindo que se propaguem ideias associadas à existência de um “método científico” universal (ideia já superada pela moderna Epistemologia), e a noção de que as Feiras de Ciências seriam meios de exercitá-lo; ii) uma análise de documentos orientadores disponibilizados pelas Feiras de Ciências, com sede no Rio Grande do Sul, que constituiu o Estudo I, e que apontou que esses documentos deixam de aproveitar, ou não lançam luz sobre o processo de desenvolvimento e orientação das/nas Feiras, enquanto uma via capaz de construir e difundir concepções atuais sobre a natureza da ciência. A nossa análise identificou três dimensões: “papel das Feiras”, “justificativas” e “concepções epistemológicas”, sendo que em 92% (23 de 25) dos documentos analisados localizamos termos associados à última dimensão; nas duas primeiras dimensões aparece a “vivência do método científico” como um dos importantes objetivos desses eventos, mas a falta de explicitação do seu significado foi tomada como privilegiando visões superadas do processo científico. Este aspecto foi entendido como uma oportunidade, pois foi possível ao final desta pesquisa doutoral, indicar caminhos para que as Feiras de Ciências explorem, de forma explícita, para além da produção e divulgação do conhecimento científico, aspectos epistemológicos, contribuindo, assim, com a popularização de visões mais alinhadas à História e Filosofia da Ciência (HFC) contemporâneas; e iii) um estudo de caso com a aplicação de questionários e realização de entrevistas com professores(as)-orientadores(as) de Feiras. O Estudo II apontou certas perspectivas positivas e possibilitou refletir as principais dificuldades no processo das Feiras, como a ausência de formação continuada sobre aspectos epistemológicos, a falta de tempo [de qualidade] para orientar o desenvolvimento dos projetos junto aos(às) estudantes, a ausência de padronização de critérios para a avaliação dos trabalhos, a escassez de recursos públicos, entre outros. A voz dos professores ratifica a importância e o papel das Feiras e Mostras de Ciências como: oportunidades de formação científica dos(as) estudantes, espaços de trocas que contribuem para despertar a curiosidade e o interesse destes pela ciência, os engajando na produção e apresentação de explicações científicas aos visitantes, e com isto aproximando a escola e a ciência da comunidade. Esses achados nos permitiram sistematizar no Capítulo 7, um conjunto de reflexões, indicadores e sugestões que buscam ser uma contribuição possível desta investigação para com a melhoria da formação e divulgação do pensamento científico e da difusão de visões atuais da natureza da ciência nas Feiras e Mostras de Ciências