Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2020 |
Autor(a) principal: |
Fedrizzi, Tiago Zilles |
Orientador(a): |
Bracagioli Neto, Alberto |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Palavras-chave em Inglês: |
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Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/213061
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Resumo: |
Esta pesquisa analisa o cotidiano e as relações de trabalho vivenciadas entre os mais de 10.000 trabalhadores temporários que sazonalmente se deslocam de diferentes regiões brasileiras para a colheita da maçã no município de Vacaria, no Rio Grande do Sul. Foram utilizadas ferramentas metodológicas qualitativas de caráter etnográfico, como entrevistas semidiretivas e observação participante, através da vivência no cotidiano de trabalho de três pomares distintos. Também foram utilizadas fotografias e vídeos como instrumento etnográfico, permitindo refletir e desvelar as “realidades” contadas pelas imagens e traçar narrativas do cotidiano dos atores. Neste sentido, a pesquisa visou revelar as práticas cotidianas de trabalho nos diferentes “espaços-movimento” que se mostraram riquíssimos sob os aspectos sociais para a realização da pesquisa: o “mundo de dentro”, possibilitando compreender espaços, assimetrias e relações de poder dentro dos pomares, nos quais há sobreposição do espaço de trabalho nos alojamentos, refeitórios e momentos de lazer; e o “mundo de fora”, cujos espaços transpassam as estruturas de dentro do pomar, com o enfoque específico para a rodoviária municipal como um espaço de chegadas, saídas e contratações de trabalhadores. Ao permanecer “acampado” no mesmo alojamento dos trabalhadores, pude identificar a diversidade de grupos sociais, cada qual mobilizado por estratégias, individuais ou coletivas, trajetórias, objetivos e realidades, permitindo a construção de uma cartografia dos deslocamentos e o afloramento de “categorias de atenção”: os trabalhadores do “trecho” que vivem numa espécie de saga errante e se deslocam continuamente pelo território, mantendo-se através de “biscates”, numa estratégia capaz de produzir efeitos educativos e de aprendizagem; os “formigas”, que estabelecem uma regularidade migratória no período da safra e encontram uma oportunidade de uma “gordurinha” como complemento da renda; e os “assentados”, que são agricultores familiares ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e encontram na colheita da maçã uma possibilidade de diversificação de sua renda e de estruturação de seus lotes no assentamento. Embora muitos trabalhadores permaneçam vindo para a colheita ao longo dos anos, verifiquei que grande parte deles enxerga este trabalho como um período transitório e uma possibilidade de viabilizar suas atividades nos locais de origem para não precisar mais voltar a este serviço. Das distintas origens, aproximadamente 70% dos trabalhadores temporários são da região Sul, provenientes principalmente das regiões dos Campos de Cima da Serra, da Campanha e do Planalto do Rio Grande do Sul; 23% deles provém da região Centro-Oeste, pertencentes a etnias indígenas do Mato Grosso do Sul; e o restante deles provém das regiões Sudeste, Nordeste e Norte. As dinâmicas dessas mobilidades são permeadas por aspirações, conflitos, práticas de resistência e assimetrias de poder dentro e fora dos pomares. A constatação é que as políticas de incentivo fiscal criam espaços de dinamismo e contradições, por vezes, intensificando as assimetrias estruturalmente existentes. |