Caracterização genética e clínica de pacientes com epidermólise bolhosa do Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Mariath, Luiza Monteavaro
Orientador(a): Faccini, Lavinia Schuler
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/212091
Resumo: A epidermólise bolhosa (EB) hereditária compreende um grupo de doenças genéticas caracterizadas por fragilidade cutânea e formação de bolhas na pele e membranas mucosas em resposta a trauma mínimo. A EB é clínica e geneticamente heterogênea, sendo classificada em quatro tipos principais de acordo com a camada da pele na qual ocorre a formação de bolhas: EB simples (EBS; intraepidérmica), EB juncional (EBJ; dentro da lâmina lúcida da membrana basal), EB distrófica (EBD; abaixo da membrana basal) e Síndrome de Kindler (padrão misto de clivagem da pele). Além disso, a EB é subclassificada em diversos subtipos, que levam em consideração as características clínicas, a distribuição das bolhas e a gravidade dos sinais cutâneos e extra cutâneos. Variantes patogênicas em ao menos 16 genes, que codificam proteínas essenciais para integridade e adesão das camadas da pele, já foram associadas aos distintos subtipos de EB. Dada a escassez de estudos genéticos sobre esta doença no Brasil, o objetivo desse trabalho foi realizar uma caracterização genética e clínica de pacientes com EB do Brasil, visando contribuir para a melhor compreensão das bases moleculares associadas. Mais ainda, a identificação de variantes prevalentes tem importante implicação para definição de prioridades em testes genéticos futuros. Um total de 109 pacientes, sendo 87 casos índice (25 do subtipo EBS, 4 EBJ e 58 EBD) e 22 familiares afetados (10 EBS, 1 EBJ, 11 EBD) foram incluídos no estudo. Um painel de genes baseado em sequenciamento de nova geração foi desenvolvido para a análise genética dos pacientes e incluiu os 11 genes principais associados à EB (KRT5, KRT14, PLEC, TGM5, LAMA3, LAMB3, LAMC2, COL17A1, ITGB4, COL7A1 e FERMT1). A caracterização das variantes patogênicas da amostra estudada indicou um total de 72 variantes distintas, sendo 32 novas. Entre as variantes recorrentes, duas substituições que afetam o mesmo resíduo da q Entre as variantes recorrentes, duas substituições que afetam o mesmo resíduo da queratina 14 (p.Arg125Cys e p.Arg125His) estiveram presentes em 32% dos casos de EBS. Com relação aos casos de EBD, quatro variantes no gene do colágeno tipo VII (p.Arg1683Ter, c.325_326insCG, c.7380+2T>C e c.1758del) apresentaram alta frequência, representando 34,9% de todos os alelos do gene COL7A1. A ausência congênita de pele é um sinal clínico raro associado aos principais subtipos de EB. Na amostra analisada, foram identificados 26 pacientes que nasceram com essa condição clínica, indicando que a ausência congênita de pele pode ser um sinal clínico mais 12 frequente do que anteriormente sugerido. A análise de possíveis correlações genótipo-fenótipo em 23 desses pacientes corroborou hipótese prévia de uma influência de variantes próximas às interrupções do domínio de tripla hélice do colágeno tipo VII à ocorrência desse fenômeno em EBD. Além disso, foi realizada uma extensa revisão de casos previamente descritos na literatura sobre EB com ausência de pele congênita, o que caracterizou, ao que sabemos, a maior revisão acerca dessa condição. Entre os diversos subtipos de EB existe uma significativa sobreposição entre os sinais clínicos de algumas formas da doença, o que dificulta o diagnóstico baseado apenas na avaliação clínica. Considerando essa problemática, foi realizada uma comparação entre a hipótese clínica inicial e o resultado genético definitivo dos pacientes com EB incluídos nesse estudo. Para 42,1% dos casos, o resultado genético foi essencial para o diagnóstico do subtipo de EB, demonstrando que a avaliação clínica não resolve todos os casos da doença, mesmo se realizada por especialistas. Ademais, foi encontrada elevada frequência de variantes de splicing em indivíduos com formas leves de EBD recessiva. É possível que tais variantes estejam naturalmente associadas a in-frame exon-skipping, um mecanismo que gera a exclusão completa de um éxon sem causar alteração no restante da proteína formada. Esse mecanismo vem sendo estudado como potencial terapia para casos graves de EB. Historicamente, o diagnóstico de EB é realizado por mapeamento de imunofluorescência (MIF) ou microscopia eletrônica de transmissão (MET). No Brasil, no entanto, o acesso aos métodos de diagnóstico é limitado e, consequentemente, muitos pacientes não têm diagnóstico preciso do tipo de EB associado. Dada a alta eficiência de diagnóstico do painel de genes desenvolvido (94,3%), foi realizada uma avalição do custo-benefício do método proposto em comparação às técnicas de MIF e MET, analisando benefícios e limitações e aspectos econômicos envolvidos. Ainda que os métodos de MIF e MET tenham precisão diagnóstica, eles não indicam o modo de herança genética, dependem da experiência do analista e exigem biópsia de pele. O painel de genes desenvolvido apresenta alta eficiência diagnóstica, dispensa a necessidade de biópsia de pele e possibilita o prognóstico, o diagnóstico genético pré-natal e pré-implantacional, e o aconselhamento genético. Os resultados da avaliação apoiam o painel de genes como método de primeira escolha para o diagnóstico de EB no Brasil. Em conclusão, o presente trabalho descreveu, pela primeira vez, as bases genéticas de uma grande amostra brasileira de EB, expandiu o espectro de variantes patogênicas 13 conhecidas, explorou potenciais correlações genótipo-fenótipo em sinais clínicos e variantes genéticas específicas, e apresentou um método viável e eficiente para o diagnóstico da doença. As descobertas aqui apresentadas serão importantes para a melhor compreensão do complexo background molecular existente na EB. Esse estudo tem importantes implicações para o diagnóstico genético dos pacientes, para o aconselhamento genético e para futuros estudos em terapias moleculares para EB.