Mathias Pereira da Sylva, mecenato e poder : a organização da antologia poética a Fénix Renascida ou obras poéticas dos melhores engenhos portugueses, 2ª edição, 1746

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Nunes, Josias De Oliveira [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11449/260675
Resumo: Publicar pode significar prestígio e poder nos séculos XVII e XVIII, pois o verbo tem um sentido bem diverso daquele que empregamos nos dias de hoje. Publicar é “tornar público”. E isso é possível acontecer com a imprensa, a cultura manuscrita, a recitação, a transmissão oral, a representação cênica, a composição e interpretação de canções, se pensarmos no século XVIII. A obra impressa, é, portanto, não só expressão de prestígio e evidência da visibilidade e da aceitação, mas confirmação de seu acesso e trânsito pelos círculos elevados de poder da Igreja, da corte ou da nobreza. A autoria, todavia, não é requisito que tenha a mesma importância dos dias atuais. Está mais no foco das publicações das ideias e do processo de representação do que nas manifestações individuais do poeta ou escritor. No caso d’A Fénix Renascida (1746) de Sylva há maior peso na publicação “dos melhores engenhos” do que uma obra individual, posto que outro fato muito comum foi a publicação “post mortem”. A Tese discute os critérios de escolha que se podem apreender do trabalho do editor Mathias Pereira da Sylva a construção de sua antologia, sob a ótica do prestígio nas instituições consideradas letradas, e o trânsito do editor levando-se em consideração os círculos do poder. O pretendido é apontar que mecenato e poder são critérios então estabelecidos para que a expressão de um indivíduo e sua obra, para além de sua agudeza ou engenho, fossem considerados com prestígio necessário para torná-los dignos de publicação no ambiente letrado lusitano, nos meandros do saber e do poder. É também compreender a influência que o editor exerce no meio letrado, religioso, nobiliárquico e cortesão; as interferências diretas de recursos outros para além do engenho, da escrita, da retórica; as conveniências e riscos percebidos sob olhar seja da religião, ciência ou do pensamento vigente. A discussão gira em torno do apontamento dos mecanismos retórico-político-sociais capazes de indicar como cada possuidor da chancela de “melhor engenho” entre os portugueses passou a merecer a dignidade da escolha com as respectivas autorizações e chancelas necessárias para a transição de seus escritos da condição de manuscritos para impressos, em legítima perpetuação do poder pelo saber, fortuna literária que nos chega por legado. Busca-se, ainda, revelar a existência de conjunto de convenções que orientam o mercado da impressão nos séculos XVII e início do XVIII. Os referenciais teóricos para a pesquisa passam por Amora (1917), Bernd (1944), Saraiva & Lopes (1955), Cândido (1970), Auerbach (1971 e 1972), Bechara (1977), Teyssier (1980), Hansen (1990), Martins (1996), Muhana (1997), Chartier (1999), Pécora (2001), Chartier (2002 e 2014), Gagnebin (2006), Moreira (2011), Bernd (2013), Febvre & Martin (2017), Wink (2017), Carvalho (2022) e Candau (2019). Os resultados esperados da pesquisa darão conta de adentrarmos a discussão de questões como: Por quais razões umas obras são escolhidas para publicação e outras não, em uma antologia como A Fénix Renascida? Por quais razões determinados gêneros poéticos ou em prosa são excluídos do processo de impressão, enquanto outros são marcadamente de preferência de um público que goza do privilégio do acesso aos livros? Em outras palavras, como Sylva, ao longo de suas introduções presentes em cada volume de A Fénix Renascida, atuou nos processos e escolhas, considerando-se a extensão e a complexidade de conhecer e referir as tradições manuscritas e impressas das poesias seiscentistas e, em parte, setecentistas.