Un coup de dés : o testamento do espaço mallarmeano

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2002
Autor(a) principal: Dick, André Henrique
Orientador(a): Silva, Maria Luiza Berwanger da
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/8639
Resumo: Tendo como base a idéia de que a Modernidade configura a própria tradição da ruptura, extraída de Octavio Paz, este estudo propõe-se a examinar o poema Un coup de dés, de Stéphane Mallarmé, aproximado-o de alguns poetas e músicos. Realizado no auge da Modernidade, esse poema foi retomado, na segunda metade do século XX, pelo movimento da poesia concreta, produzido no Brasil, como referência para suas teorias, através de sua estrutura espácio-temporal. Seus criadores, Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, também resgataram a visão que Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira, poetas do Modernismo, tiveram sobre Mallarmé. Assim como o Concretismo demonstrou interesse especial pelo poeta francês, parte da crítica literária estruturalista e pós-estruturalista estudou a revolução empreendida por Un coup de dés como uma extensão da transparência do espaço da escritura, em textos de Jacques Derrida, Roland Barthes, Michel Foucault, Julia Kristeva e Maurice Blanchot. Nesse sentido, Un coup de dés também faz com que seja necessário compor um conjunto teórico sobre a concepção do “acaso” utilizado em sua concepção. Visto desse ângulo, Octavio Paz serve de referência para equacionar diversas questões que o poema suscita, no contexto da Modernidade, inclusive sua relação com a música. Este campo é aberto pela revelação de que Mallarmé queria realizar, em Un coup de dés, um poema ligado intrinsecamente ao universo musical em que estava mergulhado no final do século XIX, à sombra das obras de Wagner, Debussy e Stravinski. A importância que Mallarmé atribuía à música, acompanhada por seu gesto de “acaso crítico”, chamou a atenção de dois músicos do século XX, John Cage e Pierre Boulez: o primeiro trabalhando o acaso de Mallarmé não só em peças musicais, mas também em poemas, compostos a partir da década de 1960 e o segundo, tomando Mallarmé como referência em ensaios e trabalhos. Tal universo musical incide em dois criadores da poesia concreta: Augusto de Campos, tanto em sua série musical Poetamenos quanto em seus poemas visuais feitos durante a fase ortodoxa e posterior à do Concretismo, e Haroldo de Campos, para o qual Mallarmé constitui a representação mais exemplar de seu percurso teórico-crítico e criativo. Mais do que eleger Mallarmé como referência em sua poesia, Haroldo de Campos o configura como o poeta mais relevante para sua noção de escritura da Modernidade. Perseguindo a mesma tradição sincrônica, baseada na concepção de Roman Jakobson, Ezra Pound e T. S. Eliot, escritores-críticos, Haroldo, ao longo de sua trajetória poética, recupera a musicalidade do poeta francês e as formas de articulação com os limites da palavra no espaço da página, eixo nuclear do presente estudo. Pretende-se, pois, demonstrar, nessa investigação, que Un coup de dés, estabelecido seu contato com a música, é produto de um acaso racional e crítico, instigando a exploração da palavra poética. O diálogo da literatura com a música, que os concretos buscar sublinhar através do poema de Mallarmé, é o caminho que este trabalho quer traçar.