Percepções de professores do ensino médio: as forças coercitivas no ambiente escolar e a relação com o mal-estar docente

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Pereira, Juliana Martins [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/152210
Resumo: Compreendemos que a escola é constituída por indivíduos (crianças, jovens, adultos) que exercem diferentes papéis interdependentes (professor, aluno, funcionário, gestor, pais etc), ou seja, suas ações influenciam e são influenciadas pelos outros a todo o momento. Sendo assim, pontuamos inicialmente a hipótese de que professores imersos numa teia de interdependências não têm a devida clareza sobre as relações de poder. Ou melhor, o professor se sente coagido pelas normas e regras de funcionamento da escola e não percebe que também exerce força coercitiva em relação ao outro favorecendo, consequentemente, práticas tradicionais escolares que impulsionam o desenvolvimento do mal-estar docente. Nesse sentido, objetivou-se na presente pesquisa analisar a ―coerção da instituição escolar que ocorre em diferentes direções, entre governo do estado, equipe escolar, alunos e comunidade e as percepções de professores que lecionam no Ensino Médio sobre a violência que permeia esse contexto. Compreender como lidam com essa questão e quais as consequências para sua vida profissional e pessoal. Para isso, estabelecemos como participantes um grupo de professores da área de linguagens e códigos estabelecida pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC) – Português, Inglês, Arte e Educação Física. Caracteriza-se como um estudo de natureza qualitativa, cuja abordagem é a História do Tempo Presente. Após os procedimentos requisitados pelo Comitê de Ética em Pesquisa ao qual o projeto foi submetido, realizamos reuniões com os professores das referidas disciplinas em três Unidades Escolares pertencentes à região centro-oeste paulista, totalizando quinze participantes (três professores de Educação Física, dois de Arte, três de Inglês e sete de Português). A técnica para a coleta dos dados – entrevista em grupo ou grupo focal – consistiu na gravação das reuniões, que foram filmadas e posteriormente transcritas, textualizadas e analisadas à luz da literatura sobre o tema. Os referenciais teóricos adotados para a discussão dos dados foram o sociólogo Norbert Elias e, complementarmente o psicanalista Sigmund Freud. Como conclusões podemos destacar: a dicotomia indivíduo/sociedade evidenciada pelos professores; a dificuldade em se reconhecerem como corresponsáveis pelo difícil quadro da educação pública na atualidade; a mudança no equilíbrio de poder nas relações escolares motivada, entre outros fatores, pelas políticas de democratização da educação pública, bem como pelos esforços de inclusão na educação formal de crianças e adolescentes de segmentos sociais antes ignorados; o estranhamento demonstrado pelos professores em relação ao comportamento de seus alunos e o ―desejo de que se enquadrem naquilo que acreditam ser o comportamento correto. Alguns professores mostraram-se resistentes quanto à utilização das inovações tecnológicas no processo de ensino e aprendizagem. Além disso, as mudanças na legislação educacional e a sensação de estarem perdendo o controle sobre seu trabalho, especialmente em virtude de avaliações externas e da progressão continuada tem afetado sobremaneira sua identidade profissional, especialmente entre os professores de português. Evidenciou-se, ainda, a fragilidade na formação de professores; as queixas sobre a pouca participação dos pais na educação dos filhos, a sobrecarga e más condições de trabalho e, em relação aos fatores que os levaram à docência, observamos que, na maioria dos casos foram motivados pelo ―acaso ou pela conveniência. Já no que se refere à violência explícita, os professores presenciam agressões na escola, mas foram poucos que declararam terem tido problemas graves. Como consequência, oito professores apresentaram sintomas claros do desenvolvimento do mal-estar docente, sendo que o mais citado foi a depressão. Acreditamos que, no atual contexto educacional, o mal-estar docente parece ―inevitável. Mesmo que não esteja presente em toda a carreira do professor, o desinvestimento, a interiorização e a despersonalização, que leva à diminuição do envolvimento afetivo, são características da última fase da carreira docente e tem se manifestado até mesmo em professores mais novos. Enfim, apenas no momento em que os professores ―tomarem consciência de que a sociedade não é ―lá fora poderemos começar a pensar em alternativas para que o contexto escolar se torne um ambiente menos insalubre para todos aqueles que nele interagem.