O ensino de biologia e suas articulações com práticas médico-moralizantes direcionadas ao governamento do corpo, das sexualidades e dos gêneros

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Morando, André
Orientador(a): Souza, Nádia Geisa Silveira de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Palavras-chave em Espanhol:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/229427
Resumo: Esta tese tem por objetivo examinar as práticas vinculadas ao ensino e à produção do corpo em seus atravessamentos com os gêneros e as sexualidades, no Ensino de Ciências e de Biologia. A escrita da tese é inspirada nos estudos foucaultianos. Nela, o corpo é entendido como efeito das práticas sociais, em funcionamento e em correlação em instâncias como a família, medicina, escola, religião, dentre outras, que nos tornam objetos de seus saberes/poderes imbricados a determinadas regras de verdade que nos constituem como sujeitos. Dessa perspectiva, as sexualidades são tomadas como efeitos de práticas criadas e demarcadas a partir da noção do sexo genital. Tais práticas inscrevem-se nos corpos, direcionando e implicando na forma de sentir prazer, na orientação dos desejos, na valoração e classificação da vida humana [saudável ou anormal, por exemplo]. Os sentidos que são atribuídos à sexualidade irão conduzir as condições e as possibilidades para ser homem ou mulher na cultura. Os gêneros, nesse estudo, funcionam como categorias sociais que operam a partir de sistemas de significação imbricados a relações de poder e que atribuem posicionamentos sociais hierarquizados para sujeitos identificados como do sexo genital feminino e do masculino. Como recurso teórico-metodológico, busquei inspiração na genealogia, proposta por Foucault, a possibilidade de movimentar a pesquisa entre o presente e o passado do Ensino de Ciências e de Biologia, portanto, esta tese apresenta dois movimentos. No primeiro, construí uma história do presente acerca dos modos como o corpo, os gêneros e a[s] sexualidade[s] vêm sendo abordados/produzidos nessas disciplinas [Ciências e Biologia] na educação escolarizada. Para tanto, examinei artigos publicados nas Atas e Anais de dois Eventos Científicos da área, o Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências - ENPEC e o Encontro Nacional de Ensino de Biologia - ENEBIO. Nas práticas narradas, predominam as abordagens de matriz biológica do corpo. As sexualidades são vinculadas à prevenção de infecções e da gravidez na adolescência e centradas nos sistemas genitais e reprodutores. As discussões sobre os gêneros não se constituem como problemas na maioria dos artigos analisados. De modo geral, as discussões sobre as sexualidades, os cuidados com o corpo e com a vida dos/as estudantes vão no sentido de instituir modelos de condutas balizados por discursos moralizantes. No segundo movimento, com a intenção de conhecer as [des]continuidades das práticas que atuam no presente, portanto, a historicidade, voltei minha atenção para o passado, no qual analisei os capítulos Eutecnia e Eugenia do livro Biologia Educacional: noções fundamentais de autoria do médico e pedagogo Antonio Almeida Junior, a partir do ano de 1939, e o Livro das mamães: noções de puericultura - um manual materno, do mesmo autor em coautoria com o médico Mario Mursa, ambos os livros utilizados na disciplina Biologia Educacional. As análises do passado mostram como o conhecimento médico e biológico atuaram na formação de professoras para que estas agissem na divulgação dos preceitos eugênicos e higiênicos tendo como alvo as crianças, as mulheres e as famílias. A finalidade de se agir sobre tais indivíduos foram no sentido de produzir sujeitos eficientes. Sujeitos que, ao conhecerem o funcionamento biológico do corpo, os perigos da degenerescência, da doença através de discursos médicos e biológicos imbricados a práticas moralizantes, seriam capazes de orientar suas condutas, evitando maus casamentos, vícios e doenças. As análises, ao moverem-se entre o presente e o passado, mostraram o funcionamento de elementos, que carregam continuidades, direcionados ao controle da vida humana, tendo como estratégia a educação escolarizada, e nela hoje, o Ensino de Ciências e de Biologia. Destaca-se, ainda, a operação de discursos biológicos e médicos através de ações moralizantes regidas pela família reprodutiva e pela noção de perigo.