Usos do sinal (que/quem) na Língua Brasileira de Sinais: multifuncionalidade e gramaticalização
Ano de defesa: | 2023 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Dissertação |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | https://hdl.handle.net/11449/255117 http://lattes.cnpq.br/6337373507775034 https://orcid.org/0000-0002-2275-1310 |
Resumo: | Neste trabalho, como pesquisador surdo, tenho como objetivo analisar como os sinalizantes surdos da Língua Brasileira de Sinais (Libras) utilizam o sinal 'que/quem', extraído de dois córpus principais: Corpus Libras (UFSC) e Minicórpus compilado por pesquisadores do Grupo SignL da UNESP. Os usos desse sinal incluem sua categorização como pronome interrogativo, como previsto nos dicionários Lira e Souza (2011) e Capovilla et al. (2017), mas também observamos, nos dados, que pode ser associado a contextos envolvendo pares pergunta-resposta: pergunta plena (formulada pelo sinalizante e respondida por outro sinalizante), pergunta semirretórica (formulada e respondida pelo próprio sinalizante) e pergunta retórica (formulada para não ser respondida), além de poder ser usado como complementizador em contextos de orações subordinadas. Nossa pesquisa tem como objetivo mostrar que os diferentes usos do sinal 'que/quem' podem refletir um processo de gramaticalização (Heine, 2003 apud Rodrigues, 2022), que parece ter levado à emergência de complementizador a partir de pronome interrogativo. Os autores Pfau e Steinbach (2011) e Rodrigues (2022) afirmam que os estudos sobre gramaticalização em línguas de sinais, embora profícuos e pertinentes, apresentam desafios metodológicos, já que não dispomos de robusto conjunto de evidências diacrônicas. Partimos de um conjunto de 46 videossinalizados extraídos do Corpus Libras (UFSC) e do Minicórpus compilado por pesquisadores do Grupo SignL da Unesp. Demonstramos que, nesses vídeos, todos anotados no programa ELAN (HELLWIG, 2020), os sinalizantes surdos utilizam o sinal 'que/quem' associado a pares pergunta-resposta como estratégia de pergunta semirretórica. Nossas ocorrências somam 131 usos do sinal nos bancos de dados, que foram operacionalizadas através do software Microsoft Excel. Os resultados obtidos foram divididos em quatro grupos de análise: (i) os contextos sintáticos de uso do sinal 'que/quem', em que as ocorrências apresentam os contextos sintáticos dos pares pergunta-resposta e orações subordinadas adjetiva (restritiva e explicativa) e substantiva (subjetiva, objetiva, completiva nominal, predicativa do sujeito); (ii) estatuto categorial do sinal, em que observamos os usos do sinal 'que/quem', apresentando suas formas morfológicas do seu processo de gramaticalização da categoria gramatical: pronome interrogativo, pronome indefinido e conjunção subordinativa; (iii) marcações não manuais associadas ao sinal, em que demonstramos a frequência do uso do movimento de cabeça e sobrancelhas associado aos sinal 'que/quem'; e (iv) gramaticalização do sinal, em que apresentamos as informações das descrições fonológicas com usos do sinal – fazemos aí um compilado que demonstra os sinais 'que/quem' em sua própria categoria gramatical com sua propriedade. Para isso, seguimos Hopper e Traugott (2003), considerando um arranjo de formas analisadas como menos e mais gramaticalizadas: pronome interrogativo > pronome indefinido > subordinação. Identificamos, ainda, os usos do sinal da mesma configuração de mão 'que/quem', com seu movimento diferente, que se refere a não ser particular nem restrito a quantidades com identificações; as outras ocorrências analisadas podem ser do seu contexto sintático da oração subordinada adverbial, mas foram pouco encontradas para observar o seu processo de gramaticalização. |