O fio da imagem: a écfrase na epístola “De Ariadne a Teseu” das Heroides de Ovídio

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Cordeiro, Isabela de Siqueira [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11449/256646
Resumo: Este trabalho objetiva analisar a ekphrasis (écfrase) na representação imagética da puella Ariadne, tendo como córpus a epístola X, “Ariadne a Teseu”, das Heroides, de Ovídio. Esta é uma obra elegíaca-epistolar na qual o poeta simula as personagens femininas da mitologia greco-latina, abandonadas por seus amantes, escrevendo-lhes com um claro intuito de persuadi-los. Assim, cada carta revela uma imagem da heroína autora, pelo modo como a escritora expõe sua face ao destinatário ausente. Dessa forma, tomando o referencial teórico da écfrase antiga, a pesquisa procura demonstrar os traços expressivos dessa figura na carta da heroína. A écfrase é uma figura retórica-poética que descreve vividamente (enargia) colocando uma imagem diante dos olhos para ser visualizada em fantasia (phantasia). Nesse sentido, para atender aos objetivos da pesquisa, primeiro salienta como a antiguidade, nas áreas de Filosofia, Poética e Retórica, consolida um sistema de representação da imagem verbal. Assim, observando os campos da filosofia e poética, a partir de Platão (427 AEC – 347 AEC), Aristóteles (384 AEC – 322 AEC) e Horácio (65 AEC – 8 AEC), compreende-se o conceito de mímesis, como uma atividade (mimeisthai) que permeia a interação dos discursos com o mundo, além de se converter a dimensão técnica para a representação artística, verbal e imagética. No campo retórico, sublinhe-se que, sob o nome de écfrase, a figura só foi categorizada pelos autores dos Progymnasmata (1 AEC – 4. EC). Entretanto, escritores clássicos da retórica, como Aristóteles, Cícero (106 – 43 a. C) e Quintiliano (35 EC – 96 EC), consolidaram um sistema de figuras elocutivas que corresponde às qualidades discursivas da écfrase, com tropos como amplificatio, metafora, enargia ou euidentia, e a hipotipose, além da operação metal fantasia (responsável por projetar imagens descritas na mente do ouvinte/leitor). Assim, as formas do discurso ecfrástico, de certo modo, já prefiguravam nos modos operatórios desses tropos. Com isso, a análise desses campos de estudo da antiguidade clássica demonstra a presença de um fio unificador, que perpassa essas disciplinas, consolidando para os antigos uma indissociável relação entre palavra e representação. Através dessa consciência, Ovídio tem um profundo interesse no emprego de imagens em sua poesia, pela forma como o poeta representa imageticamente seus personagens, mostrando-os agindo e evidenciando visualmente suas paixões. Dessa forma, empenha-se por tópicos do estilo ovidiano, como as técnicas narrativas, a descrição espacial e a etopeia, a matéria imagética do gênero elegíaco, o gênero epistolar, e as relações intertextuais presentes na écfrase de Ovídio. Sabe-se que a carta-poema escolhida possui uma relação intertextual com o poema ecfrástico Catulo 64, assim, Ovídio, decerto, retoma essa écfrase de Ariadne para tecer a imagem da heroína no poema, transferindo-a a seu estilo poético. Por fim, a análise demonstra que uma comunhão entre o estilo estilístico de Ovídio e as noções representativas da antiguidade, pelo modo como o poeta, usando uma descrição vívida, consegue polir a expressão do poema das Heroides, inserindo nela um efeito visual, de tal forma que o leitor é convidado a ver um retrato afetivo de sua heroína