Vitalidade linguística do 'Plautdietsch' em contato com variedades 'Standard' faladas em comunidades menonitas no Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2011
Autor(a) principal: Dück, Elvine Siemens
Orientador(a): Altenhofen, Cleo Vilson
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/35085
Resumo: O presente estudo analisa o contato linguístico alemão-português em três comunidades menonitas no sul do Brasil, bem como também o contato linguístico alemão-português-inglês em uma comunidade menonita localizada no estado de Goiás. Todos esses grupos são de origem anabatista (1525). Caracterizam-se, por isso, como étnico-religiosos. Mesmo com o passar dos vários séculos, eles mantêm ainda fortes laços de língua, igreja, família e herança sociocultural, formando assim colônias do tipo “ilhas linguísticas”, resultantes de um processo migratório transnacional. Em 1930, chega, ao sul do Brasil, o primeiro grupo de menonitas que, após um difícil período de colonização em Santa Catarina, migra para o Paraná e Rio Grande do Sul, onde funda as três comunidades selecionadas para este estudo: a comunidade menonita de Curitiba (PR), a Colônia Nova (RS) e a Colônia Witmarsum (PR). Nesses núcleos, instaurou-se - de modo geral - um trilinguismo, do qual fazem parte: o Hochdeutsch (alemão standard), usado para situações formais como a igreja e a escola; o Plautdietsch, uma variante do baixo-alemão empregada para situações informais do dia-a-dia; e o português, principalmente para o contato interétnico. O uso do Hochdeutsch na igreja foi, por décadas, praticamente exclusivo, ou seja, a religião constituiu um fator determinante tanto para a coesão da comunidade menonita, como também para a manutenção do Hochdeutsch. O outro grupo de menonitas, proveniente dos Estados Unidos e Canadá, mais conhecido como os Holdeman Menonitas, chegou a Rio Verde (Goiás) em 1968. Este grupo, por ser mais conservador, segue normas antigas, entre as quais: a ênfase particular no não-conformismo com o mundo, com vestimenta e com a forma de viver. As marcas mais evidentes deste comportamento são o uso de barba por todos os homens e o uso do véu, bem como de vestidos, por todas as mulheres membros da igreja. Esta comunidade, além do português, faz uso principalmente do inglês como língua de imigração. O Plautdietsch, portanto, é atualmente falado somente por algumas pessoas da geração mais idosa. Mesmo vivendo em comunidades mais isoladas, marcadas pela sua fé e religião e usufruindo de uma relativa autonomia, observam-se, em nossos dados, traços de influência característicos do novo meio. Com o contato crescente do alemão com o português, o uso do Plautdietsch e do Hochdeutsch deixou de ser exclusivo, tornando-se o uso do português uma constante em diversos contextos da comunidade, conforme mostra o estudo de Dück (2005). A complexidade da situação linguística observada nas comunidades em estudo levanta uma série de perguntas, sobretudo o papel que o Plautdietsch desempenha nas diferentes comunidades, a sua vitalidade face ao prestígio das línguas-teto (Dachsprachen) português e Hochdeutsch (ou inglês), bem como os fatores que poderiam levar a uma substituição de uma variedade pela outra. São objetivos deste estudo: a) identificar o papel do Plautdietsch em relação ao contexto, considerando as variáveis sociais presentes em cada comunidade e, as funções de vernáculo e de delimitador da identidade étnica dos menonitas, comumente atribuídas à variedade substandard; b) descrever o grau de manutenção e a vitalidade linguística do Plautdietsch em contato com as variedades standard do português, inglês e Hochdeutsch nas comunidades menonitas em estudo; c) comparar as atitudes dos falantes com seus usos linguísticos, identificando processos convergentes e divergentes subjacentes ao estágio atual de vitalidade ou perda da variedade substandard do Plautdietsch; d) descrever o grau de substituição das línguas-teto Hochdeutsch e inglês pelo português (Dachpsrachenwechsel); e) analisar o que a escolha da(s) variedade(s) revela sobre a organização e a coesão étnico-religiosa da comunidade. Para responder a essas questões, este estudo orienta-se pelo modelo da dialetologia pluridimensional e relacional/contatual como ciência ampla da variação, que combina a dialetologia areal com a sociolinguística. Por meio desse modelo, busca-se verificar em que pontos e em que dimensões e parâmetros ocorre determinada variante ou comportamento. A presente pesquisa distingue-se de estudos sociolinguísticos monopontuais, centrados em uma comunidade bilíngue, por comparar contextos diferentes e fatores condicionadores diversos em uma rede de quatro pontos, localizados em três diferentes estados do Brasil. A coleta de dados nessas localidades incluiu a análise de aspectos históricos e demográficos, assim como também entrevistas semidirigidas com pluralidade simultânea de informantes. A partir da análise qualitativa dos dados das entrevistas semidirigidas, as quais têm como base um questionário, os resultados identificaram diferentes fatores que contribuíram para a manutenção/perda da variedade substandard Plautdietsch, bem como fatores que influenciaram no comportamento linguístico, o qual proporcionou uma substituição da língua-teto. Com base nos dados obtidos, constata-se a perda do Plautdietsch, vinculada a fatores como: a falta de prestígio, reforçada pelos próprios líderes e professores da comunidade; ao desprezo ou ausência do suporte institucional; ao grau de urbanização aliado à falta de uma conscientização sobre a importância da língua como marca de identidade de um grupo étnico (Identitätsmerkmal) e o uso e manutenção dessa língua de imigração. Além disso, houve, nas comunidades menonitas da região sul do Brasil, a substituição da língua-teto Hochdeutsch para o português e, na comunidade rural de Rio Verde (GO), a substituição da língua-teto inglês para o português. Entretanto, verificam-se atitudes positivas em relação ao uso e manutenção do Hochdeutsch/ inglês no âmbito familiar das diferentes comunidades.