A fala de influenciadores transgênero da mídia social brasileira: relação entre aspectos perceptivos e acústicos da voz e da prosódia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Bafum, Eryne Alves
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11449/255044
Resumo: Introdução: Este estudo explora a crescente influência de sujeitos transgênero nas mídias sociais, especialmente no Brasil, destacando o papel dos influenciadores transgênero no Instagram na representação da comunidade trans e na promoção de discussões sobre gênero e identidade. Abordam-se a heteronormatividade na sociedade e os desafios dos movimentos sociais, como o LGBTQIA+, em relação às normas tradicionais de gênero. O conceito de transgênero é discutível, destacando-se a experiência de sujeitos cuja identidade de gênero difere do sexo biológico. A pesquisa foca na análise da percepção de ouvintes na fala de influenciadores transgênero, considerando parâmetros vocais e prosódicos. Objetivo: Investigar a relação entre a percepção e a produção de aspectos vocais e prosódicos na fala de sujeitos transgênero influenciadores da mídia social brasileira. Método: A pesquisa consistiu na seleção de 12 vídeos do Instagram, postados entre janeiro e fevereiro de 2023, por 10 sujeitos transgêneros, 5 homens trans (HT), 5 mulheres trans (MT), e por 2 sujeitos cisgêneros, sendo um homem cis (HC) e uma mulher cis (MC). Os critérios de seleção desses vídeos basearam-se em temas específicos ("Visibilidade Trans" e "Retificação de nome e gênero"), popularidade pelo número de visualizações e idade dos participantes (18-40 anos). Todos os sujeitos atenderam a esses critérios, incluindo HC e MC. Após a seleção, os vídeos foram convertidos para áudio, para evitar influências visuais. Os áudios foram utilizados para a realização das avaliações perceptivo-auditivas, sendo, inicialmente, apresentados para juízas leigas, que avaliaram como percebiam o gênero do falante; depois, para juízas especialistas, que identificaram fronteiras prosódicas e proeminências usadas para fins expressivos. Os dados apontados pela avaliação perceptivo-auditiva foram analisados utilizando o software PRAAT. Mensurou-se a frequência fundamental (f0), a variação de f0, a produção de pausas como parâmetros indicativos de fronteiras prosódicas e, ainda, a variação de f0 e de intensidade para a marcação de proeminências. Resultados: Em relação à identificação do gênero do falante pelo julgamento da voz, a análise perceptivo-auditiva mostrou que 60% das vozes de HT foram julgadas como masculina e 80% das vozes de MT, como feminina, mostrando uma tendência de as vozes dos sujeitos trans serem identificadas conforme o gênero declarado. Em contrapartida, na análise acústica, a média de f0 do grupo HT mostrou estar na faixa de frequência esperada para gênero masculino cisgênero, ainda que o percentual de identificação do gênero conforme o gênero declarado tenha sido menor do que no grupo MT. Para este grupo, as vozes apresentaram valor de f0 mais baixo em relação à MC e se enquadraram na faixa de frequência considerada neutra. Em relação às fronteiras prosódicas, a análise perceptivo-auditiva mostrou que HT apresentou maior índice de fronteiras prosódicas percebidas que HC, enquanto o grupo MT apresentou índice similar de fronteiras comparado à MC. Por sua vez, a análise acústica das fronteiras mostrou que a variação de f0, considerando os valores máximo e mínimo, usada pelo grupo HT, foi, em geral, maior do que a utilizada pelo HC na marcação de fronteiras, enquanto no grupo MT observou-se variação de f0 mais baixa em comparação com MC. Esses dados sugerem que, no grupo HT, eventos tonais de fronteira seriam marcados de forma mais aguda em relação a HC e, na direção oposta, no grupo MT, seriam marcados de forma mais grave em relação à MC; mostrou também que as pausas não ocorreram em todas as fronteiras percebidas na fala de todos os sujeitos com duração variável. Em relação às proeminências, os grupos HT e MT apresentaram índices de proeminências percebidas menores que HC e MC, respectivamente, as quais foram marcadas acusticamente por diferença nos valores de f0 mínima e máxima de, ao menos, 30 Hz. No grupo de HT, a diferença entre mínimo e máximo de f0 foi menor quando comparada ao HC, sugerindo um estilo de fala menos marcado. Já o grupo MT apresentou comportamento diferente de variação de f0 para a marcação de proeminência com valor mais baixo que a variação de f0 observada em MC. Em conjunto, esses resultados sugerem que os sujeitos trans marcam proeminências de forma mais contida, distanciando o seu estilo de fala de um estilo marcado por exageros. Conclusão: Observou-se que a fala dos sujeitos trans, seja por sua expressão vocal, seja por suas características prosódicas, não é percebida exclusivamente por meio da recuperação de padrões acústicos. Na comparação dos parâmetros acústicos mensurados na fala de sujeitos trans e cis, observou-se que a fala de sujeitos trans é dialeticamente constituída, pois existem pontos de aproximação e distanciamento entre a caracterização de aspectos vocais e prosódicos da fala deles e a caracterização desses aspectos na fala do gênero declarado.