Universidade para poucos como projeto do capital : ideologia e comunicação na disputa do sentido de universidade no governo Bolsonaro (2019-2022)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Almeida, Charles Florczak
Orientador(a): Baldissera, Rudimar
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/266376
Resumo: Este trabalho tem como tema a disputa do sentido de universidade durante o governo Bolsonaro. A ascensão de Bolsonaro foi acompanhada de discursos contrários à universidade pública federal e de políticas de cortes orçamentários, que desencadearam mobilizações contrárias. Buscamos compreender o sentido de universidade do governo Bolsonaro (2019 - 2022), tendo em vista o caráter ideológico das disputas estabelecidas entre governo e movimentos de resistência formados por entidades estudantis e sindicais e pelas universidades federais. Trata-se de uma disputa ideológica, em que formas de elaboração ideal surgem para tornar a práxis consciente e capaz de agir para mudar a situação. Tomamos a comunicação como constituinte do processo social amplo, no interior do qual ocorrem as disputas e onde elas fazem sentido. O sentido de universidade se refere a sua concretude real, à compreensão de o que está em jogo do ponto de vista da totalidade social. Partindo de uma revisão do conceito de ideologia em autores marxistas, adotamos a perspectiva de Lukács (2013). A contribuição de Bakhtin/Voloshinov (2006) nos dá o aporte para pensar e estudar os enunciados envoltos nas disputas em uma corrente de comunicação ininterrupta. Para contextualizar os embates, buscamos entender as transformações históricas da universidade brasileira, relacionada à formação econômico-social de capitalismo dependente (MARINI, 2008; LUCE, 2018) e à autocracia burguesa (FERNANDES, 1976), bem como às implicações do período neoliberal. Proposições de Fernandes (2020) e Ribeiro (1969) são acionadas para refletir sobre o papel que a universidade pode desempenhar para a transformação social. Analisamos o surgimento do bolsonarismo e a eleição de Bolsonaro, no momento de crise política, econômica e social, como adesão burguesa ao movimento neofascista para garantir a continuidade de reformas estruturais de seu interesse. A análise empírica debruçou-se sobre materiais variados que tematizaram a universidade, incluindo postagens no Twitter dos ministros da educação, lives e postagens do presidente Bolsonaro, leis, normas, portarias, medidas provisórias, entrevistas, declarações com repercussão na imprensa, bem como notas e notícias de entidades representativas (Andes, UNE, ANPG e Fasubra). Consideramos que o plano de governo de Bolsonaro converteu-se num plano de ataque às universidades, como uma tomada de consciência pela burguesia reacionária representada pelo governo, conformando as universidades como o inimigo. A partir daí, analisamos embates entre governo e movimentos de resistência, perpassados por processos comunicacionais. Os eixos de enfrentamento destacados no trabalho envolveram o asfixiamento orçamentário das universidades públicas, junto com o estímulo à expansão do setor privado e do ensino a distância; o programa de universidade empreendedoras - Future-se, como proposta privatizante; a intervenção nas universidades com a nomeação de reitores não eleitos; os atos de perseguição ideológica e a aplicação às universidades da política de estímulo à contaminação na pandemia de Covid-19. Assim, apontamos como principais resultados que bases ideológicas do “dependentismo”, neoliberalismo e neofascismo foram conformadas em processos comunicacionais, desobraram-se em formulações do gerencialismo, do empreendedorismo, da doutrinação ideológica, etc. dando um caráter de atualização reacionária ao governo Bolsonaro, que enfatizou elementos de privatização já existentes na universidade brasileira e adicionou formulações neofascistas minando o sentido público e o pensamento crítico. A formulação Universidade para poucos sintetiza o sentido de universidade do governo, em que poucos se refere aos interesses das classes dominantes, ao mesmo tempo em que universidade é uma extensão alienada do mercado.