Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2019 |
Autor(a) principal: |
Monteiro, Ciro Athayde Barros [UNESP] |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/11449/191114
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Resumo: |
A ideia amplamente disseminada pela Ciência da Informação (CI) sobre a existência de uma suposta “Sociedade da Informação” – em que todos os jovens que nasceram nos últimos vinte anos, período em que houve o surgimento e popularização da internet, seriam membros de uma geração que sabe lidar facilmente com tecnologias – pode ser uma proposição bastante perniciosa à sociedade, tendo em vista que muitos grupos sociais aparentemente não fazem parte deste cenário. Um desses grupos é formado pelos jovens encarcerados, pois grande parte deles chega ao cárcere com graves carências vinculadas à estrutura familiar, à educação básica e ao letramento. Diante desse cenário, este estudo é norteado pelo problema acerca de como são as práticas informacionais dos jovens encarcerados no Centro de Detenção Provisória de Serra Azul, no que se refere à mediação e à apropriação dos dispositivos informacionais. O objetivo foi investigar como são as práticas informacionais desses jovens antes e após adentrarem ao CDP de Serra Azul com relação à mediação e à apropriação dos dispositivos informacionais. Além disso, buscou-se identificar quem são esses detentos, verificar os motivos pelos quais se encontram na unidade de detenção, criar quadros comparativos acerca das mudanças nas práticas informacionais antes e após o cárcere, averiguar as limitações e possibilidades da biblioteca prisional com relação ao acesso e apropriação desse dispositivo, descrever ações mediadoras no sentido de compreender de que forma essas ações se desenvolvem no cotidiano da prisão, como por exemplo, o clube de leitura e projeto de produção de poesia, e mapear os resultados tendo como contraponto um Centro de Progressão Penitenciária (Regime Semiaberto). Trata-se de um estudo qualitativo, do tipo descritivo-exploratório. A metodologia utilizada foi a Etnografia, orientada pelas concepções teóricas do interacionismo simbólico, sob o olhar de Goffman. Foi realizado no Centro de Detenção Provisória de Serra Azul (CDP – Regime Fechado), localizado no interior de São Paulo. Seguiu as determinações da Resolução nº 466, de 12 de Dezembro de 2012, que rege as pesquisas com seres humanos no Brasil. Os participantes foram 14 jovens com idade entre 18 e 20 anos. O recrutamento e a coleta de dados ocorreram individualmente, após um convite coletivo feito pelo pesquisador no pavilhão disciplinar do centro de detenção. Para cada jovem foram aplicados dois instrumentos de coleta de dados: um questionário sociodemográfico e uma entrevista semiestruturada, sendo que a aplicação de ambos durou em média 45 minutos. A análise de dados demonstrou que quando o jovem estava na rua ele se apropriava de inúmeros dispositivos, principalmente do telefone celular. Após adentrar ao cárcere, seus principais dispositivos passaram a ser a carta, a televisão e o livro. Com relação às práticas informacionais, visualizou-se que na rua os jovens utilizavam prioritariamente o telefone celular para escutar músicas, assistir vídeos, jogar e ler notícias, principalmente pelo feed de notícias da rede social “Facebook”. O estudo apresenta um quadro sociodemográfico alarmante desses jovens, sendo que a maioria deles não concluiu o ensino médio e tinham o tráfico como principal fonte de renda na rua. Revelaram-se perfis de jovens encarcerados que estão à margem de pertencimento da tal “Geração Internet”, a maioria são desprovidos de “capital cultural” e vivem o letramento insólito próprio da educação no contexto de funcionamento dos interesses neoliberais. Para além dos resultados obtidos no Centro de Detenção Provisória de Serra Azul, o estudo traz relatos de experiência vinculados a projetos desenvolvidos pelo autor, na figura de funcionário da prisão, juntamente com a equipe de educação em um Centro de Progressão Penitenciária (CPP – Regime Semiaberto) no sentido de ilustrar o cotidiano, as possibilidades e os desafios da apropriação dos dispositivos, da ação mediadora e das práticas informacionais no interior da prisão. Conclui-se que o jovem, antes de adentrar ao CDP de Serra Azul, já carecia de letramento no que se refere a se apropriar de dispositivos e a produzir práticas informacionais que buscam gerar autonomia e produção de conhecimento. Essa situação se agrava quando entra na prisão e seu acesso aos dispositivos passa a ser mais restrito. Tal situação escancara o grave problema de letramento e de exclusão educacional no país. De modo geral, almejou-se compreender o quadro complexo de mediação, apropriação dos dispositivos e práticas informacionais dos jovens encarcerados, lançando novas perspectivas epistemológicas à área da CI. No que tange as possibilidades de ação do profissional da informação no cárcere, o estudo apresenta a unidade prisional como espaço essencial para desenvolvimento de pesquisa e atuação profissional do bibliotecário, tanto na biblioteca prisional como em clubes de leitura e nos múltiplos espaços de manifestações culturais possíveis no ambiente prisional. Além disso, este estudo fornece subsídios para auxiliar os poderes públicos no processo de pensar formas de reintegração social, para que esses jovens, ao receberem a liberdade, tenham alguma possibilidade de reinserção no mercado de trabalho e na sociedade, diminuindo as chances de recorrência ao crime. |