No corre : o encontro entre a gestão autônoma da medicação e a redução de danos nas práticas de um CAPS AD

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Oliveira, Douglas Casarotto de
Orientador(a): Palombini, Analice de Lima
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/276688
Resumo: Esta tese problematiza o encontro entre a Gestão Autônoma da Medicação (GAM) e a Redução de Danos (RD) nas práticas de um Centro de Atenção Psicossocial álcool e outras drogas, no período entre 2019 até 2023, sob perspectiva de um trabalhador-pesquisador, com a pretensão de contribuir com o processo de Reforma Psiquiátrica Brasileira (RPB) em suas necessidades no contemporâneo. A investigação percorre três estratos epistemo-metodológicos - decolonial, cartográfico e pharmakoanalítico –, os quais emergem em rede, na composição de narrativas de um cotidiano de trabalho-pesquisa, com suporte em materiais de diferentes proveniências – artigos, teses, dissertações, leis, vídeos, conteúdos de redes sociais, músicas –, tomados de forma não hierarquizada e articulados a conceitos como o de perspectivismo multinaturalista ameríndio, de Viveiros de Castro, Máquina de Guerra Nômade (MdGN), de Deleuze e Guattari; Pharmakon, de Escohotado; aquilombamento, de Emiliano David; branquitude crítica, de Lia Schucman; rede aracniana, de Deligny; confluência, de Antônio Bispo dos Santos. O encontro GAM-RD é abordado numa atenção aos diferentes movimentos de desterritorialização das práticas de Saúde, sendo o primeiro aquele que possibilitou o surgimento da RD como MdGN, ao final da década de oitenta, através da atuação dos Agentes Redutores de Danos (ards) como trabalhadores de saúde experts por experiência, os quais revolucionaram o cotidiano de cuidado de pessoas que usam álcool e outras drogas e o próprio Sistema Único de Saúde. A tese acompanha, então, uma RD que se desdobra em nível macropolítico, assumindo, como características necessárias ao cotidiano da RPB no contemporâneo, a intersetorialidade e a interseccionalidade. Em nível micropolítico, a tese acompanha uma RD que se depara com suas bordas e se abre a um encontro com a GAM, incorporada como um de seus componentes, com a força de acionar potencial de MdGN nos envolvidos nas cenas de cuidado – trabalhadores, usuários, familiares, acadêmicos, movimento social. Encontramo-nos com uma GAM-RD em abrasileiramento, que indica a necessidade de que os CAPS, como equipamentos estratégicos da Rede de Atenção Psicossocial, afirmem as iniciativas de geração de trabalho e renda através de Empreendimentos de Economia Solidária como “carros chefes” de suas práticas, incidindo num determinante específico do agravamento das situações de sofrimento psíquico – a inexistência de renda e a negação do direito ao trabalho. Um tal dispositivo de geração de renda tem como condição de funcionamento a autonomia dos envolvidos e a cogestão dos processos, forçando uma dinâmica clínico-institucional que necessita da ocupação da cidade para operar. Por fim, a experiência GAM-RD como dispositivo que incide sobre o CAPS como um todo levou à problematização da noção de equipe mínima do CAPS, propondo a ideia de equipe máxima, materializada na biointeração entre diferentes protagonistas da cenas de cuidado, com seus saberes em confluência. Possibilitou, também, uma outra leitura clínico-institucional das dinâmicas do serviço que impossibilitavam a permanência de determinadas populações no cotidiano do CAPS, indicando que as práticas GAM-RD têm o potencial de acionar nos envolvidos uma sensibilidade às diferenças e um movimento de produção de práticas que tornam o CAPS um lugar de potência produtora de vida.