A voz materna e o bebê prematuro: questões sobre a comunicação no ambiente hospitalar

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Dourado, Ana
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/153233
Resumo: Há evidências na literatura de que a permanência dos prematuros em incubadora, com o propósito de garantir sua sobrevida, pode gerar um impacto negativo para o vínculo mãe/filho. Na maioria das vezes a criança está sedada e as mães impossibilitadas do contato tátil e de oferecer cuidados. Há vários estudos de como as mães vivenciam essa situação, mas poucos centram-se no papel da voz materna que, nessas condições, é uma via disponível para o estabelecimento do vínculo com o bebê, fundamental para sua constituição subjetiva. Este estudo teve por objetivo analisar o conteúdo da fala e a voz das mães frente a seu parto e a seu filho prematuro, pacientes de incubadora. Os médicos responsáveis pelo pelos leitos das crianças da pesquisa também foram entrevistados com o intuito de avaliar seu papel na forma como a mãe subjetiva a criança neste contexto. Em até sete dias após a internação da criança na Unidade de Terapia Intensiva neonatal (UTIN), foi realizada uma primeira entrevista, aberta, com mães de prematuros que permaneciam na incubadora. Uma segunda entrevista ocorreu após a alta da incubadora. Os médicos responsáveis pelo leito da criança também foram entrevistados, afim de encontrar possíveis relações do discurso médico com o discurso materno. Observou-se, também, como e o que as mães diziam aos bebês e seus comportamentos quando elas falavam com eles. Os dados foram analisados qualitativamente, à luz da teoria psicanalítica. A característica mais presente nos relatos foi a necessidade de reconstruir a história do nascimento prematuro, de forma minuciosa. Frente à perplexidade da situação, as mães tentavam encadear os acontecimentos, recordando detalhes, organizando sua história e tentando preencher com palavras e números o vazio e a angústia do não-saber. Ao “falar a criança”, as características físicas se sobrepunham a outras peculiaridades subjetivas, denotando dificuldade de simbolização diante do real do corpo da criança. Foi frequente recorrer a termos técnicos e ao uso de significantes que evidenciavam sua condição de fragilidade. Todas as mães relataram “falar com a criança” desde a gestação. Apesar do contato ser mediado por aparelhos e do toque estar praticamente excluído, as mães permaneciam próximas à incubadora, apostavam na importância de sua presença, falando em manhês com seus filhos, falas carregadas de afeto. Para elas, os comportamentos das crianças, assim como as mudanças cardíacas e respiratórias observadas nos aparelhos de monitoração, tinham um propósito e eram interpretados como reação à sua presença e à sua voz. As respostas as alimentavam narcisicamente, retroalimentando um diálogo e devolvendo o lugar roubado pelo nascimento prematuro. Na segunda entrevista, na Unidade de Cuidados Especiais (UCE), a voz e o discurso denotavam que as mães estavam mais tranquilas; as crianças eram incluídas nas entrevistas e nos planos de um futuro próximo. Estar mais longe dos riscos, possivelmente, permitiu algumas elaborações e enunciações caladas pelo trauma da prematuridade. Ter a criança nos braços foi apontado como mágico, apesar de algumas referirem insegurança, sem a proteção da incubadora. Os médicos, sempre presentes na cena de cuidado do recém-nascido prematuro, tinham a preocupação em transmitir o maior número de informações possível, contudo observou-se grande empenho em informar e dificuldade para lidar com questões subjetivas, que a condição da UTIN exigia. Na UCE a equipe incentivava as mães a assumir os cuidados, contudo cuidar não era fácil, apesar de trazer a sensação de ser mais mãe. Os dados apontam para a importância que as mães dão à sua voz no estabelecimento e manutenção do vínculo da díade, mesmo quando separadas da criança pela incubadora, durante um período fundamental da constituição do sujeito. Apesar do ambiente da UTIN não ter sido projetado para favorecer a maternagem, tanto pela formação de pessoal como organização do serviço e isso possa trazer consequências para constituição da subjetividade dos bebês, observou-se um esforço das mães de pressupor ali um sujeito, para além da prematuridade e manter o vínculo com os filhos prematuros, quando ainda permaneciam na incubadora.