Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2017 |
Autor(a) principal: |
Soares Terceiro, Clúvio Buenno |
Orientador(a): |
Fischer, Maria Clara Bueno |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Palavras-chave em Inglês: |
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Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/180123
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Resumo: |
A tese analisa a atividade de trabalho de trabalhadores e de trabalhadoras da panificação e da confeitaria buscando compreender como os trabalhadores e as trabalhadoras desta área aprendem nas diversas situações de trabalho. O conceito central da tese é a atividade de trabalho conforme acepção da Abordagem Ergológica do Trabalho que tem como principal teórico o filósofo francês Yves Schwartz. Para a Ergologia, as diversas situações de trabalho exigem escolhas do/as trabalhadores/as que em que se colocam à prova valores sociais e políticos na confrontação da atividade de trabalho com as normas antecedentes. Este processo é produtor de aprendizagens e de imprendizagens, de saberes e valores. Imprendizagens é um neologismo criado por Yves Schwartz pela aproximação das palavras aprendizagem + impregnada. Partindo desta premissa, a tese analisa como ocorrem os processos de aprendizagens e de imprendizagens em atividade de trabalho na panificação e na confeitaria. Com vistas à compreensão e a expansão destes conceitos abriu-se a discussão com outros referenciais em estreita relação com o conceito de atividade de trabalho: a noção de Relação com o Saber elaborada por Bernard Charlot e os conceitos de atividade e de aprendizagem delineados pela Psicologia Histórico-Cultural na obra de Lev Vygostky e Alexei Leontiev, além dos conceitos de Corpo-Si, Debate de Normas, e Dramáticas dos Usos de Si desenvolvidos pela Abordagem Ergológica do Trabalho. A elaboração teórica desenvolvida na tese alimenta-se ainda de leitoras desses autores, destacando-se as pesquisadoras brasileiras Daisy Moreira Cunha e Eloisa Helena Santos. A inserção no campo empírico de pesquisa envolveu incursões na Panificação e na Confeitaria no município de Porto Alegre. A produção dos dados foi feita através de observação participante, entrevistas individuais e da realização de um Atelier. A observação participante possibilitou problematizar aspectos relacionados ao contexto de trabalho e às normatizações que prescrevem e antecipam a atividade de trabalho na panificação e na confeitaria. As entrevistas individuais permitiram traçar as trajetórias profissionais de sete trabalhadoras e dois trabalhadores e colocá-las em diálogo com questões vinculadas aos saberes e valores que circulam na atividade de trabalho. A análise das trajetórias profissionais destas nove pessoas destaca a existência de diferentes processos de formação profissional na panificação e na confeitaria, seja do ponto de vista da formação escolar e dos cursos realizados, como em relação à formação vinculada às experiências de trabalho. Esta diversidade indica a singularidade dos processos de aprendizagens e a impossibilidade de se pensar a existência de um caminho único de formação que possa ser antecipado, seja pela escola ou pelos espaços de trabalho. O Atelier, como procedimento metodológico, foi elaborado com inspiração nos Encontros sobre o Trabalho (Ergologia). Contribuíram ainda na elaboração do Atelier as Oficinas produzidas pelo psicólogo soviético Lev Vygotsky, o método de instrução ao sósia formulado pelo médico e psicólogo Ivar Oddone e a autoconfrontação desenvolvida pelo linguista Daniel Faïta. O Atelier possibilitou a criação de um dispositivo capaz de fazer emergir um debate entre duas trabalhadoras, fazendo-as pensar sobre o que sabem e o que não sabem para juntas criarem algo novo. No Atelier foi proposto a duas das trabalhadoras que ensinassem uma a outra como produzir um Pão-de-Ló. O Atelier proporcionou um espaço de confrontação e de interação social mediados pelo produto e pelos instrumentos e técnicas de trabalho a ele relacionados que permitiram às trabalhadoras debaterem sobre diferentes formas de produzir o Pão-de-Ló, conduzindo a reflexões acerca das diferentes formas de aprender e de ensinar. Recuperar aspectos das trajetórias profissionais, da contextualização do campo de pesquisa e do Atelier, relacionando-os mutuamente e conjuntamente, permitiu evidenciar aspectos presentes nos processos de aprendizagens e de imprendizagens relacionados à apropriação e a transformação dos saberes e valores presentes nesta atividade de trabalho, como o paradoxo felicidade e frustração presentes no trabalho, os debates de normas relacionados ao cumprimento das boas práticas, os segredos do ofício e à gestão do trabalho. Nestas análises verificou-se que as normatizações que antecipam e prescrevem a atividade de trabalho na panificação e na confeitaria estão relacionadas às Boas Práticas, às Receitas e aos Processos de Produção, mas também aos significados das comidas, reconhecidas como uma forma cultural de alimentar-se. A conclusão ressalta o desconforto intelectual, os móbiles e os usos de si como desencadeadores dos processos de aprendizagens e de imprendizagens na construção de um Corpo-Si entrelaçado à dialética existente entre a obrigação e a oportunidade de aprender. Afirma-se que as trabalhadoras e os trabalhadores da Panificação e da Confeitaria aprendem nas diferentes situações de trabalho ao estabelecerem relação com os saberes e os valores que circulam na atividade de Trabalho. Esta relação é mediada pelos instrumentos de trabalho (máquinas, equipamentos, matérias-primas, produtos), pelos signos, normativas e procedimentos que antecipam a atividade de trabalho (Boas Práticas, Receitas/Formulações, a linguagem profissional, as Técnicas de trabalho, os segredos do ofício e a gestão do trabalho) e pela interação social com outros trabalhadores e com os clientes. Estas mediações e interações sociais são sempre singulares e não antecipáveis visto que envolvem as trajetórias de vida e de trabalho e uma dialética entre a oportunidade e a obrigação de aprender diante do desconforto intelectual e dos desafios que se apresentam como infidelidades do meio. |