Eichmann e a incapacidade de pensar: alienação do mundo e do pensamento em Hannah Arendt

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Pereira, Renato de Oliveira [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/193078
Resumo: A presente dissertação de mestrado em filosofia tem o objetivo de investigar quais são condições que propiciam aquilo que Hannah Arendt denominou de incapacidade de pensar (thoughtlessness). Nosso foco é o caso Eichmann tal como descrito pela pensadora em Eichmann em Jerusalém (1963), obra que resulta da participação de Arendt no julgamento do ex-tenente-coronel da SS. Durante o Terceiro Reich, Eichmann foi o responsável pela gestão e organização dos transportes dos judeus para os campos de concentração e extermínio. O descompasso entre a monstruosidade dos crimes que o antigo tenente-coronel nazista ajudou a perpetrar e a sua figura perante o tribunal – que não pareceu monstruosa ou maléfica a Arendt, mas completamente normal e até medíocre –, levou a pensadora a cunhar a expressão banalidade do mal. Com tal expressão, Arendt visava designar a prática de ações que, apesar de resultarem em um mal extremo, não são causadas por motivos torpes, instintos corrompidos ou por uma vontade maligna, e sim pela obediência ao dever de ofício. Para explicar o problema do mal banal, Arendt supõe a existência de uma relação entre a incapacidade de pensar (thoughtlessness), notável em Eichmann pelo uso constante que ele fazia de frases de efeito e dos clichês, e a prática do mal. Nesta dissertação, aceitamos essa relação como pressuposto para investigarmos quais são condições que prejudicam a capacidade de pensar. Em um primeiro momento, analisamos, com base no ensaio “Ideologia e Terror”, último capítulo de Origens do totalitarismo, como o regime totalitário produz a incapacidade de pensar a partir da ideologia entendida enquanto a lógica de uma ideia. Essa análise nos mostrou que a experiência da solidão (loneliness), na qual o totalitarismo se alicerça, já era recorrente nas sociedades de massa antes da ascensão dos regimes totalitários. Assim, para compreendermos como essa experiência é engendrada pela própria Era moderna, recorrermos à obra A condição humana e, em especial, ao tema da vitória do animal laborans, que Arendt menciona já em “Ideologia e terror”. A quase total redução de todos os atos humanos ao trabalho (labor), entendido enquanto a atividade que visa satisfazer às necessidades biológicas, faz com que a vida humana se torne desprovida de sentido. Isso ocorre porque a mera busca por sustento, embora seja importante para a manutenção da vida, não é suficiente para instaurar um mundo comum no qual possa se afirmar a pluralidade humana, condição para o exercício da capacidade de agir, sentir e também de pensar.