Apfelstrudel da boneca: a filologia plástica de Hans Bellmer

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Silva, Lucas Henrique da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11449/251794
Resumo: Hans Bellmer (1902-1975), artista plástico criador de Die Puppe (1934 e 1944), acreditava que a sua boneca era como um anagrama em plástico. A Boneca de Bellmer recombinava imagens da história da expressão em um corpo móvel, tal como o anagrama faz com as letras de uma palavra, a (re)criar sentenças. A mobilidade desse objeto, porém, está na sua capacidade de ativar as imagens do corpo, isto é, os reflexos do discurso sobre o corpo, a ideia de corpo construída pelas criações humanas. A Boneca é um objeto-móvel, o que comparamos na presente tese com o Apfelstrudel, pois ela reúne as imagens em um só objeto como se composta de camadas simultâneas. Bellmer apresenta um objeto plástico cuja realidade é, antes, linguística. Por isso, recorremos à filologia (Philologie) do romantismo alemão (Schlegel, Novalis, Kleist). No romantismo alemão, filologia se revela como a interpretação autoconsciente, portanto irônica da linguagem (Willer, 2003). Para analisarmos essas questões, recorremos não somente à Boneca de Bellmer, isso é, o projeto Die Puppe, mas a outras obras do artista, tais como Petit anatomie de l'image (1957), Unica-Bound (1958) e até mesmo a ilustração de Kleist em Les Marionettes (1969). Tais obras estão relacionadas à Boneca enquanto um processo de estudo da linguagem, o que teria levado Bellmer à possibilidade de um objeto de camadas tal como a Boneca. Nosso recorte da obra de Bellmer tem quatro instâncias materiais: o texto verbal, como a palavra que se quer imagem; o desenho, como a marionete que se quer frase; o corpo orgânico, capturado pela fotografia, como o corpo que se quer objeto; e, por fim, o objeto dos objetos, que combina todas as expressões. Bellmer rasga os músculos do signo, a palavra imaterial, como se ele fosse um objeto físico, capaz de tal ginástica. Ele sobrecarrega o corpo de vocabulários (imagético, verbal, objetal). Da mesma forma, ele leva o corpo material à mesa de autópsia, como em Unica-Bound (1958), em busca da destruição de sua forma, sempre pela ironia, isso é, a recriar em seguida a mesma frase como uma outra. Verificamos essas questões a partir de um caminho analítico tendo como centro da espiral a obra Die Puppe (1934 e 1944), mas em torno de outras produções do artista, em busca de "traduzir" uma gramática interna da obra de Hans Bellmer. Nesse sentido, a filologia do romantismo alemão, com seus jogos sobre a linguagem (sobretudo em F. Schlegel, Novalis e Kleist), apresenta-se não como uma teoria à qual Bellmer estaria vinculado, mas como um método de interpretação desse jogo plástico/verbal, imagético/frasal do surrealista. Observamos como as camadas da Boneca, elaboradas como em uma receita, reavivam ainda a metáfora de Claudio Willer (2019) sobre a realidade como um Apfelstrudel. A tese visa contribuir às letras e artes visuais e para a divulgação desse artista desconhecido que contribuiu imensamente para a sobrevida do surrealismo.