Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2024 |
Autor(a) principal: |
Lima, Fernanda Leitão de Castro Nunes de [UNESP] |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://hdl.handle.net/11449/259726
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Resumo: |
A prosódia pode ser entendida fonologicamente como o conjunto de conceitos e parâmetros responsáveis por caracterizar o ritmo e a melodia das línguas a fim de especificar os elementos que constituem a fala junto aos segmentos. Nessa perspectiva, a prosódia é parte integrante do sistema fonológico de uma língua e atua como estrutura organizadora da fala. Por essa razão, no funcionamento da linguagem, a prosódia desempenha importantes e diferentes funções linguísticas. A marcação de força ilocucionária, a organização de turnos conversacionais e a marcação de proeminência são funções prosódicas que desempenham papeis específicos e relevantes na dimensão pragmática da linguagem para o estabelecimento do diálogo em situações comunicativas. Apesar de sua relevância, a literatura fonoaudiológica carece de estudos que permitam descrever como crianças percebem e produzem enunciados de fala no que diz respeito aos padrões prosódicos com base em critérios de natureza linguística, fato que dificulta o que pode ser considerado no contexto clínico um desenvolvimento típico e atípico. Especialmente, no âmbito da avaliação fonológica da fala da criança, a prosódia não é considerada nos protocolos clínicos, motivo que, partindo do pressuposto teórico de que prosódia constitui a fonologia de uma língua, questiona-se neste trabalho a necessidade de inclusão da prosódia nos processos avaliativos e terapêuticos. Neste contexto investigativo, este estudo teve como objetivo principal investigar o desempenho prosódico de crianças com transtorno fonológico (TF) em duas situações pragmáticas de produção de fala, a saber: uma situação experimental e uma situação realística. Especificamente, esse desempenho foi analisado considerando três funções primordiais para a interação comunicativa: a marcação de força ilocucionária, de turnos conversacionais e de foco prosódico. Considerando a desorganização fonológica que crianças com TF apresentam no plano segmental, hipotetizou- se que essa desorganização afetaria também o plano prosódico e, assim, que crianças com TF apresentariam desempenho prosódico inferior em relação a crianças em Desenvolvimento típico de linguagem (DTL). Hipotetizou-se ainda que a situação pragmática afetaria a qualidade da produção de fala das crianças no que tange às funções prosódicas, já que a situação realística devido à sua maior naturalidade em termos de interação comunicativa poderia dificultar o desempenho das crianças, que estão concomitantemente em processo de aquisição mais amplo de linguagem, inclusive dos usos pragmáticos da sua língua. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa sob no 59717122.7.0000.5406 e dela participaram 16 crianças com DTL e 16 crianças com TF, com faixa etária entre 4 e 9 anos de idade. Foram desenvolvidos dois experimentos de produção de fala que se diferenciaram por serem conduzidos em situações pragmáticas distintas: uma experimental e uma realística. Cada experimento apresentou características próprias e foi aplicado em ambos os grupos de crianças. Um julgamento perceptivo-auditivo para avaliar a marcação das funções prosódicas investigadas na fala das crianças foi realizado por três juízes experientes em aspectos prosódicos do Português Brasileiro. A avaliação foi realizada individualmente por cada juiz sem identificação dos sujeitos, dos grupos e da situação pragmática na qual as amostras de fala foram produzidas. No procedimento, os juízes ouviram os áudios correspondentes de cada função prosódica em julgamento e as avaliaram a partir de uma escala numérica, de acordo com a qual 0 indicava não realização do padrão prosódico, 1 indicava realização parcial do padrão prosódico, ou seja, nuances de realização, porém com diferença em relação ao padrão alvo, e 2 indicava realização do padrão prosódico. A partir das notas do julgamento de cada juiz, foi calculada a média da pontuação geral obtida pelos participantes em cada situação pragmática bem como a média da pontuação na marcação das diferentes funções. Os dados receberam tratamento descritivo e inferencial. Foram realizados dois testes ANOVA. O primeiro indicou efeito estatisticamente significante para grupo (F (1,30) = 7,620; p = 0,01) e para situação pragmática (F (1,30) = 7,823; p = 0,009). O segundo, realizado para a análise das diferentes funções prosódicas, indicou efeito estatisticamente significante para grupo (F (1,30) = 0,214; p = 0,005) e para função prosódica (F (3,90) = 14,864; p = 0,000). Os resultados permitem concluir que crianças com TF apresentam desempenho prosódico inferior às crianças em DTL, sugerindo, assim, que a desorganização fonológica que caracteriza o TF afeta também o plano prosódico do sistema fonológico dessas crianças. Conclui-se também que o desempenho das crianças foi pior na situação pragmática realística, indicando que, comunicativamente, situações de produção de fala mais espontâneas envolvem aspectos mais complexos do funcionamento da linguagem, refletindo, assim, a performance prosódica das crianças. No que tange às funções prosódicas, o desempenho das crianças com TF foi inferior aos seus pares típicos em todas as funções prosódicas, no entanto, destaca-se qualitativamente a maior diferença de desempenho das crianças com TF na marcação de força ilocucionária em enunciados interrogativos. Esses achados reforçam a importância de considerar aspectos prosódicos na avaliação e na intervenção clínica, ampliando o entendimento sobre a comunicação infantil. |