Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2022 |
Autor(a) principal: |
Duarte, Ana Claudia |
Orientador(a): |
Gerchman, Fernando |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
|
Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
|
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
|
Departamento: |
Não Informado pela instituição
|
País: |
Não Informado pela instituição
|
Palavras-chave em Português: |
|
Palavras-chave em Inglês: |
|
Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/249448
|
Resumo: |
Dados recentes da literatura sugerem que a ingestão alimentar de óleo de coco, composto em 92% por ácidos graxos saturados (AGS), não resulta em benefícios cardiometabólicos, como melhora do perfil antropométrico, lipídico, glicêmico e de parâmetros de inflamação subclínica. Apesar disso, seu consumo aumentou nos últimos anos em todo o mundo, fenômeno que pode ser explicado, possivelmente, por um aumento da orientação, por parte de profissionais da área da saúde, de que este seria um óleo tão ou mais saudável que os demais para consumo, além da divulgação em redes sociais destas recomendações. A fim de se entender os efeitos do óleo de coco na saúde cardiometabólica, desenvolveu-se essa tese, com uma introdução (referencial teórico) para apresentar os diferentes aspectos nutricionais e epidemiológicos relacionados ao óleo de coco, sua relação com a saúde metabólica e possíveis hipóteses sobre as razões do seu alto consumo. No artigo 1 desenvolveu-se uma revisão sistemática com meta-análise de ensaios clínicos randomizados (ECR), realizados em adultos, e que comparavam o consumo alimentar de óleo de coco com outros óleos e gorduras. Um total de 17 ECRs foram incluídos na revisão sistemática e 7 apresentaram dados suficientes e foram incluídos na meta-análise. A análise dos dados mostrou que a ingestão de óleo de coco comparado a outros óleos e gorduras não é diferente em relação a parâmetros antropométricos, de perfil glicêmico, pressão arterial e inflamação subclínica. Em relação ao perfil lipídico, também não se demonstrou diferenças no efeito do consumo alimentar de óleo de coco em relação a outros óleos e gorduras nos níveis de colesterol LDL-C, triglicerídeos e na relação CT/HDL-C. Observou-se um aumento estatisticamente significativo, mas clinicamente pouco relevante, dos níveis de colesterol HDL-C com o consumo alimentar de óleo de coco em relação a outros óleos e gorduras. Análises de subgrupo para os diferentes parâmetros cardiometabólicos descritos não demonstraram diferenças. Ao se analisar a qualidade metodológica dos ECRs incluídos na meta-análise, se observa que a maioria apresenta número pequeno de participantes, tempo de seguimento curto, e aplicação de co intervenções, em uma proporção dos estudos, incluindo dieta com restrição calórica e prática de atividade física, fatores que nos levam a interpretar os dados com cautela por poderem impactar no efeito cardiometabólico atribuído ao óleo de coco. Não havendo aparente superioridade do óleo de coco em comparação a outros óleos e gorduras em parâmetros cardiometabólicos, e sabendo-se dos riscos associados do consumo elevado de AGS para a saúde como piora do perfil lipídico, o incentivo do uso deste óleo como sendo de primeira escolha para consumo, deve ser desencorajado. O objetivo do artigo 2 foi avaliar o consumo, padrões, motivos e crenças relacionados ao uso dietético do óleo de coco e seus benefícios na saúde, por meio de uma pesquisa online com duas populações do sul do Brasil: uma composta por estudantes de diferentes cursos de pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e outra por pessoas que acessam a página do Hospital de Clínicas de Porto Alegre no Facebook®. Assim, realizamos um estudo antes/depois usando um questionário online com 11 perguntas. Os participantes que indicaram consumir óleo de coco receberam uma intervenção, que consistia na exposição dos dados de meta-análise recente sobre os efeitos do óleo de coco. O objetivo foi avaliar a possibilidade de mudança de conceitos e crenças a respeito do efeito metabólico e cardiovascular relacionados ao consumo do óleo de coco e aumentar a alfabetização sobre os efeitos deste óleo na saúde. Obtivemos 3160 respostas válidas. A maior parte da amostra consumia óleo de coco (59,1%). Destes, 82,5% o consideravam saudável e 65,4% o utilizavam pelo menos uma vez por mês. Apesar de considerá-lo saudável, 81,2% dos participantes que utilizavam o óleo, não observaram nenhuma melhora na saúde com o seu uso. Após serem expostos às conclusões de uma meta-análise mostrando que o óleo de coco não apresenta benefícios superiores à saúde quando comparado a outros óleos e gorduras, 73,5% daqueles que consideraram o óleo de coco saudável não mudaram de opinião sobre os seus benefícios. Conclui-se que o consumo do óleo de coco é motivado pelas próprias crenças pessoais, possivelmente incentivadas por recomendações de profissionais da área da saúde de que este seria um óleo que contribuiria para manutenção/melhora da saúde cardiometabólica, mesmo com as evidências científicas mostrando o contrário e, curiosamente, com os participantes não observando melhoras em sua saúde com o consumo de óleo de coco. O fato dos participantes não terem mudado sua percepção sobre os benefícios deste óleo após serem expostos a informações científicas nos revela o quanto pode ser difícil mudar conceitos errados sobre alimentação após estes serem amplamente divulgados e praticados pela população. A desinformação em saúde precisa ser amplamente estudada e encarada como um problema de saúde pública. Estratégias para orientar a população das melhores opções quanto a escolha de óleo para consumo alimentar, bem como de que o óleo de coco não apresenta benefícios definidos (diferentemente de outros óleos de consumo alimentar), devem ser elaboradas e difundidas principalmente para população alvo e de risco para a saúde cardiometabólica. Encorajamos que mais estudos neste formato sejam desenvolvidos a fim de colaborar no combate à desinformação na área da saúde, especialmente na área de nutrição e de hábitos de vida saudáveis. |