Um olhar dialógico para a polêmica na imprensa: os sentidos de 'maconha' nas capas de revista

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Silva, Carolina Gonçalves da [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/151035
Resumo: O objetivo desta investigação é compreender, a partir de uma perspectiva bakhtiniana, a produção do discurso polêmico na esfera jornalística. Mais especificamente, observaram-se os sentidos em circulação na polêmica da maconha, tal como ela se manifesta no gênero discursivo capa de revista. O corpus é constituído por seis capas de publicações semanais brasileiras (Veja, Carta Capital, Isto É e Época), veiculadas entre 2012 e 2016. A análise desse material foi baseada no aporte teórico-metodológico do chamado Círculo de Bakhtin, Medviédev e Volochínov, que propõe uma abordagem dialógica do discurso. As reflexões se organizaram, principalmente, em torno dos conceitos de dialogia, signo ideológico, enunciado concreto, gênero discursivo, esfera de atividade humana e polêmica. Tal interpretação dialógica do discurso consiste em entender a linguagem enquanto produto da interação entre sujeitos históricos e socialmente organizados. Esse ponto de vista permitiu compreender o diálogo sobre a maconha na imprensa para além da polêmica aberta, geralmente reduzida a oposições como proibir/legalizar. A partir dessa perspectiva, verificou-se a existência de uma disputa velada pela legitimidade de enunciar sentidos para o signo “maconha” - em sua relação indissociável com outros signos, como “legalização”, “drogas” e “descriminalização”. As análises levaram, portanto, à identificação de um espaço de instabilidades na imprensa brasileira. Nesse campo, a polêmica insinuada se materializa sutilmente na articulação das dimensões verbal e visual dos enunciados e se faz presente, também, naquilo que não foi dito, mas que, ainda assim, os constitui. Tal recorrência da temática da maconha no gênero discursivo capa de revista - capaz de produzir relevâncias e debates públicos -, é entendida como indício de transformações sociais e conflitos ideológicos reais, em pleno e constante desdobramento. Esses embates colocam em jogo, além da significação da palavra (cristalizada na língua e no senso comum), avaliações socialmente compartilhadas sobre determinadas práticas e políticas históricas, bem como as imagens de sujeito, que também são produzidas e ressignificadas pelo/no discurso sobre a droga. Foi possível, ainda, notar como as estabilidades relativas do gênero discursivo e os valores constitutivos da esfera jornalística afetam a forma de refração dos acontecimentos, a construção das enunciações e a produção de realidades postas em circulação pela mídia. Finalmente, esta pesquisa buscou analisar a polêmica enquanto acontecimento discursivo, fenômeno histórico e social, como reflexo/refração de embates políticos, econômicos e ideológicos reais, produzidos na constante interação dialética entre infra e superestruturas. Espera-se, assim, que o trabalho contribua para apontar outras leituras possíveis do discurso polêmico, para além das dicotomias e discórdias declaradas.