Sucessão vegetal e reconstituíção de paleoambientes no interior de matas com Araucária, Planalto Leste do Rio Grande do Sul, Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Scherer, Caroline
Orientador(a): Lorscheitter, Maria Luisa
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/94842
Resumo: Palinomorfos preservados em sedimentos permitem estudos de sucessão vegetal e podem ser excelentes indicadores paleoambientais, possibilitando o melhor entendimento da dinâmica da vegetação e clima. O presente trabalho tem como objetivo estudar a sucessão vegetal e as mudanças climáticas dos últimos milênios no Planalto do Rio Grande do Sul, Brasil, através da palinologia de um perfil sedimentar em cada uma de duas matas com Araucária em São Francisco de Paula: Alpes de São Francisco (perfil 1 - 29º27´26´´S-50º36´57´´W) e Banhado Amarelo (perfil 2 - 29º18´48´´S- 50º08´13´´W). A coleta dos perfis e das amostras para datação por 14C foi feita com o Amostrador de Hiller. Para a análise palinológica extrairam-se 15 amostras do perfil 1 (132 cm) e oito amostras do perfil 2 (101 cm). No processamento químico foi usado HCl, HF, KOH e acetólise, com montagem das lâminas em gelatina-glicerinada. Pastilhas de Lycopodium clavatum foram introduzidas no início do processamento para cálculo da concentração polínica. Em microscópio óptico procurou-se contar um número mínimo de 500 grãos de pólen e 100 esporos de L. clavatum em cada amostra, com contagem paralela dos demais palinomorfos. As descrições taxonômicas foram acrescidas de dados ecológicos e as fotomicrografias realizadas, em geral, em aumento de 1000×. Os diagramas palinológicos foram montados nos programas Tilia e Tilia Graph, e a análise de agrupamentos realizada pelo programa CONISS. Identificaram-se 110 palinomorfos (8 fungos, 6 algas, 5 briófitos, 20 pteridófitos, 3 gimnospermas, 65 angiospermas e 3 outros palinomorfos). Em Alpes de São Francisco a análise dos resultados revelou, entre 13000-11000 anos AP, um clima frio e seco, com um corpo lacustre no local de estudo, com margens pantanosas, circundado por campo rarefeito. As matas provavelmente se encontravam em refúgios nesta fase. Entre 11000-10000 anos AP dados indicam uma melhoria climática, com a elevação da temperatura e umidade. Ocorre a colmatação gradativa do corpo lacustre local pela vegetação herbácea, o campo adjacente se adensa e as matas regionais iniciam sua expansão desde os refúgios. A partir de 9400 anos AP há evidências de condições climáticas mais adversas, com clima seco, que se prolonga até cerca de 5600 anos AP. A vegetação de campo se retrai e as matas se concentram em refúgios. Entre 5600-3300 anos AP, as condições de umidade voltam gradativamente à região, com expansão das matas e a transformação do pântano local em turfeira. Esta é substituída pela mata com Araucária, cujo máximo de expansão se dá há cerca de 3300 anos AP. Ao contrário, no Banhado Amarelo a fase entre 4300-3200 anos AP ainda mostra um pântano herbáceo no local, circundado por um campo rarefeito, e a presença provável de refúgios florestais na região, indicando um atraso na resposta à melhoria climática, provavelmente devido ao condicionamento geográfico. Os efeitos dessa melhoria só são perceptíveis para a fase entre 3200-1600 anos AP no Banhado Amarelo, com desenvolvimento da vegetação, especialmente da mata. Após 3300 anos AP, dados sugerem a possível redução da capacidade reprodutiva da vegetação de mata em Alpes de São Francisco, ao que tudo indica decorrente de aumento da temperatura global. No Banhado Amarelo o efeito desse aumento é perceptível mais tardiamente, no intervalo posterior há 1600 anos AP. A retração do pólen arbóreo no topo dos dois testemunhos deve estar ligada também à atividade humana recente. Os resultados mostram que, uma vez implantada a umidade regional necessária ao desenvolvimento da mata com Araucária, o início do desenvolvimento florestal dos últimos milênios no leste do Planalto dependeu das condições geográficas de cada local. Em Alpes de São Francisco as evidências mostram também a potencialidade das turfeiras atuais como possíveis predecessoras de futuras matas com Araucária no Planalto, dentro de um clima favorável.