Percepção de ritmos afetivos, cognitivos e somáticos em adolescentes e sua relação com saúde mental

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Francisco, Ana Paula
Orientador(a): Hidalgo, Maria Paz Loayza
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/253201
Resumo: Introdução: Os ritmos biológicos estão presentes e são importantes em quase todos os processos fisiológicos do corpo humano que vão desde expressão genética até funções cognitivas e motoras mais complexas. Pesquisas demonstram que disfunções no sistema circadiano podem levar à ocorrência de diversas doenças clínicas e psiquiátricas incluindo transtornos de humor como a depressão. A pesquisa em ritmos biológicos tem aumentado e é promissora na investigação da etiologia, melhora do prognóstico e abordagem de tratamento no curso clínico de transtornos de humor na psiquiatria. Apesar do aumento das pesquisas na área de cronomedicina e das evidências que ligam a depressão à disrupção dos ritmos biológicos, ainda sabemos pouco sobre a ritmicidade dos sintomas de humor em si. Pesquisas recentes apontam que existe uma correlação positiva entre a presença de um pico percebido em fatores afetivos, cognitivos e somáticos e sintomas psiquiátricos gerais e depressivos. Estudos que avaliam a ritmicidade percebida ao longo do dia de fatores afetivos, cognitivos e somáticos que frequentemente estão envolvidos em transtornos do humor são escassos em populações de adolescentes. Uma explicação para essa lacuna de conhecimento é a ausência de ferramentas de avaliação validadas para tal fim. É possível que adolescentes também apresentem ritmos percebidos nos fatores afetivos, cognitivos e somáticos ao longo do dia. Além disso, é possível que esses fatores também estejam relacionados com sintomas psiquiátricos e de depressão. Objetivo: Esta tese tem o objetivo de descrever as etapas de adaptação do MRhI em uma versão para adolescentes (MRhI-Y), sua validação em adolescentes e sua relação com parâmetros de sono e sintomas depressivos em adolescentes da população geral. Metodologia: estudo transversal envolvendo 186 adolescentes de 12 a 17 anos estudantes de uma escola no interior do Rio Grande do Sul, Brasil. Na primeira parte do estudo a adaptação da versão em português brasileiro do MRhI para uma população adolescente seguiu três passos: revisão por consultores, análise por especialistas e teste piloto por meio de escala analógica visual (VAS). A consistência interna foi calculada usando o alfa de Cronbach e o ômega do McDonald's. As propriedades psicométricas do MRhI-Y foram avaliadas por meio da análise de fatores exploratórios (exploratory factor analysis, EFA). Na segunda parte do estudo os parâmetros circadianos do sono foram acessados pela versão em português da escala Munich ChronoType Questionnaire (MCTQ) e o cronotipo foi acessado pela versão em português da escala Puberty and Phase Preference Scale (PPPS). Os sintomas psiquiátricos foram acessados pela versão em português da escala Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ) e os sintomas de depressão pela versão em português da escala Children's Depression Inventory (CDI). A ritmicidade percebida em fatores afetivos, cognitivos e somáticos foi acessada pelo MRhI-Y. O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes éticas internacionais. Resultados: Estudo 1 O MRhI-Y foi adaptado e validado para uso em adolescentes. A avaliação dos especialistas sobre a qualidade dos itens do MRhI-Y variou entre 82 e 100%. Os adolescentes indicaram boa compreensão dos itens. Os coeficientes alfa de Cronbach e ômega do McDonalds foram 0,71 e 0,74 respectivamente. A EFA resultou em uma solução de três fatores (afetiva, cognitiva e somática). Adolescentes mais novos (12 a 13 anos) relataram menor escore total do que os grupos de adolescentes mais velhos (14-15 anos e 16-17 anos), mesmo controlando para cronotipo. Estudo 2 Este estudo mostrou associação da ritmicidade autopercebida em fatores afetivos e cognitivos com sintomas psiquiátricos em adolescentes. Verificou-se que uma maior autopercepção de ritmos em fatores afetivos estava associada à maior quantidade de sintomas psiquiátricos medidos pelo SDQ e maiores sintomas de humor medidos pelo SDQ emocional. Por outro lado, uma maior autopercepção de ritmos nos fatores cognitivos estava associada a menor quantidade de sintomas de depressão avaliados pelo CDI e sintomas psiquiátricos gerais avaliados pelo SDQ total. A autopercepção da ritmicidade em fatores somáticos não foi associada à sintomas psiquiátricos ou depressivos nos modelos de regressão múltipla. Além disso, a autopercepção de ritmicidade em fatores somáticos se correlacionou com maior duração de sono durante os finais de semana, maior jetlag social e cronotipo com menor preferência matutina. A autopercepção de ritmicidade em fatores cognitivos se correlacionou com cronotipo com maior preferência matutina. Após analises de regressão múltipla verificou-se que um cronotipo mais matutino, maior autopercepção de ritmicidade em fatores cognitivos e afetivos contribuíram no para maiores valores de SDQ total. Conclusão: Esta tese traz uma nova ferramenta para avaliar ritmos percebidos em fatores afetivos, cognitivos e somáticos em adolescentes com e sem transtornos psiquiátricos o MRhI-Y. Além disso, os estudos descritos na tese mostram que existe uma ritmicidade percebida em fatores afetivos, cognitivos e somáticos em adolescentes e que estas sofrem influência da idade, sexo, sintomas psiquiátricos e de depressão. Uma maior ritmicidade em fatores afetivos e uma menor ritmicidade em fatores cognitivos está relacionada a sintomas psiquiátricos e depressivos em adolescentes. Sendo assim, essa tese reforça a necessidade de estudar os transtornos de humor no adolescente levando-se em conta a Cronomedicina que traz o importante papel dos ritmos biológicos.