Nas cinzas da Coleção Perseverança, a memória arde : a mão afro-alagoana além da quebra do Xangô

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Almeida, Anderson Diego da Silva
Orientador(a): Silveira, Paulo Antonio de Menezes Pereira da
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/222997
Resumo: Há óleo. Há sangue. Há restos de animais. Há espelhos colados. Há signos de orixás, voduns e inquices bordados. Há cheiro de ritual. Há objetos queimando. É a história de uma coleção secular. A narrativa apresentada, a seguir, foi tecida a partir do conceito de estética assombrada, que permeia a gênese da Coleção Perseverança. Nessa trajetória analítica, o foco era ir à busca de um criador e postular que é possível falar de um artista afro-alagoano, mesmo na impossibilidade de o encontrar fisicamente. Era preciso procurá-lo. E assim foi feito. Mas, também era preciso soprar em cinzas, enxergar camadas escondidas pelo assombro alimentado por teóricos, imprensa e uma sociedade racista. Era preciso ouvir o silêncio de memórias negras, constantemente perseguidas, incrustado em cada peça que compõe o conjunto expositivo, hoje salvaguardado pelo museu do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas – IHGAL. Era preciso não abandonar as histórias que antecederam o Quebra do Xangô, fatídico episódio orquestrado por um grupo miliciano, na noite de 1º de fevereiro de 1912, que culminou com a destruição dos conhecidos xangôs alagoanos, na cidade de Maceió. É desta devassa que a coleção aqui analisada é documento, memória cristalizada numa plástica sagrada. É neste cenário que a tese se constrói e, dele, vai além, propondo evidenciar as mãos de um artista invisível. Mãos afro-alagoanas que se apresentam nas flamas que saltam, constantemente, entre tantos documentos, que denunciam não somente a história do quebra-quebra, todavia, caminhos pelos quais o artista se alimentou criativamente para produzir, apesar das intempéries, sua estética afrorreligiosa. Para tal desafio, foi preciso seguir ancorados em Carlo Ginzburg, Georges Didi-Huberman, Mariano Carneiro da Cunha e Roberto Conduru, por indícios, pistas e inúmeras marcas que, no primeiro sopro, revelaram materiais, técnicas e, consequentemente, significados de feitura local. Contudo, será analisada a história dos objetos a partir das memórias que não se reduzem a 1912, mas que se reverberam numa plástica e funcionalidade intrínsecas aos ritos, aos folguedos e às paisagens de uma Maceió africanizada; histórias outras ainda não contadas. Expressar-se-á, então, que nas páginas que aqui se personificam como a escrita da memória de um anônimo, será encontrado um artista habilidoso, que riscou santos, que se imbuiu pelo sincretismo e não hesitou em se revelar. No assombro, há um artista que cantou ao orixá, que dançou Quilombo e Maracatu. Há um artista que bateu o ilu e rogou o Pai Nosso. Esta tese fala de um artista que se desvela até hoje.