Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2011 |
Autor(a) principal: |
Reck Junior, José |
Orientador(a): |
Termignoni, Carlos |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/33237
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Resumo: |
Carrapatos são artrópodos hematófagos com ampla distribuição mundial, sendo capazes de parasitar quase todos os animais vertebrados terrestres. Estes parasitos causam grandes impactos em saúde pública e na produção animal por serem vetores de diversas doenças infecciosas e, também, pelos distúrbios diretos associados ao parasitismo. O Ornithodoros brasiliensis, conhecido popularmente como carrapato mouro, é uma espécie de carrapato somente encontrada no Brasil, e com distribuição restrita à região dos Campos de Cima da Serra no Rio Grande do Sul (RS). Desde os primeiros relatos, O. brasiliensis tem sido considerado um potencial risco à saúde pública no RS devido a ocorrência de parasitismo em humanos. Somado a isto, alguns relatos indicam que sua picada é capaz de induzir distúrbios locais e sistêmicos severos nas pessoas e animais parasitados, possivelmente enquadrando-se na definição de toxicose induzida pela picada de carrapatos. Depois de mais de 50 anos sem relatos sobre O. brasiliensis, recentemente, novos casos de parasitismo humano e animal foram observados na mesma região onde este carrapato foi originalmente descrito. O objetivo deste trabalho é caracterizar o parasitismo pelo carrapato O. brasiliensis, bem como a síndrome tóxica desencadeada nos hospedeiros parasitados. Com esta finalidade, neste trabalho realizamos: (i) um estudo epidemiológico sobre o parasitismo por O. brasiliensis, determinando sua prevalência em propriedades situadas nos municípios de São Francisco de Paula e Jaquirana (regiões de ocorrência natural), descrevendo características de seu habitat e determinando possíveis fatores de risco associados à sua ocorrência; (ii) a descrição de casos retrospectivos de parasitismo em humanos e animais domésticos; (iii) a descrição de um caso clínico de toxicose induzida por O. brasiliensis em cão naturalmente parasitado; (iv) a caracterização clínico-patológica do parasitismo e da toxicose experimentalmente induzida pela picada de O. brasiliensis em ratos; (v) a caracterização dos efeitos do conteúdo salivar sobre o processo de cicatrização in vivo e sobre células endoteliais. Entre as propriedades incluídas na amostragem, em 16,7% foram coletados exemplares de O. brasiliensis. O. brasiliensis foram encontrados perto das habitações humanas e enterrados no solo em pequenas áreas com grande densidade de parasitos, em uma espécie de “ninho”. A análise dos fatores de risco demonstrou que somente duas das 17 variáveis estudadas (falta de higiene e a presença de porão com chão de terra na propriedade) aumentam a probabilidade de ocorrência deste carrapato. Foram identificadas 28 pessoas e 11 cães previamente parasitados. A partir de relatos foi possível identificar os principais sintomas associados ao parasitismo: prurido, eritema, edema, dor, lesão de lenta cicatrização. Evidências indicam que, além do homem e do cão, Conepatus chinga (zorrilho) e Dasypus hybridus (tatu-mulita) podem servir de hospedeiros. A síndrome associada à picada do O. brasiliensis foi caracterizada em detalhes através do registro do progresso clínico de um cão naturalmente exposto ao carrapato, e em ratos experimentalmente infestados. Os achados decorrentes destas observações são compatíveis entre si e com as descrições dos casos retrospectivos em humanos, e evidenciam a severidade do quadro induzido pela picada de O. brasiliensis. Por fim, foi demonstrado que o extrato de glândula salivar de O. brasiliensis inibe a cicatrização in vivo, possivelmente por inibir a proliferação endotelial e por ser citotóxico. Esta atividade relaciona-se diretamente a uma das características marcantes da picada por O. brasiliensis: a indução de uma lesão de lenta cicatrização. O conjunto dos resultados aqui mostrados fornece novos subsídios para a compreensão das peculiaridades evolutivas, de habitat, biológicas e ecológicas do O. brasiliensis, bem como dos efeitos desencadeados pelo seu parasitismo. |