Perfil e trajetória das mulheres bolsistas de Produtividade em Pesquisa (PQ) do CNPq das áreas de física e enfermagem

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Bezerra, Ana Regina Gomes
Orientador(a): Barbosa, Marcia Cristina Bernardes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/275129
Resumo: As mulheres estão sub-representadas nas posições de mais destaque na maioria das áreas da ciência e em todos os níveis das áreas de ciências exatas, matemática e tecnologias. Em vários ramos das ciências da saúde, biológicas, sociais e humanas, o percentual de mulheres tem avançado, tornando-se, em alguns casos, a maioria de quem faz pesquisa. Diante desse cenário, esta tese tem como objetivo analisar o perfil e a trajetória das bolsistas de produtividade em pesquisa (PQ) do CNPq de duas áreas, uma em que elas são minoria e outra na qual são maioria: física e enfermagem. Assim, nossa proposta é compreender o que difere no meio científico se a maioria de quem atua na pesquisa for de homens ou de mulheres. Para isso, analisamos o histórico da participação das mulheres nas bolsas PQ; a progressão na carreira do grupo minoritário e majoritário, observando o aspecto maternidade e o perfil profissional das áreas; e a percepção das bolsistas sobre suas trajetórias científicas. O referencial teórico traz os conceitos de habitus, campo social e capital de Bourdieu e contempla os estudos de gênero de Simone de Beauvoir, Judith Butler e Andrea O'Reilly, com o feminismo matricêntrico. Utilizamos métodos mistos, com abordagens qualitativas e quantitativas. Os dados foram obtidos a partir da análise das chamadas de bolsa PQ de 2005 a 2021 e de um questionário aplicado, em 2020, às pesquisadoras com bolsa PQ vigente em 2019. Os resultados da primeira etapa do estudo mostram que os percentuais dos pedidos e das concessões da bolsa às mulheres da física são similares e que não houve um crescimento dos mesmos ao longo do tempo. Diferentemente, o número de solicitações dos homens da enfermagem aumentou no decorrer dos anos, mas o percentual de concessão não seguiu a mesma tendência. Curiosamente, o percentual de pedidos de bolsas por parte das mulheres na área da física é menor que o seu percentual como orientadoras em programas de pós-graduação, enquanto o percentual de pedidos de homens na enfermagem é maior que sua presença como orientadores. Na segunda etapa, os dados revelam que os tempos de ingresso e de progressão na carreira são distintos entre as áreas, pois as pesquisadoras da física concluem o doutorado, ingressam no magistério superior e no sistema de bolsa PQ mais jovens e antes de terem filhos. Na enfermagem, esse percurso acontece mais tarde e elas se tornam mães antes de serem bolsistas. A terceira etapa nos apresenta que a percepção das participantes sobre a carreira é diferente. As docentes mães da física enxergam de forma mais acentuada um impacto negativo da maternidade na produtividade e avaliam seu estágio na carreira inferior aos colegas. A percepção de assédio e violência implícita é marcante nessa área. Na enfermagem, a percepção com relação à maternidade e ao estágio na carreira é mais positiva e não detectamos a percepção de assédio nas respostas. Como conclusões, o estudo mostra o domínio da maioria, pois não houve, ao longo dos anos, mudança significativa de concessão da bolsa PQ para o grupo minoritário. O meio científico difere quanto aos tempos de progressão na carreira e também com relação à percepção das pesquisadoras. Na enfermagem, o grupo dominante constrói o perfil da área de acordo com as dinâmicas da vida feminina, conciliando melhor a maternidade. Na física, ao contrário, elas precisam se adequar à trajetória sem interrupções estabelecida pela maioria masculina, para a qual a inclusão de filhos não costuma afetar a carreira acadêmica. Assim, as físicas têm a percepção de que enfrentam mais dificuldades para conciliar as demandas da maternidade e as exigências profissionais, principalmente pela ocorrência de assédios e violência implícita. Por outro lado, na enfermagem, a sensação de pertencimento é notória entre as bolsistas PQ, por estarem em um ambiente majoritariamente feminino.