Espacializar e temporalizar: a vivência de uma pessoa cega

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Mercado, Karen Paola Valencia [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11449/257683
Resumo: Neste texto apresenta-se uma pesquisa de doutorado cujo objetivo é compreender os modos pelos quais uma pessoa cega vivencia a sua espacialidade e sua temporalidade. É uma pesquisa qualitativa de postura fenomenológica, o que significa dizer que o foco é a compreensão do tema que será investigado. Ou seja, não se busca justificar ou dar explicações causais para o que se interroga, mas entender e descrever a vivência junto ao sujeito de pesquisa – uma pessoa cega. A descrição, na pesquisa fenomenológica, é muito importante, pois é através dela que o pesquisador poderá relatar o vivido. Nessa vivência, os dados da pesquisa são constituídos e registrados. No caso desta pesquisa, optamos por gravar os cinco encontros em que se pôde acompanhar a pessoa cega realizando suas atividades em um Centro Educacional que atende pessoas com deficiência visual no horário contrário ao que ela frequenta a escola e, depois, transcrevemo-los para análise. A análise dos dados segue dois momentos: o da análise ideográfica, em que se transcrevem, de forma detalhada, as gravações dos encontros e, após várias leituras para familiarização com o texto, destacam-se trechos que trazem momentos importantes para a compreensão da pergunta da pesquisa. Desses trechos, chamados unidades de significado, explicitam-se ideias nucleares, isto é, o que se interpreta como central em cada um desses trechos. No segundo momento, o da análise nomotética, interroga-se como as ideias nucleares podem ser articuladas segundo convergências e divergências que permitam expor as regiões de generalidade ou categorias abertas. Essas, as categorias abertas, dão ao pesquisador fenomenólogo a possibilidade de expor o que foi compreendido em sua pesquisa. No movimento interpretativo desta pesquisa as convergências levaram-nos a três categorias: o corpo próprio e a experiência do sentir; modos de habitar o espaço e modos de ser. Essas categorias, ao serem discutidas junto com os autores lidos, possibilitam apresentar os modos pelos quais a pessoa cega vivencia sua espacialidade e sua temporalidade, destacando-se a familiaridade com que Alicia movimenta-se pelo Centro, a disponibilidade em fazer atividades que incluem trabalho manual, como expressa desgosto, agrado, dificuldade ou que entendeu a ideia da tarefa. Por fim, concluímos que a espacialidade e a temporalidade são experiências constitutivas que fazem parte essencial do ser e que são constituintes, isto é, que a compreensão do mundo e a dos modos de ser da pre-sença estão profundamente condicionadas por elas, são próprias de todas as pessoas. Compreendendo que a existência é espacial e temporal, pode-se entender que não existem experiências incompletas, que o fato de ser uma pessoa com deficiência visual não restringe sua experiência temporal e espacial, que essa pessoa não está perdendo “muitas coisas” por não enxergar. Focar na pessoa com deficiência possibilita a quebra de paradigmas capacitistas porque a deficiência não define a pessoa. Propusemos a inserção dos resultados na disciplina matemática em salas de aula, já que devemos estar abertos a conhecer quais são as especificidades do aluno com deficiência, ou não.