Os estereótipos de papéis de gênero feminino nos retratos das influenciadoras digitais no Instagram e a arte de Cindy Sherman

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Siqueira, Ranyella Cristina de [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/191853
Resumo: Este trabalho teve o objetivo de identificar e analisar os estereótipos de papéis de gênero feminino presentes nos retratos divulgados nos perfis do Instagram de influenciadoras digitais brasileiras, com recorte para os que ganharam o Prêmio Influenciadores Digitais em 2018 na categoria beleza. Trata-se de uma pesquisa de natureza exploratória e interpretativa. O caminho metodológico foi traçado com base na análise de conteúdo da Bardin e da pesquisa de Shinoda. O campo teórico foi se constituindo a partir das categorias empíricas em uma perspectiva transdisciplinar composta pela arte, filosofia das mídias, sociologia, psicologia e Teoria Crítica. Esta pesquisa foi inspirada na arte de Cindy Sherman em sua crítica aos padrões femininos das mídias nas décadas de 1940, 50 e 60. Optamos por usar a arte de Sherman de uma forma pouco habitual na ciência, sendo tomada como parte da fundamentação teórica. Ressaltamos que o lugar discursivo de sua arte é a intenção de decifrar o que subjaz às imagens estereotipadas, ao passo que nos retratos das influenciadoras nota-se o intento de recorrer aos estereótipos de papeis de gênero feminino para fins mercadológicos. Os resultados sugerem que alguns estereótipos destacados nos trabalhos de Sherman ainda estão presentes nas imagens das influenciadoras digitais: mulher branca, magra, de cabelo liso ou ondulado, elegante, maquiada, romântica, sensual, com curvas exuberantes em evidência, preocupada com atratividade física. Sherman usava a maquiagem, a vestimenta e os acessórios como meio de autotransformação em diversas imagens de mulheres. Porém, nos retratos das influenciadoras digitais não se evoca mais os estereótipos de mulher do lar, ingênua, emotiva, vulnerável, desamparada e louca. Ao invés disto, destacam-se os estereótipos de mulher bem-sucedida, independente em relação ao homem no aspecto financeiro e de proteção. Ressaltam-se também os estereótipos de mulher autônoma, consumista, turista, pueril, feliz, sociável, rica e amada. Contudo, subjaz a imagem de uma mulher dependente da admiração de seus companheiros (as) e de sua rede de seguidores. Nesse sentido, uma mulher narcisicamente frágil. A maquiagem é usada como recurso de padronização de beleza para conferir efeito de um rosto ovalado, lábios e sobrancelhas espessos e bem delineados, nariz fino, olhos expressivos e demarcados. Um destaque nesse estudo foi o estereótipo da mulher turista que ainda não tinha sido descrito na literatura científica. O turismo, juntamente com a maquiagem, as vestimentas elegantes e os acessórios luxuosos são artefatos que servem para a exibição de um consumo constante atrelado à publicidade sutil, em formato de sugestão de produtos ou serviços. Os retratos utilizam estereótipos para fortalecer a popularidade do perfil, ao mesmo tempo que propagam um estilo de vida idealizado, alicerçado em uma suposta felicidade plena, conectada ao consumo de determinados bens e serviços. Um ideal hedonista de riqueza e de glamour que destaca o lazer, o culto ao corpo, as viagens e o entretenimento em uma associação ao cotidiano exibido pelas celebridades. Cabe considerar que tais estereótipos ao ressaltarem um ideal de vida luxuoso simultaneamente ocultam ou desvalorizam o papel de mulher trabalhadora ou da mulher que não tem acesso a esses bens. Concluímos que os retratos atuais recorreram aos diversos estereótipos padronizados de papel de gênero feminino e, concomitantemente, revelam deslocamentos da heterossexualidade compulsória e do casamento como desígnio de vida da mulher para uma mulher mais autônoma, que pode ficar bem solteira ou que pode escolher uma parceria homossexual. Contudo, embora os retratos das influenciadoras denotem deslocamentos das noções naturalizadas de gênero feminino, ainda estão ancorados em ilusões mercadológicas que uniformizam o corpo da mulher na tentativa de padronizar sonhos e comportamentos de consumo que não refletem as conquistas feministas.