Investigação do papel dos hormônios sexuais na atividade cicatrizante do extrato hidroalcoólico das folhas de Eugenia punicifolia na doença ulcerosa péptica experimental.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Périco, Larissa Lucena
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/153204
Resumo: As úlceras pépticas abrangem tanto as úlceras gástricas, quanto as úlceras duodenais e afetam cerca de 10% da população mundial, sendo 6,8% homens e 4,9% mulheres. A maior ocorrência de úlceras pépticas em homens do que em mulheres, provavelmente, está relacionada aos hormônios sexuais, pois existem relatos de que os hormônios femininos exercem um efeito protetor contra as ulcerações. A patogênese complexa e multifatorial desta doença ocorre devido a um desequilíbrio entre os fatores agressores [ácido clorídrico, pepsina, etanol, anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), estresse, Helicobacter pylori, entre outros] e os protetores (muco, bicarbonato, prostaglandinas e fluxo sanguíneo) da mucosa do estômago e/ou duodeno. Numa tentativa de proteger a mucosa gástrica do ácido clorídrico, melhorar a cicatrização da úlcera, e prevenir a sua recorrência, o controle farmacológico da secreção ácida tem sido uma das estratégias utilizadas ao longo dos anos. Dentre as opções disponíveis no mercado para o tratamento das úlceras pépticas existem os antagonistas de receptores H2, os inibidores da bomba de prótons e o uso de antibióticos para a erradicação da H. pylori. Entretanto, estes medicamentos podem promover não somente uma gama de efeitos colaterais, mas também uma menor eficácia no tratamento das úlceras, bem como o surgimento das recidivas logo após a interrupção do tratamento. Para tanto, se faz necessário as buscas de novas opções terapêuticas para tratamento adequado das ulceras pépticas a partir de produtos naturais. Eugenia punicifolia (Kunth) DC., uma espécie comumente encontrada na região Amazônica e no Cerrado, tem sido utilizada popularmente para o tratamento de feridas, infecções e inflamações. Em estudos realizados previamente em nosso laboratório, o extrato de E. punicifolia apresentou um efetivo efeito anti-inflamatório e gastroprotetor sobre a mucosa gástrica em modelos experimentais in vivo e in vitro. Porém, a presença de uma ação gastroprotetora de um extrato não assegura que o mesmo também possua ação cicatrizante. Portanto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar os mecanismos envolvidos na ação cicatrizante do extrato hidroalcoólico das folhas de Eugenia punicifolia (HEEP) ao combater os efeitos lesivos promovidos pela ação do etanol, ácido acético, AINEs e as injúrias oriundas de um processo de isquemia-reperfusão e analisar a diferença entre o efeito do extrato na cicatrização de machos e fêmeas (intactas e ovariectomizadas). Para tanto, foram desenvolvidos modelos experimentais in vivo no qual, inicialmente foi implantada a lesão gástrica ou duodenal nos ratos Wistar e posteriormente foi realizado o tratamento com HEEP em períodos que variaram de 1 a 14 dias de tratamento. Foram analisados a cicatrização gástrica e duodenal nos diferentes grupos experimentais e para isso utilizou-se parâmetros macroscópicos como a área de lesão, parâmetros bioquímicos antioxidantes (superóxido dismutase, glutationa reduzida, catalase, mieloperoxidase e peroxidação lipídica), pró e anti-inflamatórios (TNF-α, IL-1β, IL-6, IFN-γ, IL-5 e IL-10), expressão proteica de fatores envolvidos no processo de cicatrização [fatores de crescimento endotelial vascular (VEGF) e epidermal (EGF), ciclooxigenase 1 e 2, marcadores pró-apoptóticos - caspase-3, caspase-8 e caspase-9 e antiapoptóticos, como a Bcl-2] e zimografia [metaloproteinases (MMP) 2 e 9]. A atividade de proliferação celular do HEEP em fibroblastos (células L929) também foi determinada por ensaios in vitro. Com a realização dos diferentes tratamentos foi possível avaliar os efeitos tóxicos através da evolução do peso corporal, letalidade, análises macroscópicas dos órgãos e alguns parâmetros bioquímicos no plasma. Adicionalmente, os efeitos do HEEP sobre a diarreia, a motilidade intestinal e o acúmulo de fluido intestinal in vivo assim como sua ação antimicrobiana in vitro, foram estudados. O HEEP foi capaz de cicatrizar a mucosa gástrica de machos, fêmeas intactas (4 dias) e fêmeas ovariectomizadas (6 dias) no modelo de etanol 80% devido à redução da atividade da mieloperoxidase e aumento nos níveis de glutationa reduzida. Nas lesões gástricas induzidas por AINEs, os ratos machos tratados com HEEP (2 dias) apresentaram uma efetiva cicatrização da mucosa gástrica com redução nos níveis da citocina pró-inflamatória IL-5. O mesmo resultado não foi obtido com as fêmeas tratadas com HEEP durante o mesmo período. Nas lesões gástricas e duodenais promovidas pela isquemia e reperfusão, o tratamento de ratos machos e fêmeas (intactas e ovariectomizadas) com HEEP (6 dias) foi capaz de cicatrizar a mucosa apresentando aumento nas atividades de catalase e superóxido dismutase e redução da atividade de mieloperoxidase e dos níveis de glutationa reduzida. Os animais que foram submetidos a lesão gástrica induzida por ácido acético e tratados com o HEEP (14 dias) apresentaram uma efetiva ação cicatrizante. Os resultados da análise de western blotting demonstraram que o tratamento com HEEP por 14 dias no modelo de indução de lesão gástrica por ácido acético não alterou a expressão proteica (EGF, VEGF, COX-1 e 2, Bcl-2 e as caspases-8, 9 e 3), porém, a cicatrização da mucosa gástrica pelo tratamento com HEEP nesse modelo experimental foi devido ao aumento dos níveis de prostaglandina E2, inibição da MMP-9 e manutenção constante da atividade da MMP-2 da mucosa gástrica. O efeito cicatrizante do HEEP apresenta um envolvimento com os hormônios sexuais femininos nos modelos de etanol 80%, isquemia-reperfusão e ácido acético. Podemos constatar que houve diferenças em relação ao tempo de tratamento, em que as fêmeas intactas apresentaram significativa ação cicatrizante durante um período menor de tratamento quando comparado com as fêmeas ovariectomizadas ou em relação ao grau de severidade da lesão, no qual as fêmeas intactas obtiveram uma área de lesão menor quando comparadas aos machos ou fêmeas ovariectomizadas. Além disso, houve diferença na expressão proteica de EGF, VEGF, Caspase-8 e Bcl-2, entre as fêmeas e os machos. Não foram observados efeitos tóxicos nos ratos machos e fêmeas com base na ausência de letalidade, alteração do peso corporal, análises macroscópicas dos órgãos e parâmetros bioquímicos do plasma pelo tratamento com HEEP. O efeito cicatrizante do HEEP também foi comprovado em estudos in vitro ao promover aumento da proliferação e cobertura de feridas riscadas em monocamadas de fibroblastos. Adicionalmente ao efeito antiulcerogênico, foi possível caracterizar que o extrato também possui ação antimicrobiana contra Staphyloccocus aureus e foi capaz de reduzir o trânsito intestinal e prevenir ocorrência da diarreia induzida por agente catártico. Desta forma, podemos concluir que o HEEP pode contribuir efetivamente para a cicatrização da lesão gástrica e duodenal promovidas por uma grande diversidade de agentes ulcerogênicos e que os mecanismos envolvidos nesta ação se mostram diversificados e abrangentes de acordo com o grau de severidade da lesão e do tempo de tratamento do extrato. Nossos resultados demonstram que existe uma clara interferência do hormônio sexual feminino no processo de cicatrização das úlceras pépticas. Aliado a ação cicatrizante, o extrato também exerce uma ação antidiarreica e antimicrobiana, inclusive no combate a um dos principais indutores de gastroenterite no homem, a S. aureus.