Paradoxo gerencialista e hiperperformance: sobre os laços psicológicos e ideológicos nas organizações multinacionais

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Braz, Matheus Viana [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/152977
Resumo: Na esteira do enfraquecimento e perda de credibilidade das instituições sociais, no universo da globalização da produção, do comércio e das finanças, as companhias multinacionais alcançaram um poderio sociopolítico-econômico sem precedentes na história. No epicentro da iniciativa pública e privada, difundem metodologias de gestão, nutrem um imaginário específico de progresso social, encarnam o símbolo máximo da eficiência, um novo polo de legitimação social, representam a consolidação de uma nova instituição sagrada e se amparam na promessa de realização de projetos específicos: ascensão vertiginosa, reconhecimento, visibilidade e destaque social. Embora na atualidade os riscos físicos de trabalho tenham sido progressivamente minimizados em países industrializados, incluindo o Brasil, segundo a literatura as condições subjetivas laborais parecem se degradar cada vez mais, o que revela o surgimento de novas fontes de risco e modos sofrimentos no trabalho. Como, então, o mal-estar e sofrimento profissional vinculam-se aos investimentos subjetivos entre indivíduo e empresa? Entre as exigências de hiperperformance, os paradoxos organizacionais e a busca pela superação contínua de si mesmo, como o sujeito dá sentido ao seu trabalho? Baseados nessas premissas, objetivamos empreender um estudo da incorporação ideológica e dos laços subjetivos estabelecidos no seio das companhias multinacionais, considerando as relações entre as antinomias das significações sociais imaginárias hegemônicas com fenômenos de ordem familiar, social e existencial, inscritos no cenário laboral atual. Para tanto, a partir da Psicossociologia e Sociologia Clínica, e com base em relatos de experiências singulares, provenientes da realidade concreta e vivida de trabalhadores que compõem quadros dirigentes de diversas empresas multinacionais, inscrevemos nosso estudo na orientação clínica da tradição francesa de pesquisadores e interventores que buscam compreender as mudanças e evoluções do mundo do trabalho. Propusemos, então, que especialmente a partir das últimas duas décadas uma nova configuração sociopsíquico-organizacional ganha contornos cada vez mais aparentes e refere à expansão de uma modalidade arquetípica de laço subjetivo estabelecido com as empresas, emergente como produto de transformações culturais da hipermodernidade. Isso quer dizer que comumente há a incorporação de valores relacionados à organização ou a apropriação do discurso gerencialista, no entanto, em face das instâncias mediadoras existentes nas companhias, nos níveis psicológico e ideológico do vínculo com a empresa, paradoxalmente de modo oculto predominam a descrença, desconfiança, desencantamento, pessimismo, saturação, instabilidade, insegurança e a incoerência em relação ao ambiente no qual estão inseridos. O imperativo da excelência, de destaque social e a necessidade de se afirmar como sujeito, quando vinculados a maior vulnerabilidade do emprego assalariado e a proliferação de exigências incompatíveis, produz um ambiente de incerteza constante. Com efeito, em uma sociedade na qual a individualização dos percursos se revela central, na ausência de elementos estruturantes do coletivo, a pejoração da média e a empresarização dos comportamentos tendem a fazer com que o indivíduo sinta com cada vez mais peso os efeitos dessas injunções, como se a busca pela afirmação de sua existência social comumente não o levasse a lugar algum.