Ensino de História, retórica e narrativas : o professor-orador na sala de aula

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Giacomoni, Marcello Paniz
Orientador(a): Seffner, Fernando
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/181855
Resumo: A proposta desta pesquisa é compreender um ator e um lugar centrais para a educação: o professor e a sala de aula de História. Entendo que o professor trabalha com um regime de verdade específico que denomino verdade histórico-didática, cuja natureza reside no caráter relacional que congrega o professor (enquanto indivíduo que significa a sua prática a partir de seus valores), seus alunos (com seus interesses, desejos e saberes) e o conhecimento histórico (validado tanto pelo saber historiográfico de referência, quanto pela experiência do professor). Visando compreender essa relação, faço uso das formulações da retórica, desde os clássicos antigos até seus intérpretes modernos, com Reboul (1998), Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005) e Meyer (1998, 2007 e 2013). Estas reflexões permitem pensar a retórica simultaneamente como ferramenta de análise e como um referencial teórico projetivo, refletindo sobre um tipo-ideal de docente, que defino como professor-orador. Defendo que pensar o professor como um orador significa situá-lo na delicada intersecção das provas do discurso, conforme Aristóteles constituiu em sua Retórica: o ethos, o pathos e o logos. O ethos é o orador, a forma como ele constitui e trabalha sobre uma projeção de si, dotada de autoridade, e a forma como essa imagem é apropriada pelo auditório. O pathos significa reconhecer que o outro para quem o discurso se dirige (o auditório) possui valores, crenças, significados e emoções, que devem ser levados em conta. O logos é o conhecimento histórico, ou a própria verdade histórico-didática entendida de forma relacional com as outras provas do discurso. Além disso, a dimensão de prova (pisteis) da retórica é cara ao discurso histórico, relacionando a argumentatividade com a comprovação em uma dimensão ética. O professor-orador é um indivíduo consciente de seu lugar neste delicado equilíbrio. A fim de cercar teoricamente esta questão, além dos referenciais da retórica, reflito sobre os seguintes caminhos: 1) a concepção de História enquanto produtora de narrativas sobre o passado, relacionadas à práticas científicas e a um lugar social (CERTEAU, 2008); 2) a noção de transposição didática (CHEVALLARD, 1997), que permite identificar um trânsito entre os saberes históricos produzidos na academia, os saberes preparados visando o ensino e os saberes efetivamente ensinados, em cada sala de aula específica, mediados por decisões epistemológicas, culturais e políticas; 3) a experiência acumulada do professor enquanto uma das práticas de validação da verdade histórico-didática, juntamente com os discursos provenientes da historiografia e do campo da educação, que lhe autoriza ou refreia de determinadas decisões. Ao buscar compreender estas premissas em ação, analiso diretamente aulas de cinco professores e professoras de História, coletando dados a partir de observações de aulas, entrevistas, questionários respondidos pelos estudantes e registro de materiais utilizados em aula, e compreendendo um conjunto variado de observações realizadas como puramente retóricas, já que lançam mão de expedientes que visam negociar as distâncias entre o conhecimento histórico e os alunos. Neste processo, os professores e professoras projetam-se como adultos de referência, articulam valores e intencionalidades às suas práticas, dispõem suas aulas em formas estruturadas, animadas por problematicidades e permeadas por formas argumentativas retóricas. Na relação com os estudantes, ressalta-se a importância da palavra e os significados dos estudantes agregando-se nas narrativas construídas nas aulas.