Caracterização estrutural e de biodiversidade de árvores e aves em florestas da Cuesta de Botucatu: existe relação entre estoque de carbono e biodiversidade?

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Lozano Sivisaca, Deicy Carolina [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/193335
Resumo: A Mata Atlântica é um bioma florestal tropical que abrange o leste, sudeste e sul do Brasil. Esse bioma é considerado um hotspot para conservação por apresentar alta biodiversidade, endemismo e mais de 70% de sua cobertura original destruída. Ele é composto, parcialmente, por fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual, alvos do corte seletivo e incêndios, além de sofrer com reflexos das atividades agrícolas, industriais e urbanas. Esses fragmentos florestais ocorrem em ambientes distintos de relevo, clima e solo, além de sofrer processos de perturbação antrópica cuja influência sobre a estrutura, composição e armazenamento de carbono é diferenciada e ainda pouco compreendida. Assim, entender a relação entre a biodiversidade e o armazenamento de carbono na Floresta Estacional Semidecidual é essencial para planejar sua conservação e uso sustentável. Nessa pesquisa, nós estudamos sete fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual, localizados na cuesta de Botucatu, com diferentes históricos de perturbação antrópica, para compreender a influência dos fatores ambientais sobre sua diversidade, estrutura e composição florística, e também a relação entre o armazenamento de carbono, a diversidade e a estrutura da floresta. Os sete fragmentos de floresta estudados receberam as denominações Bixiguento, Três Barras, Pomar Velho, Carmelucho, Mata da Bica, Mata do IB, Lageado e estão localizados nas Fazendas Experimentais Edgardia e Lageado, da UNESP, no município de Botucatu, região centro-sul do estado de São Paulo. Para a coleta de dados dendrométricos e florísticos nos sete fragmentos, nós alocamos 18 parcelas permanentes de 0,2 ha (20 m x 100 m) subdivididas em 10 subparcelas de 200 m2. Em cada subparcela nós identificamos, medimos o diâmetro e estimamos a altura de todas as árvores a partir de 5 cm de DAP. Em busca dos fatores que poderiam influenciar a floresta estudada, coletamos dados de i) solo: pH, MO, CTC, V%, SB, macronutrientes e micronutrientes; e ii) dados topográficos. As amostras de solo foram coletadas na profundidade de 0 - 20 cm em cada parcela, totalizando 90 amostras compostas. No capítulo 1 comparamos os sete fragmentos agrupados pelo histórico de perturbação e analisamos sua composição, diversidade e estrutura, buscando explicar as diferenças com base nos fatores ambientais. No total, identificamos 4.265 indivíduos, distribuídos em 44 famílias botânicas e 178 espécies. Verificamos que a riqueza de espécies e a estrutura se recuperaram rapidamente (~ 20 anos) o que destaca o potencial dessas florestas secundárias para a conservação da biodiversidade em paisagens tropicais modificadas por perturbações antrópicas. Porém, a composição florística leva mais tempo (> 40 anos) para se recuperar, como evidenciado na análise de similaridade/dissimilaridade e espécies indicadoras nas áreas florestais avaliadas. Além disso, verificamos que a composição florística da floresta é influenciada em 40% pelas características edáficas, especialmente pela soma de bases, saturação por bases, Mg, Ca, CTC e Al. No capítulo 2 exploramos a diversidade e estrutura das comunidades de avifauna nos fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual, segundo o mosaico vegetacional. Nós registramos 133 espécies e 35 famílias de aves, o que representa aproximadamente 17% das espécies já registradas no estado de São Paulo. Verificamos que não houve diferença significativa na riqueza de espécies entre as áreas amostradas, mas sim na composição de espécies. Os fragmentos Bixiguento, Mata do IB, Mata da Bica, Carmelucho apresentaram composição de espécies distinta das demais áreas e maior riqueza de aves de hábitos especialistas, de alta e média sensibilidade e floresta-dependentes. Verificamos que as categorias tróficas insetívoros, frugívoros e onívoros foram as guildas com maior frequência de ocorrência em todos os fragmentos florestais, as quais são especialistas que indicam áreas em bom estado de conservação. No capítulo 3 buscamos a compreensão da relação entre a diversidade de flora e avifauna e o estoque de carbono nos fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual. Nos fragmentos florestais os estoques médios (± erro padrão) de biomassa e carbono foram estimados em 196,41 ± 9,06 Mg ha-1 e 98,21 ± 4,53 Mg C ha-1, respectivamente. Verificamos que existe diferença no estoque de carbono entre os fragmentos florestais, sendo maior nas florestas mais conservadas, com baixo nível de perturbação antrópica. Já nas florestas em processo de regeneração natural, como Três Barras, a correlação foi negativa. Em geral, não encontramos uma evidência clara na correlação carbono-vegetação e carbono-avifauna nos fragmentos florestais avaliados. Apesar da ausência de uma relação forte entre carbono-diversidade, em especial nas áreas em processo de recuperação, algumas áreas florestais certamente combinam alta diversidade de árvores e carbono, indicando que a conservação de carbono e biodiversidade podem ser alcançadas simultaneamente. Estratégias de conservação precisam considerar a biodiversidade de táxons relacionados aos estoques de carbono que não sejam árvores, como as aves. Contudo, nossos resultados mostram que esses processos não se traduzem em padrões em escalas que são importantes para a conservação: a diversidade e o carbono das árvores variam independentemente entre as áreas e ecossistemas florestais. A associação entre diversidade e carbono, estudada nessa pesquisa, evidencia que as florestas estacionais semideciduais no Brasil não estão apenas entre as mais diversas nos trópicos, mas também entre as mais densas em carbono, constituindo potenciais reservatórios de biodiversidade e estoques de carbono, que podem ser aproveitadas para obter pagamento por serviços ambientais, como, Crédito Sustentável de Floresta.