Sistemática dos bivalves (Mollusca) da Formação Crato (Eocretáceo), NE do Brasil e seu significado paleoambiental

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Silva, Victor Ribeiro da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/190724
Resumo: A Formação Crato, Aptiano, é uma das principais unidades litoestratigráficas da sucessão sedimentar mesozoica da Bacia do Araripe, NE do Brasil. A unidade é reconhecida por conter um dos mais importantes depósitos do tipo Konservat-Lagerstätte do Gondwana. Tais depósitos são representados por calcários laminados contendo fósseis excepcionalmente bem preservados. Investigações estratigráficas e paleontológicas, combinadas com mapeamento detalhado da unidade na borda Leste da Bacia do Araripe, tornaram possível o reconhecimento de um importante intervalo contendo siltitos e argilitos ricos em fósseis de moluscos (gastrópodes, bivalves e restos vegetais incarbonizados), com ampla distribuição lateral. O intervalo, com 0,3-2,25 m de espessura, é representado por camadas tabulares de lamitos acinzentados, intensamente bioturbados e intercalados em folhelhos, arenitos finos e fácies heterolíticas. No presente estudo são descritas, pela primeira vez, as espécies de moluscos bivalves encontradas nesta camada e discutidas as suas implicações paleoambientais e paleobiogegráficas. Espécimes foram coletados em quatro localidades distintas (i.e., Três Irmãos, Batateira, Caldas e Estiva), e foram posteriormente submetidos à minuciosa análise de caracteres-chave (e.g., cicatrizes musculares, charneira e ornamentação). São descritos dois novos gêneros (Cratonaia gen. nov. e Araripenaia gen. nov.), pertencentes a Silesunionoidea Skawina e Dzik, 2011 e Trigonioidoidea Cox, 1952, respectivamente. Ambos os gêneros são monoespecíficos e representados pelas novas espécies Cratonaia novaolindensis gen. et sp. nov. e Araripenaia elliptica gen. et sp. nov., respectivamente. O gênero Monginella aparentemente também está presente, e representado pela nova espécie ?Monginella bellaradiata sp. nov. Tal gênero é típico das assembleias de moluscos cretáceos do norte da África. Assim sendo, são registradas a primeira ocorrência de membros da Subordem Silesunionidina Skawina e Dzik, 2011 e da Superfamília Trigonioidoidea para o Cretáceo Inferior da América do Sul. Os fósseis estudados são representados, em geral, por moldes compostos com variável qualidade de preservação. Estão comumente preservados com valvas articuladas (abertas ou fechadas), sugerindo curto transporte lateral (i.e., fauna autóctone a parautóctone). As características paleoautoecológicas da fauna, com bivalves escavadores rasos ou de semi-infauna, suspensívoros, e as observações estratigráficas e sedimentológicas disponíveis sugerem que o ambiente deposicional ocupado pelos moluscos constituía uma imensa planície lamosa de uma laguna de águas doces a salobras. Isso significa que a camada fossilífera rica em bivalves registra mudanças ambientais em larga escala, representando evento regional de curta duração, imediatamente após a deposição dos calcários laminados, indicativos de condições lacustres hipersalinas. Finalmente, a possível presença de bivalves da superfamília Trigonioidoidea, família Plicatounionidae Chen, 1987, permite estabelecer relações com assembleias de moluscos do Aptiano do norte da África, mais especificamente dos depósitos Barremianos-Aptianos do Grupo Djoua, Argélia.