Viver em obras : entre desastres e esperanças : biopolítica do sacrifício e cotidiano no espaço de vida da Grande Cruzeiro (POA-RS)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Palombini, Leonardo Lahm
Orientador(a): Pires, Claudia Luisa Zeferino
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/249756
Resumo: A presente Tese apresenta análise acerca da implantação e execução de uma obra viária na cidade de Porto Alegre, consistente na duplicação da Avenida Cruzeiro do Sul, na Grande Vila Cruzeiro, com suas devidas implicações sobre o espaço de vida das comunidades impactadas. Para a produção de resultados nos utilizamos de pesquisa bibliográfica e documental, entrevistas, observação empírica e trabalhos de campo, através de uma pesquisa participante. Nosso método científico e abordagem epistemológica combina elementos do materialismo-histórico-dialético e da fenomenologia-hermenêutica, apoiados pelo escopo conceitual da filosofia da diferença. Apresentamos algumas coimplicações entre o atual processo de reestruturação do espaço urbano em Porto Alegre, especialmente sobre a periferia da cidade, e os efeitos gerados sobre o cotidiano das populações afetadas, observando as mudanças nas suas relações socioespaciais a partir da adaptação ao contexto de precarização do seu espaço de vida, imposto pelo Poder Público através da Prefeitura de Porto Alegre, que determinou e gerencia as obras. A pesquisa se concentra na área da Grande Cruzeiro, complexo de vilas que conta com mais de 300 mil habitantes, onde ocorreu a remoção de 1580 famílias para duplicação de uma via de acesso à Zona Sul da cidade, conformando um plano viário de avenidas radiais. Essa foi originalmente uma das chamadas “Obras da Copa”, a qual começou no ano de 2012, com o início da remoção das famílias, sendo prometida a sua conclusão para junho de 2014, por ocasião da Copa do Mundo. Entretanto, no ano de 2022, dez anos após iniciado o processo, a mesma continua longe de conclusão, sem previsão garantida de término, impactando profundamente o cotidiano, abalando drasticamente a paisagem e destruindo o espaço de vida da comunidade atingida, o que vêm provocando efeitos deletérios diversos sobre sua sociabilidade e experiência. Para compreender a questão propomos a tese de que estão sendo aplicados sobre a comunidade elementos da biopolítica, estratégia de poder governamental que se dá sobre a gestão tanto da vida cotidiana como dos desejos da população, gestão essa que racionaliza e aplica pontualmente uma economia política sobre a gestão do espaço, fazendo-se valer de discursos, e que acaba por gerar, como resultado, a produção política e social de um desastre, instalando uma zona de sacrifício passageira para que se faça possível, a partir daí, a criação de um meio ideal tanto ao controle da população local quanto para atender às demandas de circulação do capital na cidade. Estabelecemos assim coimplicações entre as demandas globais do capitalismo e as repercussões locais das políticas urbanas metropolitanas. Constatamos que, ante as dificuldades de se viver em obras por mais de uma década, os moradores da comunidade convivem e se adaptam forçosamente às circunstâncias e, embora com revolta ante a política e descrença nas instituições, os mesmos nutrem esperança de ver a obra terminada, sua qualidade de vida restituída e incrementada, e o peso do seu cotidiano finalmente atenuado, a partir do momento em que não precisem mais viver em obras.