Resumo: |
Essa pesquisa analisa os sentidos e as disputas por justiça protagonizadas por ribeirinhos e agricultores familiares no conflito ambiental em torno da construção da barragem hidrelétrica de Itá, entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Busca-se compreender o que as pessoas atingidas pela barragem de Itá consideram justo ou injusto nesse processo de conflito, e como agiram diante do que consideram injusto. Nossa hipótese inicial considerava que havia uma preponderância do sentimento de injustiça, e uma atenção prioritária para questões de reparação e para as relações comunitárias, mas a pesquisa em campo nos demonstrou que os sentidos de (in) justiça dos atingidos estão ativados diante de uma diversidade de questões, que vão desde as reparações, ao desenvolvimento da região, participação social, aproveitamento das vantagens da barragem (lucros, impostos), relações comunitárias, relação com território, utilização do rio, entre outros. Como procedimentos metodológicos, foram realizadas entrevistas no território atingido e também pesquisa documental em arquivos históricos e trabalhos científicos. Como ferramentas analíticas foram mobilizadas as abordagens da Sociologia Pragmática, a partir do enfoque apontado pelo sociólogo francês Luc Boltanski e seus colaboradores, especialmente as categorias dos regimes de ação dos atores (principalmente a disputa por justiça), de sentidos de justiça e acordos em conflitos. Para completar nossas análises recorremos às noções de “direito à reparação” propostas pela antropóloga americana Barbara Rose Johnston. Nossas conclusões indicam que o conflito ainda continua, hoje menos explicitado do que vinte anos atrás, quando se buscava evitar a construção da barragem, mas permanece por existir atingidos em regimes de disputa por justiça, se utilizando das ferramentas desse regime, como argumentação e justificação, para continuar realizando críticas e denúncias contra a barragem, tanto por questões passadas, como questões da sua fase atual. |
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