Mobilidade do cuidado : estudo de casos múltiplos entre centralidade e periferia urbana para um planejamento feminista

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Ribeiro, Andressa Lopes
Orientador(a): Oliveira, Clarice Misoczky de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/277204
Resumo: Diferentes fatores, como paternidade e maternidade, podem mudar o estilo de mobilidade de homens e mulheres, reorganizando as dinâmicas da vida social e das viagens. Para as mulheres, a relação dessa mudança com as demandas e a mobilidade do cuidado avança por meio de atributos socioeconômicos associados, mas ainda se situa no macroplanejamento, à margem da experiência corporal e das dinâmicas do cotidiano que se manifestam na microescala do quarteirão e do bairro. Essa microescala, contudo, possibilita compreender como outras interseccionalidades não visibilizadas em termos de contexto urbano, raça e perfil etário se relacionam com a mudança do estilo de mobilidade. A partir dos subsídios do planejamento urbano feminista, esta pesquisa investiga quais contribuições para a melhoria da dinâmica da mobilidade do cuidado podem ser aportadas para diferentes contextos sociais circunscritos em territórios heterogêneos característicos das cidades brasileiras, como o centro e a periferia. O trabalho é situado no contexto da chamada “virada” das mobilidades, dentro do qual a mobilidade se torna mais complexa que o deslocamento entre pontos para ser entendida como uma ação social com um fim em si mesmo. Nesse contexto, recorre-se à abordagem das mobilidades encenadas para compreender a dinâmica entre as mobilidades planejadas (de cima para baixo) na dimensão do cuidado e as mobilidades “encenadas” no cotidiano (debaixo para cima), em processos que sempre ocorrem in situ, no espaço da mobilidade. Para tanto, desenvolve-se um estudo de casos múltiplos – um representativo de áreas centrais e outro de uma favela em área periférica, característicos de cidades brasileiras. A abordagem da pesquisa é majoritariamente qualitativa, e os casos estudados são os bairros Centro Histórico e Bom Jesus, em Porto Alegre/RS. Enquanto as entrevistas biográficas estruturam o pano de fundo autobiográfico das mulheres em seus deslocamentos cotidianos do cuidado, no presente e no passado, o uso de entrevistas móveis como método etnográfico, acompanhando viagens femininas, demonstra de maneira mais direta a relação das mulheres com o ambiente. O cruzamento entre os casos revela um caráter de permanência longitudinal da mobilidade do cuidado na vida feminina, a partir da dissociação estrutural da economia produtiva e reprodutiva e da divisão sexual do trabalho, tensionando o recorte de Madariaga, centrado na população adulta. A análise transita o olhar também para o caráter relacional da mobilidade do cuidado, que ilumina a dissolução da relação hierárquica entre responsável e dependente, ambos indivíduos cujas características físicas e subjetivas compõem, ativamente, o comportamento de viagem. Argumenta-se, por fim, que o planejamento feminista para a mobilidade de gênero deve atuar para dissolver a dualidade funcional da cidade, reconhecendo a inter-relação das atividades ditas produtivas e reprodutivas. Busca-se um planejamento de caráter local, que transcenda as condições da mobilidade somente do trecho móvel para abranger uma diversidade de espaços atratores e significativos nos bairros, por meio dos quais as mulheres consigam atuar politicamente, tanto no sentido mais amplo, quanto na política de relações cotidianas.