Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
1996 |
Autor(a) principal: |
Ribeiro, Maria Flavia Marques |
Orientador(a): |
Spritzer, Poli Mara |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/279721
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Resumo: |
A prolactina (PRL) é um hormônio secretado pela hipófise anterior que exerce múltiplas funções, relacionadas ou não com os processos reprodutivos. Este hormônio é importante no início e manutenção da lactação e modula a ação das gonadotrofinas. Desta forma, modificações na sua secreção, como a hiperprolactinemia, estão associadas com alterações menstruais, galactorréia e infertilidade. Além disso, os prolactinomas são os adenomas hipofisários mais prevalentes e, uma causa relativamente freqüente de hiperprolactinemia. A regulação da secreção de PRL é bastante complexa, envolvendo vários sistemas de neurotransmissores centrais e neuropeptídeos de origem hipotalâmica ou dos lobos hipofisários posterior e intermediário. Os principais estímulos fisiológicos para sua secreção são a sucção, o estresse e o estrogênio. A própria PRL autorregula sua secreção e sofre influências de vários peptídeos que atuam através de mecanismos parácrinos e autócrinos. Diferente de outros hormônios hipofisários, a PRL não é regulada por retroalimentação de hormônios secretados pela glândula alvo, e o controle hipotalâmico é essencialmente inibitório. A dopamina é responsável pela inibição tônica exercida pelo hipotálamo e sua ação pode ser modulada por outros reguladores, principalmente os liberadores, como o estrogênio. O estrogênio é um potente estimulador da secreção de PRL e sua administração pode induzir adenomas hipofisários dependendo da dose, duração do tratamento, espécie e suscetibilidade da cepa. A bromocriptina (BCP) é um agonista dopaminérgico bastante eficiente em reduzir a hiperprolactinemia e o tamanho de tumores hipofisários secretores de PRL, tanto clínica como experimentalmente. Considerando que os estrogênios induzem hiperprolactinemia, têm sido investigados os efeitos sobre a secreção de PRL de alguns fármacos com ação antiestrogênica, como o tamoxifeno e os progestogênios. O tamoxifeno (TAM) é um inibidor competitivo do receptor estrogênico, enquanto os progestogênios atuam diminuindo os receptores estrogênicos e/ou estimulando a enzima conversora de estradiol em estrona. Existe um grande número de modelos experimentais para o estudo da regulação da secreção de PRL, dependendo dos parâmetros avaliados. O estímulo da função e proliferação lactotróficas através da administração de estrogênios é um desses modelos, embora não haja uma padronização quanto aos fármacos, às doses e à duração dos tratamentos utilizados. O objetivo deste trabalho foi desenvolver um modelo experimental de hiperprolactinemia dependente do estrogênio, avaliando-se níveis de PRL sérica, peso da hipófise e percentual de células imunorreativas à PRL na hipófise de ratas, que receberam vários esquemas de tratamento estrogênico. Após a validação do modelo pela avaliação das variáveis estudadas em resposta à administração de BCP, foram investigados os efeitos de um progestogênio, o acetato de noretisterona (NA), de um antiestrogênio, o tamoxifeno (TAM), e da associação de TAM com NA e BCP, sobre os mesmos parâmetros. Foram utilizadas ratas Wistar adultas, ovariectomizadas e tratadas semanalmente, durante 2, 4 ou 10 semanas, com duas doses de benzoato de estradiol (BE): 50 ou 300 μg/rata (E50 e E300, respectivamente). Associado ao BE também foram administrados, nos últimos 5 ou 12 dias do tratamento estrogênico, BCP (0,05 ou 0,6 mg), NA (0,5 ou 0,1 mg), TAM (20 ou 60 μg) ou TAM combinado com NA e BCP, nas doses mais baixas. Estes fármacos foram administrados diariamente e todas as injeções foram realizadas por via subcutânea. As ratas foram sacrificadas por decapitação, e as hipófises foram removidas imediatamente, pesadas e fixadas em formalina para posterior processamento por imunohistoquímica. O sangue troncular foi coletado, centrifugado e o soro armazenado a -20°C até a dosagem de PRL por radioimunoensaio de duplo anticorpo. As hipófises foram incluídas em parafina e três cortes de cada uma foram corados de acordo com o método da avidina-biotina-peroxidase (HSU et al., 1981 modificado por COUTINHO, 1988). O cromógeno utilizado foi o diaminobenzidina (DAB). Em áreas escolhidas ao acaso foram contadas 200 células nucleadas, registrado o número de células contendo PRL e o resultado foi expresso em percentual de células coradas em relação ao número total de células contadas. Foram determinados os valores de referência para as variáveis estudadas, ou seja, niveis de prolactina sérica, peso da hipófise e percentual de lactotrofos, nos grupos controle. Em relação à PRL sérica e ao peso da hipófise, observou-se que não houve diferença significativa entre os dados obtidos em ratas ovariectomizadas e intactas. Além disso, constatou-se a reprodutibilidade destes resultados. Avaliou-se a variação das concentrações de PRL sérica durante as fases do ciclo estrale, verificou-se que não houve diferença significativa entre as médias da concentração de PRL nas diferentes fases do ciclo, nem em relação às ratas intactas. Os resultados deste trabalho mostram que houve diminuição significativa no percentual de lactotrofos das ratas ovariectomizadas em relação ao número encontrado nas ratas intactas. Estabeleceram-se duas condições de hiperprolactinemia: um estado de hiperprolactinemia "funcional" e outro, com hiperprolactinemia associada a aumento do peso hipofisário e proliferação de lactotrofos. A administração da dose maior de BE (E300) promoveu alterações proliferativas na hipófise, enquanto a dose menor (E50) gerou hiperprolactinemia "funcional". Este modelo experimental foi validado com a reprodução dos efeitos antiprolactinêmicos e antiproliferativos da BCP. Esses efeitos foram dependentes da dose utilizada. A determinação dos efeitos do NA sobre os mesmos parâmetros demonstrou que os efeitos antiproliferativos foram observados em ratas tratadas com E300 e não nas tratadas com E50. Quanto aos níveis de PRL sérica, a administração de NA (0,5 mg) associado ao tratamento com E50/4 semanas, E300/2 semanas e E300/4 semanas reduziu parcialmente esses níveis. Por outro lado, a associação de NA (0,1 mg) ao tratamento prolongado com E300 (10 semanas) produziu redução significativa da concentração de PRL sérica, mas não induziu alterações proliferativas na hipófise. Estes dados sugerem que o efeito antiprolactinêmico do NA depende de um equilíbrio de doses com o BE, e que a existência de hiperprolactinemia prévia pode ser um fator importante. Para demonstrar redução do peso da hipófise e do percentual de lactotrofos em ratas tratadas com E300, durante 2 e 4 semanas, foi necessária a administração de NA durante 12 dias. A combinação de TAM e NA associada ao tratamento estrogênico prolongado com E300 não modificou os níveis séricos de PRL nem o peso da hipófise. Quanto ao percentual de lactotrofos, a utilização de 20 μg de T AM combinado com NA potencializou o efeito antiproliferativo desses fármacos. Isso ocorreu, possivelmente, devido à diferença entre os mecanismos de ação do TAM e do NA. Também foi avaliado o efeito da associação de TAM e BCP e verificou-se que essa associação não alterou significativamente o peso hipofisário e o percentual de lactotrofos. Em relação aos níveis séricos de PRL, o TAM parece ter bloqueado o efeito antiprolactinêmico da BCP. Neste caso, o TAM poderia ter agido como agonista estrogênico antagonizando os efeitos dopaminérgicos. Esta hipótese não foi testada neste trabalho. Os dados do presente trabalho enfatizam a importância da interação estrogênio/antiestrogênio na expressão da hiperprolactinemia. Estudos posteriores poderão definir melhor a função dos antiestrogênios, os mecanismos moleculares através dos quais atuam em estados hiperprolactinêmicos e sua relação com a dopamina e seus agonistas, e/ou com os progestogênios. Além disso, o modelo experimental desenvolvido neste trabalho permite investigar mais profundamente as interações dos estrogênios com outros reguladores da secreção da PRL, como dopamina, progestogênios, e vários neurotransmissores e/ou neuromoduladores sabidamente importantes nessa regulação. |