Devir território de (co)existência : práticas sociomateriais e relacionamentos multiespécie na comunidade de San Gerardo de Oreamuno (Costa Rica)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Arias, Luis Miguel Barboza
Orientador(a): Marques, Flávia Charão
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/279803
Resumo: A análise crítica da (co)habitabilidade multiespécie pode contribuir de maneira inovadora à agenda contemporânea dos Estudos sobre Desenvolvimento Rural. Ao trazer novos atores sociais para a discussão sobre a des/re/composição material dos territórios, a Perspectiva Antropológica Multiespécie destaca como as modulações transindividuais e múltiplas que emergem do situado estão reconfigurando a participação de diversos atores (humanos e mais-do-que-humanos) em fenômenos territoriais cada vez mais complexos. A tese apresentada examina as redes vitais que constituem um território de (co)existência em San Gerardo de Oreamuno (Cartago, Costa Rica). A pesquisa foca nos relacionamentos entre humanos e as populações de coiotes (Canis latrans) e taltuzas (Heterogeomys heterodus) que (co)habitam na localidade. O objetivo é compreender como esses vínculos, fundamentados em práticas e valores territoriais, estruturam a vida cotidiana, indo além dos elementos econômicos, institucionais e de mercado. Do ponto de vista teórico, a tese propõe diálogos entre a Pesquisa Antropológica Multiespécie e a Perspectiva Orientada ao Ator (POA) para revelar as vitalidades que contribuem para novas potencialidades no desenvolvimento territorial. Ao prestar atenção aos relatos organizados pelas vitalidades mais-do-que-humanas e questionar as abordagens prescritivas do desenvolvimento, enfatiza-se a importância dos agenciamentos e das capacidades performativas que envolvem esses seres nos processos situados de desenvolvimento. Essa perspectiva vai além das interpretações que veem o ideal desenvolvimentista como uma arte exclusiva da gestão burocrática conduzida por governos e mercados. O estudo empírico das dinâmicas sociomateriais no território, presente nesta tese, oferece interfaces analíticas que avançam em uma nova epistemologia da vitalidade. Alguns conceitos teórico-metodológicos são delineados para explorar criativamente como as narrabilidades outras-que-não-humanas provocam o surgimento de novas formas de compromisso e resposta. Esses conceitos destacam as provocações e a proatividade trazidas por outras vitalidades e entidades, bem como a maneira como elas afetam e são afetadas pelo caráter contingente e sempre inacabado das redes de relações em que participam. Argumenta-se que há uma ampla variedade de relacionamentos que, embora significativos para os processos de desenvolvimento territorial, não adquirem o caráter de “questão pública”. Muitas interações entre humanos e espécies silvestres estão ligadas a problemáticas do desenvolvimento, mas frequentemente não são abordadas pelas narrativas antropocêntricas dominantes. Portanto, essas formas de encontro se tornam relevantes para entender como as práticas sociomateriais situadas mobilizam e (re)configuram as potencialidades do desenvolvimento. A tese destaca a importância de reconhecer e valorizar os relacionamentos multiespécie para promover um desenvolvimento territorial mais inclusivo e sintonizado com os diversos mundos de vida que compõem a vida territorial e suas constantes transformações. A tese evidencia, por último, como a Pesquisa Antropológica Multiespécie em San Gerardo de Oreamuno permitiu identificar práticas de (co)existência que expressam configurações territoriais inéditas. Essas práticas destacam a importância do que pode ser chamado de “ecologias de proximidade”, as quais suscitam formas regenerativas de encontro e intensidade afetiva, vislumbrando a aliança e a cooperação entre diferentes organismos e expressões vitais.