Resumo: |
Os estudos de clima urbano em sua maioria têm se concentrado na gênese do fenômeno sob a perspectiva física. Entretanto, os distintos segmentos socioeconômicos possuem diferentes formas de receber, de se defender e adaptar aos efeitos adversos do clima. Por isso, a presente pesquisa partiu da hipótese de que não apenas os elementos da forma urbana contribuem para a construção de um clima próprio das cidades, mas também os atributos socioeconômicos de sua população (dimensão social), relacionados com seu conteúdo. Os procedimentos metodológicos fundamentaram-se no uso de produtos e técnicas do Sensoriamento Remoto. O objetivo principal consistiu em identificar e compreender o potencial de alteração térmica das superfícies nos períodos diurno e noturno para a área urbana de Presidente Prudente/SP - cidade média de clima tropical continental -, bem como seus fatores explicativos do ponto de vista físico e social. Destaca-se a utilização de imagens termais noturnas do satélite Landsat 8, disponibilizadas recentemente e ainda pouco exploradas. Partiu-se de uma escala de análise temporal e espacial mais ampla, para caracterizar o campo térmico diurno e noturno, sendo o perímetro urbano e seu entorno próximo estudados por meio do ciclo anual (jun/2019 até mai/2020) da variável térmica relativa (diferença de temperatura alvo-ar: ΔT). Os fatores físicos foram explorados de forma episódica, inicialmente através de análise quantitativa com gráficos de dispersão e o coeficiente de Spearman, para verificar as relações (positiva/negativa e forte/fraca) dos índices de vegetação (NDVI), água (NDWI) e área construída (NDBI e BUI) com ΔT. Em seguida, na escala espacial mais fina apenas com o perímetro urbano, os fatores físicos foram analisados de modo qualitativo por meio de três trajetos (L-O, N-S e NE-SO) com a incorporação de aspectos do relevo e tipos de coberturas (vegetação, telhados e pavimentos). Uma vez identificadas duas datas próximas, de períodos opostos (dia/noite) e após a constatação da estabilidade atmosférica (com cartas sinóticas e registros meteorológicos), prosseguiu-se na investigação de áreas representativas das características socioeconômicas agregando-se informações de renda, exclusão-inclusão e vulnerabilidade social e consumo de energia elétrica, e valeu-se da metodologia de LCZs (Zonas Climáticas Locais) para sintetizar suas tipologias construtivas. Verificou-se que o padrão construtivo da cidade responde bem às condições do mês de maio, com a maior parte da área dotada de ΔTs próximos de zero; já de agosto até outubro há agravamento das condições naturalmente quentes. As relações entre os índices e a diferença de temperatura apresentaram intensidades maiores com o NDVI (negativa) e o BUI (positiva), bem como, correlações mais fortes para o dia do que para a noite. Observou-se que posição relativa dentro da área urbana e a orientação das vertentes são relevantes para o entendimento do aquecimento/resfriamento das superfícies. Dentre os materiais construtivos estudados (cerâmica, fibrocimento, metal, asfalto e concreto), a cerâmica revelou exclusivamente alterações de ΔT negativas, o que sugere que suas propriedades termodinâmicas desfavorecem o aquecimento. As variações espaciais e temporais da variável térmica demonstraram a necessidade dos planejadores urbanos avaliarem onde e quando (dia/noite) desejam aplicar estratégias de mitigação do calor. Constatou-se que os níveis de aquecimento/resfriamento urbano são distribuídos de forma desigual em relação aos aspectos socioeconômicos: ΔTs maiores, carência de vegetação e materiais construtivos inadequados associados ao segmento dotado de pouca/nenhuma condição de segurança, adaptação e resiliência climática. Assim, nota-se ainda que o papel das superfícies urbanas se estende para além das questões climáticas, tem efeitos na saúde, eficiência energética e conservação de recursos naturais, e portanto, pode auxiliar no atendimento aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, e na construção de cidades sustentáveis e saudáveis. |
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