O processo de construcionalização dos conectores "ao passo que" e "enquanto que" no português

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Rubio, Marília Gabriela
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/204695
Resumo: Esta tese de doutorado tem como objetivo analisar o processo de formação e a construcionalização dos conectores ao passo que e enquanto que, instanciados pelos subesquemas construcionais [Prep N que] e [Adv que], respectivamente, como veiculadores das relações semânticas de tempo simultâneo, de proporcionalidade e de contraste no português. Nossa pesquisa é norteada pelas bases teóricas dos Modelos Baseados no Uso, aqui representados por autores como Bybee (2016), Croft (2001) e Traugott e Trousdale (2013), para os quais a língua, assim como outros sistemas cognitivos, constitui uma rede de nós e ligações entre estes nós, em que algumas das associações entre alguns desses nós assumem a forma de hierarquia de herança (taxonomia de relações que capturam o grau em que as propriedades das construções de nível inferior são previsíveis a partir de outras mais gerais.) (LANGACKER, 1987; HUDSON, 1990, 2007; TRAUGOTT e TROUSDALE, 2013). Ainda, com base nessa abordagem teórica, a mudança linguística, que começa inicialmente na mente individual do falante até se estender a outros usuários da língua, é entendida como um processo que se efetua no uso, sendo o constructo (o dado linguístico propriamente dito) o lócus da mudança. De modo mais específico, com base na taxonomia de Diewald (2006) sobre os contextos de mudança linguística (atípico, crítico e de isolamento), buscamos identificar, a partir de um conjunto de parâmetros de análise atinentes à forma e ao significado, os contextos linguísticos que propiciaram a formação e a convencionalização desses conectores como os principais indicadores da relação de contraste na sincronia atual do português. Como universo de investigação, utilizamos a subamostra “Gênero/Histórico” do Córpus do Português (DAVIES; FERREIRA, 2006), composta por 45 milhões de palavras, com textos que vão do século 13 ao século 20, distribuídos entre os gêneros oral, notícia, acadêmico e ficção. Em termos de resultados, verificamos que o conector ao passo que se formou no português a partir de um contexto de oração relativa, que, a partir da perda da preposição em, responsável por ligar o pronome relativo que ao termo antecedente passo, foi neonalisado em uma estrutura de completiva nominal no passo que, até se fixar na língua por meio de um processo de analogização ao esquema construcional [X-que] já bastante consolidado no português, responsável por instanciar diferentes subesquemas conjuncionais no português. Já o conector complexo enquanto que surgiu, ao que tudo indica, conforme pontua Longhin (2016), de um contexto de quantificação indefinida de quanto, destinada inicialmente a pessoas, coisas, serviços e etc, estendendo-se, com o tempo, para a “quantificação indefinida de tempo” (LONGHIN, 2016, p. 276), cuja mudança possibilitou a emergência na língua dos usos dessa construção com o valor temporal de simultaneidade e duração. Os dados referentes às três últimas sincronias somam 886 ocorrências, sendo 515 dados concernentes ao conector ao passo que, e 371 ocorrências referentes ao conector enquanto que. Nas sincronias dos séculos 14, 15, 16 e 17, o valor semântico mais recorrente ligado a essas construções é o de tempo relativo. É nas sincronias subsequentes que os valores de proporcionalidade e contraste se tornam evidentes, em especial a noção de contrastividade, que prevalece tanto no conector ao passo que quanto no conector enquanto que. Ademais, verificamos que a preferência da oração hipotática introduzida por esses conectores é pela posição posposta, além de preferir sujeitos diferentes (uma vez que o objetivo desses conectores é estabelecer contraste por oposição entre situações e entidades distintas) e operar com maior frequência nos domínios epistêmico e de conteúdo. Esses resultados mostram, entre outros aspectos, que os subesquemas construcionais [Prep N que] e [Adv que], que instanciam esses conectores, são bastante produtivos no português em termos de esquematicidade e que, à medida que se avança na história da língua, nota-se que os conectores em apreço perdem seus valores composicionais (da relação entre preposição, nome e a palavra que), tornando-se mais gramaticais, ou seja, menos composicionais (cujo significado passa a se dar pelo todo).