O negro e a música nos trópicos: o embranquecimento histórico do padre José Maurício Nunes Garcia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Vaccari, Pedro Razzante [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/204643
Resumo: A questão concernente deste trabalho é a análise, sob o viés antropológico, da historiografia a respeito do compositor negro padre José Maurício Nunes Garcia, desde o primeiro documento sobre ele, datado de 1836, assinado por Manoel de Araujo Porto-Alegre. A análise segue considerando uma biografia manuscrita anônima de 1897, e adentrando o século XX com Taunay, Renato Almeida, Mário de Andrade, Rossini Tavares de Lima, Luiz Heitor, Bruno Kiefer, Vasco Mariz, Mauro Gama, Cleofe Person de Mattos e alcançando o século XXI, onde uma nova geração de musicólogos, como Marcelo Hazan e Marc Hertzman, efetivamente investigaram a música de José Maurício sob uma perspectiva racial, antropológica e abrangendo outras áreas do conhecimento, como a biologia e a sociologia, especialmente Hazan. Dentro dessa análise crítica, verificou-se que houve, senão um deliberado e consciente processo de embranquecimento histórico, por meio da iconografia e da narrativa histórica que tentou se perpetuar sobre o padre-compositor, pelo menos um anseio de grande parte da musicologia dos séculos XIX e XX, de torná-lo protótipo de mestiço brasileiro, a fim de alçá-lo como expoente da música colonial situado no nacionalismo da Era Vargas. Esse processo embranquecedor contou com as teorias raciais que haviam se delineado desde a década de 1880 na Europa, e o termo “eugenia” com o significado de “bem nascer”, forjando-se um ambiente propício para a disseminação de ideais científicos e o uso equivocado das ideias de Darwin. As teorias eugenistas como o darwinismo social e a antropologia cultural dariam o escopo necessário para a formação de uma pátria que, de acordo com teóricos como Silvio Romero e Raymundo Nina Rodrigues, em algumas gerações seria “plenamente branca”. Acompanhando essa evolução social e histórica, as biografias sobre o padre Maurício, em maior ou menor grau, procuraram, por meio de iconografia ou uma espécie de revisionismo histórico embranquecedor, converter e transmudar a vida do biografado, alinhando-o cada vez mais com um modelo saturado de gênio caucasiano europeu ocidental. Neto de escravizadas africanas, luta-se até hoje para o reconhecimento de José Maurício enquanto compositor negro, patrimônio nacional, sem os eufemismos que lhe foram emprestados desde o século XIX de “mulato”, “pardo” e “mestiço”, alcunhas que muitas vezes prestam um desserviço à própria condução e aprimoramento da história.