Língua, literatura e geografia: uma experiência de leitura da Geografia de Dona Benta de Monteiro Lobato e do Le tour de la France par deux enfants de G. Bruno

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Gracioli, Filipe Rafael [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/155981
Resumo: O texto que apresentamos propõe estabelecer comparativos entre dois livros de literatura infantil de destaque aos seus tempos a partir da perspectiva da análise da construção narrativa e do entendimento da visão de mundo de seus autores com base no conhecimento de geografia que expressam: a Geografia de Dona Benta, de Monteiro Lobato, publicada em 1935 e o Le tour de la France par deux enfants: devoir et patrie, publicado em 1877 por G. Bruno, ambos inseridos em contextos de solidificação dos nacionalismos patrióticos. A hipótese de pesquisa reside na ideia de que Monteiro Lobato teve acesso à narrativa francesa em destaque, em vista das semelhanças de enredo entre os dois textos, além das similitudes entre os conteúdos de referência, objetivos, pretensões e visões de mundo dos autores, sem contar os distanciamentos entre as propostas narrativas. Dentre as semelhanças destacamos o fio ideológico que une os dois textos – o positivismo lógico bem como a busca pela construção de uma nação fundada no patriotismo a partir da exploração do espaço geográfico; já entre os distanciamentos podemos ressaltar a proposta de linguagem utilizada por cada texto na composição de suas tramas, sendo uma calcada na artesanalidade e a outra na persecução do que podemos chamar de uso convencional da língua. Para além da identificação das similitudes entre as narrativas, as diferenças entre os textos apresentaram-se também como propósito investigativo, reforçando a noção de espírito de época na discussão das temáticas pelos autores, que entendemos justificar tais aproximações e distanciamentos. A escolha pela análise de dois livros escritos em narrativa assenta-se na perspectiva do contar das experiências de leituras. Como propõe Walter Benjamin, a narrativa tem a especificidade da linguagem própria daqueles que viajam, que saem de seu mundo para viverem outros mundos, expressão própria dos que mais se habilitam na tarefa de vivenciar e contar experiências a outrem, com o objetivo de aconselhar, tal como fizeram os autores eleitos para o estudo. No entendimento de que os textos literários contatados expressam as visões de mundo de seus autores, buscamos neles por um sentido que revele a possibilidade de compreensão das realidades geográficas de seus tempos a partir das perspectivas de geografia vigentes às épocas de sua elaboração. Sendo assim, responderemos às questões que indagam, entre outras: que visões de geografia os autores eleitos expressaram à época da escrita de cada texto? A língua estabelece poderes para a formação do conhecimento de geografia neles veiculado? No bojo das investigações, podemos considerar que a literatura infantil de caráter geográfico desenvolvida por Monteiro Lobato tenha, sem contar a narrativa francesa trabalhada, raízes em outras escritas da literatura ocidental que inauguram para o nicho da literatura infantil no Brasil o tema da itinerância geográfica de personagens na busca pelo conhecimento. Na persecução das origens da literatura infantil de caráter geográfico de Monteiro Lobato propomos este estudo, considerando que a sua produção foi um marco ontológico para o gênero no Brasil.