As disputas geopolíticas e seus impactos sobre o agronegócio brasileiro no começo do século XXI

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Tamarindo, Ubirajara Garcia Ferreira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/243802
Resumo: Os alimentos e os insumos agropecuários passaram a exercer nos últimos tempos cada vez mais a condição de instrumentos geopolíticos de poder nas relações entre os países. Nesse contexto, a presente pesquisa teve como objetivo investigar os principais desafios e oportunidades ao agronegócio brasileiro, decorrentes dos efeitos diretos ou colaterais das disputas geopolíticas no início do século XXI, em especial levadas a efeito por parte dos Estados Unidos. Efetivamente, as atuais disputas econômicas, tecnológicas e militares, especialmente contra a China e Rússia, como parte da agenda externa concorrencial norte-americana, possuem protagonismo nesse contexto, bem como estão modificando (a) a geografia e a dinâmica do comércio mundial, principalmente os custos de produção e de transação das cadeias alimentares e de suprimentos agropecuários; (b) o processo de globalização das economias — que estão ficando cada vez mais protecionistas e buscando autossuficiência —; (c) o livre comércio e, por consequência, (d) o modelo multilateral de negociações e resoluções de conflitos. E isso conduzido pelos Estados Unidos em um contexto, especialmente, de guerra híbrida concorrencial (lawfare), que, por sua vez, afeta, colateralmente, os interesses do agronegócio brasileiro, como é o caso (a) da China, maior parceiro econômico do Brasil, (b) da República Islâmica do Irã, importante parceiro econômico do agronegócio brasileiro e (c) da Rússia e Bielorrússia, dois dos principais fornecedores de fertilizantes (potássio) às lavouras nacionais. Nesse contexto, em resposta ao problema de pesquisa e às hipóteses levantadas, buscou-se demonstrar, analiticamente, que as disputas geopolíticas entre (a) Estados Unidos e China, (b) Rússia e Ucrânia, (c) Estados Unidos, União Europeia e Rússia e (d) China, Austrália e Canadá — que gravitam ao redor dos interesses da política externa norte-americana —, trouxeram novas oportunidades e desafios às cadeias alimentares e de suprimentos agropecuários, aos quais o agronegócio brasileiro, que possui economia globalizada, não está imune aos seus efeitos, mas contextualizado. E com o mundo caminhando para a divisão em dois grandes blocos geopolíticos entre Estados Unidos e China, o Brasil, pressionado, poderá em algum momento ter que tomar decisões difíceis no que concerne às relações econômicas com chineses e norte-americanos. Por tudo isso, o que se constatou é que mesmo pressionado geopoliticamente a tanto, o País deverá manter-se neutro no que concerne às coalizões lideradas por norte-americanos e chineses, tendo em vista que os países são parceiros fundamentais da economia brasileira. E tal posicionamento busca a defesa dos interesses nacionais, pois não haverá ganhadores em eventual afronta direta aos interesses de Estados Unidos ou China. Com isso, será fundamental ao Brasil acompanhar todos esses eventos geopolíticos de maneira pragmática e, ao mesmo tempo, diversificar, como medida de autopreservação, a sua pauta de clientes e de fornecedores de insumos agropecuários. E isso para diminuir a dependência atual das exportações à China e das importações de fertilizantes, em especial da Rússia e Bielorrússia. Além disso, o Brasil precisará desenvolver melhores relações comerciais tanto com a União Europeia-Reino Unido quanto com o Estados Unidos, visando ampliar suas exportações de produtos agropecuários de maior valor agregado. Por sua vez, os países da África Subsaariana, América Latina, Oriente Médio e Norte da África, principalmente os islâmicos, assim como a Índia — que caminha para se tornar o que a China é atualmente no âmbito de consumo e comércio mundial —, também oferecem oportunidades de maior inserção e cooperação comercial agropecuária com o Brasil. Observou-se, ainda, que o Brasil precisará incorporar cada vez mais sustentabilidade, eficiência, competitividade e valor aos seus processos e produtos agropecuários e agroindustriais, pois novos produtores e fornecedores mundiais estão sendo efetivamente desenvolvidos no contexto de todas essas disputas geopolíticas. Portanto, no futuro, poderão rivalizar com o Brasil as exportações em especial aos mercados da Ásia, Estados Unidos, Oriente Médio, União Europeia e África. Não obstante esses aspectos, que exigem atenção, todos esses eventos geopolíticos também trouxeram oportunidades estratégicas para o Brasil expandir sua pauta de exportação de produtos agropecuários, especialmente do complexo soja, milho, açúcar, café, proteínas animais (bovina, suína, frango, pescados, carnes processadas, gordura animal, ovos, couro e peles), produtos florestais, complexo sucroalcooleiro, algodão, frutas, fumo e laticínios. Entretanto, equivocada condução da política externa brasileira poderá provocar efeitos deletérios à economia nacional caso o Brasil resolva interferir em assuntos que seja desnecessário o alinhamento meramente ideológico ou desprovidos de substanciais contrapartidas aos seus interesses. A partir dessas premissas, este trabalho de doutoramento, realizado por meio de uma abordagem qualitativa e de revisão bibliográfica e documental, buscou comprovar a tese de que as cadeias mundiais de alimentos e de suprimentos, em detrimento da eficiência e competitividade do produto em si, estão sendo cada vez mais impactadas por arranjos geopolíticos. E, por consequência, as disputas geopolíticas no início do século XXI, em especial levadas a efeito por parte dos Estados Unidos, num contexto de guerra híbrida concorrencial, possuem enorme potencial de impactar — positiva ou negativamente — a geografia e o volume das exportações e importações do agronegócio brasileiro, que possui parte substancial de sua economia globalizada. E isso, notadamente, caso o Brasil não se mova de maneira estratégica e pragmática nesse tabuleiro geopolítico de comércio administrado que se tornaram as cadeias mundiais de alimentos e suprimentos agropecuários.