Proteínas desacopladoras e cirurgia bariátrica : revisão sistemática e estudo de associação entre polimorfismos - 866G/A e INS/DEL do gene UCP2 e a perda de peso a curto prazo em pacientes submetidos à bypass gástrico

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Oliveira, Mayara Souza de
Orientador(a): Crispim, Daisy, Souza, Bianca Marmontel de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/268258
Resumo: A obesidade é uma doença crônica multifatorial caracterizada por um acúmulo excessivo de gordura corporal resultante de um desequilíbrio energético entre a ingestão e o gasto calórico. Atualmente, esta doença atinge 6,7 milhões de pessoas no Brasil. Em 2019, 407.589 pessoas foram diagnosticadas com obesidade grau III [índice de massa corporal (IMC) acima de 40 kg/m²], o que representava 3,14% das pessoas monitoradas. A cirurgia bariátrica e metabólica está consolidada como um tratamento eficaz contra a obesidade grave, trazendo uma perda de peso duradoura e melhora das comorbidades associadas à doença, promovendo redução da morbidade e mortalidade. O Brasil é o segundo país no mundo que mais realiza operações deste tipo, com 100 mil registros por ano, e fica atrás apenas dos EUA, sendo as taxas de resolução da doença superiores a 90%, com uma taxa de mortalidade de pacientes que optam pelo tratamento que não ultrapassa a 0,15%. As proteínas desacopladoras (UCPs) pertencem a uma família de proteínas carreadoras de ânions e estão localizadas na membrana mitocondrial interna. A UCP1 é principalmente expressa no tecido adiposo marrom, a UCP2 apresenta uma ampla distribuição tecidual e a UCP3 é mais comumente expressa no músculo esquelético. As UCPs desacoplam levemente a fosforilação oxidativa da síntese de ATP, dissipando o gradiente de prótons gerado através da membrana mitocondrial interna e, consequentemente, diminuindo a produção de ATP. Esse desacoplamento está associado a funções tecido específicas, com regulação da termogênese (UCP1), regulação do gasto energético (UCP1-3), metabolismo dos lipídeos (UCP2 e 3), redução da produção de espécies reativas de oxigênio (UCP1-3) e regulação da secreção de 12 insulina pelas células-beta pancreáticas (UCP2). Estes mecanismos estão associados com o ganho de peso e a obesidade. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi avaliar a potencial influência das UCPs 1-3 e a associação dos polimorfismos -866G/A e Ins/Del no gene UCP2 e a perda de peso após cirurgia bariátrica. Para isto, primeiramente, investigamos as associações entre as UCP1–3 (expressão e polimorfismos) e a variabilidade da perda de peso após a cirurgia bariátrica através de uma revisão sistemática da literatura. Além disso, em um estudo de coorte retrospectiva, avaliamos se os polimorfismos -866G/A e Ins/Del no gene UCP2 estão associados à magnitude da perda de peso induzida por bypass gástrico em Y de roux (RYGB) em pacientes de uma população do sul do Brasil acompanhados por 18 meses. Em nosso primeiro estudo, realizamos uma busca sistemática na literatura (PubMed e EMBASE), buscando estudos que avaliaram a associação entre as UCPs e a perda de peso pós-cirurgia bariátrica. Foram incluídos nesta revisão 26 estudos observacionais (caso-controle ou coorte), sendo 18 estudos com dados de expressão gênica tecidual e 8 estudos com dados de frequência dos polimorfismos. Oito estudos avaliaram a expressão de Ucp1 em tecido adiposo (TA) marrom de animais alimentados com dieta high-fat, porém sem resultados conclusivos sobre mudanças de sua expressão após cirurgia bariátrica. A expressão de UCP2 foi avaliada em 8 estudos clínicos, que mostraram aumento da expressão deste gene em músculo e TA subcutâneo de pacientes submetidos à RYGB, porém diminuição da sua expressão nestes mesmos tecidos após cirurgia de derivação biliopancreática (BPD). Em relação aos estudos de expressão de 13 UCP3, de 7 estudos clínicos, 4 estudos observaram a diminuição da expressão de UCP3 em TA e/ou músculo esquelético. Em relação aos estudos de associação de polimorfismos nos genes UCPs com cirurgia bariátrica, dados da associação dos polimorfismos -866G/A e Ala55Val no gene UCP2 foram divergentes, provavelmente devido às diferenças étnicas presentes nos 8 estudos e pequeno número amostral. Os polimorfismos -3826A/G no gene UCP1 e -55C/T no gene UCP3 não parecem estar associados com a perda de peso após cirurgia bariátrica. No segundo estudo investigamos a associação dos polimorfismos -866G/A e Ins/Del no gene UCP2 com a perda de peso após cirurgia bariátrica em uma coorte retrospectiva. Para tal, 186 pacientes submetidos à RYGB foram recrutados e seus dados clínicos e antropométricos de pré-operatório e pós-operatório de 6, 12 e 18 meses foram coletados. Os dados obtidos revelam que pacientes com o genótipo -866A/A mantiveram IMC maior nos 6, 12 e 18 meses após RYGB (p= 0,014, 0,028 e 0,041, respectivamente), bem como excesso de peso após 6 e 12 meses (p= 0,042 e 0,042), enquanto a perda de excesso de peso (EWL%) foi menor após 6 e 12 meses (p= 0,013 e 0,015) comparados com os portadores do genótipo G/G. Em relação ao polimorfismo Ins/Del, pacientes com o alelo Ins tiveram menor ΔIMC 12 meses após RYGB comparados com pacientes Del/Del (p= 0,049). Além disso, pacientes com o alelo Ins apresentaram maiores níveis de triglicerídeos comparados a pacientes Del/Del (p= 0,011). Após análise de haplótipos constituídos pelos dois polimorfismos, observou-se que pacientes que possuíam 2 ou mais alelos de risco tinham menores ΔIMC após 6 meses de RYGB e maiores valores de IMC e excesso de peso após 12 e 18 meses de cirurgia comparados com portadores de ≤1 alelo de risco. Além disso, pacientes com ≥2 14 alelos de risco tiveram menor EWL% após 6, 12 e 18 meses quando comparados com portadores de ≤1 alelo de risco. Em conclusão, os dados apresentados evidenciam o importante papel das UCPs 1,2 e 3 na perda de peso após cirurgia bariátrica. Os diferentes procedimentos de cirurgia bariátrica podem causar efeitos divergentes na expressão das UCPs acima mencionadas. Evidencia-se também a influência dos polimorfismos -866G/A e Ins/Del do gene UCP2 na perda de peso após RYGB.